Título: Risco compensado
Autor: Danilo Fariello
Fonte: Valor Econômico, 18/04/2006, Eu &, p. D1

O participante da previdência privada aberta no Brasil dá pouca importância para a rentabilidade de seu investimento. Mais preocupados com os benefícios fiscais e os cálculos com relação à renda futura, os aplicadores podem estar perdendo dinheiro ao não dar a atenção devida aos ativos em que os recursos estão investidos. Estudo da consultoria Fortuna aponta que, nos últimos três anos, enquanto os fundos balanceados - que contêm ações - renderam 80%, as carteiras de previdência de renda fixa se valorizaram em 59%. Porém, a parcela de recursos nos planos mais conservadores ainda é de 93% do mercado. Nos últimos meses, o percentual aplicado em fundos balanceados até diminuiu, de 6,5% em junho de 2004 - dado mais antigo disponível - para atuais 4,4% do total dos PGBL, VGBL, Fapi e planos tradicionais.

É preciso ponderar, contudo, que no período em análise a bolsa de valores acumulou alta de 237% - o que impulsionou o retorno dos balanceados. Em outros momentos ou em prazos mais longos, a bolsa e esses fundos podem ter resultados bastante diferentes, diz Marcelo D'Agosto, sócio do Fortuna. Mas é bastante conhecida no mercado financeiro a máxima de que investimentos em renda variável tendem a apresentar melhor desempenho em períodos longos, característica natural das aplicações em previdência privada, diz.

Para Osvaldo do Nascimento, presidente da Associação Nacional da Previdência Privada (Anapp), a parcela de investidores em busca de aplicações mais agressivas tende a aumentar. Por enquanto, é muito confortável ficar na renda fixa sem correr riscos, mas com a queda maior do juro básico, o participante tenderá a buscar mais diversificação, diz. "No futuro, será mais natural ter parte em renda variável."

Há uma tendência de que o volume investido em produtos mais agressivos aumente e é perfeitamente plausível que o participante busque mais risco para incrementar a renda futura, avalia Marco Antonio Rossi, da Bradesco Vida e Previdência. Mas ele acha que esse potencial é limitado. "Mesmo que o juro caia muito, a esmagadora maioria do mercado de previdência tenderá a ser mais conservadora sempre." Ele cita como paralelo o setor de fundos de investimento que, por natureza, tem características que atraem mais os investidores agressivos. Hoje, também segundo o Fortuna, cerca de 70% dos recursos investidos em fundos estão em carteiras DI ou de renda fixa, produtos mais conservadores.

Diferentemente dos investidores de fundos mútuos, o perfil do público que aplica em previdência privada naturalmente tem características mais conservadoras, diz Rossi. Isso porque são aqueles que têm mais preocupação com a saúde financeira no futuro. Por isso, acabam tendendo a investir em ativos de menor risco.

Para Nascimento, mantém elevada a procura por renda fixa o fato de a população brasileira ser acostumada a aplicações conservadoras, como a caderneta de poupança. "Há um aspecto cultural que barra essa migração para a previdência mais agressiva."

Por esse motivo, acaba minguando também a oferta de produtos mais agressivos. Apesar de a Superintendência de Seguros Privados (Susep) permitir a criação de planos balanceados com até 49% do patrimônio investido em renda variável, a Bradesco, maior participante do mercado, oferece produtos com concentração de até 40% em ações. "Ninguém busca mais do que isso", justifica Rossi.

Os próprios bancos, que detêm o controle das seguradoras que mais recebem aportes em previdência, acabam contribuindo com a falta de atenção do participante à rentabilidade, acredita D'Agosto, do Fortuna. Para ele, falta especialização aos distribuidores em explicar as vantagens dos investimentos mais agressivos no longo prazo. "Na média, as seguradoras investem mais na divulgação dos benefícios fiscais do que na orientação para construção de um portfólio diversificado para aposentadoria."

Nascimento, que é também diretor da Itaú Vida e Previdência, reconhece que as seguradoras não dedicam esforços para levar o participante a produtos mais agressivos. "Não queremos forçar essa barreira cultural." Já Rossi, da Bradesco Previdência, diz que, em planos empresariais, são raríssimas as empresas que aceitam investir para os funcionários em ativos de risco. Isso faz com que mais recursos tenham como destino a renda fixa.

No primeiro trimestre, os planos de previdência captaram R$ 1,71 bilhão, segundo o Fortuna, 79,8% acima dos R$ 951 milhões no mesmo período de 2005. Apenas em março, foram R$ 692 milhões, 151,6% mais do que os R$ 275 milhões do mesmo mês do ano passado. Os fundos renda fixa ficaram com R$ 610 milhões da captação do mês. As instituições que mais receberam depósitos no ano, em ordem decrescente, foram Itaú, Bradesco, Caixa Econômica Federal, Unibanco e HSBC.