Título: Aplicadores demonstram maior apetite pelo risco
Autor: Luciana Monteiro
Fonte: Valor Econômico, 18/04/2006, Eu &, p. D2
Na tentativa de se antecipar a uma nova queda da taxa básica de juros (Selic), os investidores se voltam para aplicações que adotam estratégias um pouco mais arriscadas. O Comitê de Política Monetária (Copom) se reúne hoje e amanhã para definir o novo nível do juro básico, atualmente em 16,50% ao ano e a opinião dos analistas é de que o governo tem espaço para reduzir a Selic pela sétima vez consecutiva. Muitos investidores, sobretudo os grandes, já estão se antecipando e buscam o fundos mais arriscados.
No mês, as carteiras de renda fixa, que visam superar o CDI, e os multimercados estão entre as maiores captações no setor de fundos. Segundo dados do relatório semanal do site financeiro Fortuna, o ingresso de recursos em renda fixa é de R$ 642 milhões, até o dia 12. Já os multimercados registram entradas que somam R$ 631 milhões. As duas categorias só perdem, no mês, para os fundos curto prazo, com R$ 1,505 bilhão. Marcelo D'Agosto, do Fortuna, explica que essa captação nos curto prazo é pontual e decorrente da aplicação em um fundo do Banco do Brasil cujos recursos são repasses do governo para órgãos de administração pública.
O apetite por maior risco também pode ser observados nos números anuais. De acordo com o Fortuna, a captação dos renda fixa chega a R$ 12,831 bilhões e a dos multimercados a R$ 10,023 bilhões, no ano, até dia 12. As duas categorias registram de longe os maiores ingressos de recursos no setor. O segmento de atacado - que inclui aplicações de empresas, fundos de pensão e clientes private - continua puxando a captação, com ingresso líquido de R$ 27,755 bilhões. O varejo foi responsável por R$ 13,746 bilhões em novos investimentos. "O segmento de alta renda realmente está buscando fundos mais arriscados", afirma D'Agosto. Segundo ele, só na semana de 5 a 12 de abril, os clientes private investiram cerca de R$ 482 milhões em renda fixa e R$ 272 milhões em multimercados.
Ainda que os meses de março e alguns dias de abril tenham apresentado volatilidade, os renda fixa e os multimercados continuam atraindo recursos pelo retorno diferenciado, diz Odair Abate, estrategista-chefe do BankBoston. Ele conta que, com relação à renda fixa, o banco vem recomendando fundos com papéis prefixados. "Acreditamos na continuidade da queda da taxa de juros", diz. Quanto aos multimercados, a recomendação é feita para diversificação, dependendo da visão global do patrimônio do cliente e via fundos de fundos.
Mas, em termos de rentabilidade, abril realmente não tem sido dos melhores para as duas categorias. Até o dia 12, os renda fixa rendem 0,46%, abaixo da variação do CDI, de 0,48%. Os multimercados continuam sofrendo com volatilidade do mercado e registram ganhos de 0,38%.
Já os fundos de ações são os que apresentam maiores ganhos no ano, com 11,68%, em média. As carteiras de privatização, formadas por ações da Petrobras e Vale do Rio Doce, rendem 12,87%, no ano, até o dia 12. Os fundos compostos só por ações da petrolífera registram retorno médio no ano de 6%, enquanto as aplicações em Vale sobem 17%. Diante do sucesso das carteiras de privatização, Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil, Bradesco, Banco Real e Sudameris decidiram reabrir suas aplicações em fundos de recursos próprios. Com isso, as carteiras da categoria têm captação de R$ 521 milhões. Os fundos que receberam dinheiro do FGTS não aceitam novos aportes.
Os fundos DI, que seguem a trajetória da taxa básica de juros, registram ingresso de R$ 3,358 bilhões no ano, até dia 12. As carteiras da categoria registram, em média, ganhos de 4,37% no período, abaixo dos 4,54% do CDI. Os cambiais apresentam resgates de R$ 306 milhões e perdas médias de 6,59%, enquanto o dólar caiu 8,85%, até o dia 12.