Título: Petrobras em queda livre
Autor: Hessel, Rosana; Batista, Vera
Fonte: Correio Braziliense, 31/08/2010, Economia, p. 14

As indefinições em torno do processo de capitalização da Petrobras derrubaram mais uma vez as ações da estatal na bolsa de valores. Ontem, os papéis preferenciais (sem o direito a voto) da companhia despencaram 4,18%, acumulando no ano desvalorização de 29,10%. As ações ordinárias (com direito a voto) recuaram 3,17%, somando 28,65% de queda desde janeiro. O novo tombo nos papéis foi causado por mais um dia sem decisão por parte do governo.Os ministros da Fazenda, Guido Mantega, e de Minas e Energia, Márcio Zimmermann, evitaram o assunto e informaramque o preço do barril do pré-sal que será utilizado como referência no aumento de capital da empresa não foi fixado.

No processo, conhecido como cessão onerosa, a União cederá à Petrobras cerca de 5 milhões de barris de petróleo da reserva de Franco,emSantos (SP). Essa operação permitirá ao governo ampliar sua participação no controle da estatal, uma vez que terá o direito de receber pela commodity ações da companhia durante o processo de capitalização.Mantega limitou-se a dizer aos jornalistas que, quando o preço for fixado, haverá um fato (comunicado) relevante ao mercado.

Zimmermann sinalizou a possibilidade, ainda vaga, de uma decisão amanhã, quando há uma expectativa de que os estudos sobre as avaliações preliminares sejam concluídos.

Convocação Para chegar a um denominador comum, o governo confronta os dados apresentados por duas consultorias contratadas,umapela Agência Nacional do Petróleo (ANP) e outra pela Petrobras.Oresultado será levado aoComitêNacional de Política Energética (CNPE), um órgão interministerial que tem como função assessorar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em decisões estratégicas.

Na dúvida se haverá decisão ou não,Zimmermannconvocouuma reunião do comitê para amanhã.

Como havia necessidade antes, fizemos a convocação preventiva para quarta-feira, afirmou.

O ministro descartou a possibilidade de contratar uma terceira consultoria para fazer um relatório conclusivo sobre o preço do barril de petróleo. Estima-se que a contratada da Petrobras tenha estipulado um preço de US$ 5 a US$ 6, enquanto a consultoria escolhida pela ANP, de US$ 10 a US$ 12. Quanto maior valor do barril, melhor para o governo, que receberá mais da Petrobras e, portanto, terámais dinheiro para ampliar sua fatia no bolo no processo de capitalização. Já os minoritários torcem pelo menor valor, pois pagariam menos para manter o mesmo percentual de participação acionária atual.

Queda do Ibovespa Índice mais negociado na Bolsa de Valores de São Paulo, o Ibovespa fechou ontem com queda de 2,02%, em 64.206 pontos. Começou a semana refletindo um mau humor generalizado pela ausência de informações sobre a economia mundial e pelas expectativas em torno da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que decidirá, amanhã, sobre um novo aumento na taxa básica de juros (Selic).