Título: Cresce venda de sementes de milho mais produtivas
Autor: Cibelle Bouças
Fonte: Valor Econômico, 18/04/2006, Agronegócios, p. B11

A queda dos preços do milho nos últimos meses não desestimulou o crescimento das vendas de sementes de alto valor agregado no Brasil. Levantamento da Associação Paulista dos Produtores de Sementes e Mudas (APPS), entidade que representa as indústrias de milho do país, mostra que a adoção de sementes híbridas simples aumentou mais de 20 pontos percentuais desde 2000.

Nesse mercado, híbridos simples e sementes simples com melhoramento genético representaram 52,9% do total de sementes de milho ofertadas no país na safra de verão 2005/06. Em 2004/05, a participação foi de 43,8% . "A adoção de sementes de alta tecnologia é uma tendência inexorável, sobretudo nesse tipo de atividade, que é pouco rentável", afirma Cássio Camargo, secretário-executivo da APPS. Segundo ele, o produtor precisa adotar sementes de alta produtividade para garantir rentabilidade.

O segmento, hoje controlado por cerca de 30 empresas, é marcado por dezenas de lançamentos de híbridos simples por ano, que substituem variedades que deixam de circular. Atualmente há cerca de 300 variedades disponíveis. "A tendência é acontecer como nos EUA. Dentro de dez anos, todas as sementes vendidas serão híbridos simples", acredita Camargo.

Os híbridos simples são sementes obtidas a partir do cruzamento de linhagens endogâmicas (geneticamente puras, desenvolvidas por autofecundação). Os híbridos duplos são obtidos a partir do cruzamento de dois híbridos simples e os triplos, pelo cruzamento de um híbrido simples com uma linhagem endogâmica. Segundo fontes do setor, alguns híbridos simples geram produtividade de 12 toneladas por hectare, ante uma média nacional de 3.

A Agromen Sementes - uma das maiores do segmento, com 8,5% de participação de mercado - é uma das empresas que está avançando em pesquisas para o desenvolvimento de híbridos simples. Na atual safra, lançou quatro novas variedades, e programa outras quatro para o ano que vem. Leonardo Mendonça Tavares, diretor superintendente da empresa, diz que antes o foco estava na venda de sementes simples e híbridos duplos, considerados de baixa tecnologia. "Mas como o mercado compra mais sementes de média e alta tecnologia, mudamos o foco".

Essas variedades, segundo ele, custam, em média, o dobro que as variedades de baixa tecnologia. Segundo a APPS, essas últimas custam até R$ 90 por saca, enquanto as de alta tecnologia chegam a R$ 135. Com a nova estratégia, a Agromen elevou as vendas de sementes em mais de 5% neste ciclo 2005/06, ante um crescimento (em volume) do mercado da ordem de 1,5% - pela maior área plantada no Sudeste e no Sul. Segundo a APPS, as vendas de sementes de milho no país para a última safra de verão alcançaram 118,89 mil toneladas. Já as entregas de sementes para a safrinha já somam 49,65 mil toneladas, 7% mais que em 2004/05.

Segundo a Conab, a área plantada de milho cresceu 4,8% na safra de verão, para 9,458 milhões de hectares. Para a safrinha está prevista uma queda de 3%, para 3,089 milhões de hectares. Em volume, a expectativa é que as duas safras rendam 40,778 milhões de toneladas de grãos, 16,5% mais que em 2004/05.

A Cooperativa Central de Pesquisa Agrícola (Coodetec), que detém 2,5% do mercado de sementes de milho no país, também está reforçando sua linha de sementes de alta tecnologia. Na atual temporada, a empresa lançou nove novos híbridos, e agora investe na construção de uma unidade de produção de sementes de milho em Paracatu (MG).

"O mercado é competitivo e as empresas precisam investir em novidades", diz Ivo Carraro, diretor-executivo da Coodetec. Ele observa que apenas 15% da área de milho no país é cultivada com sementes 'salvas' (multiplicadas de forma caseira pelos produtores) ou ilegais. "O alto índice de adoção de sementes legais também estimula investimentos em novas variedades, ao contrário do que ocorre com a soja", observa Carraro, que também preside a Associação Brasileira dos Obtentores Vegetais (Braspov).

A Monsanto, que lidera o setor de sementes de milho no Brasil com as marcas Dekalb e Agroceres, informou que deve lançar nesta safra pelo menos três sementes híbridas. A também multinacional Syngenta Seeds, uma das líderes do mercado, não se pronunciou.