Título: Obama anuncia fim das operações
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Fonte: Correio Braziliense, 31/08/2010, Mundo, p. 21

É do Salão Oval (1)da Casa Branca que o presidente Barack Obama falará hoje aos soldados e à população americana sobre o fim das operações de combate no Iraque. Entretanto, para demonstrar a importância que seu governo dá a esse passo para o fim da incômoda guerra, Obama enviou a Bagdá seu vice, Joe Biden, na véspera de os militares americanos se retirarem oficialmente das ruas iraquianas. Segundo a Presidência, Biden reforçará, durante encontros com autoridades locais, o ¿compromisso a longo prazo¿ que os Estados Unidos garantem ter com o país. Os pouco menos de 50 mil soldados americanos que ficarão até o fim de 2011 terão agora a única tarefa de treinar as forças de segurança iraquianas para que consigam manter o controle sozinhas.

Ao chegar à capital iraquiana, por volta das 18h (12h em Brasília), a bordo de um avião cargueiro C-17, Biden tentou amenizar os temores de que a violência contra as forças iraquianas, que já vem se intensificando nos últimos meses, atinja níveis ainda maiores com a retirada americana. ¿Estaremos muito bem e eles também¿, disse o vice-presidente a jornalistas, no início de sua sexta visita ao país.

Ainda ontem, o vice de Obama reuniu-se com o embaixador americano no Iraque, Jim Jeffrey, o general Ray Odierno, comandante das forças no país, o general Lloyd Austin, que substituirá Odierno a partir de amanhã, e o general James Mattis, chefe do Comando Central dos EUA. Nos próximos dois dias, Biden se reunirá com o presidente Jalal Talabani, com o primeiro-ministro Nuri Al-Maliki e com o ex-premiê Iyad Allawi. Aos dois últimos, que praticamente empataram nas eleições de março, repetirá um pedido feito há dois meses: que superem as diferenças e permitam a formação do novo governo.

Biden representará Obama na cerimônia de troca de comando, amanhã. O general Odierno, contudo, não mostra tanto otimismo em relação ao Iraque quanto o vice-presidente. Em entrevista ao jornal The New York Times, publicada no domingo, Odierno se disse preocupado com as consequências negativas do impasse político, que já dura seis meses. ¿Quanto mais tempo levar, mais frustrados (os iraquianos) poderão se sentir sobre o processo (eleitoral) em si¿, disse o general. ¿O que não desejo é que percam a confiança no sistema democrático, que é o risco a longo prazo.¿

Cronograma No discurso de hoje, Obama, que visitou ontem soldados feridos em combate em um hospital militar de Washington, deverá destacar a eficácia de seu governo em cumprir o cronograma de retirada, sem se ater às reais condições das forças iraquianas para assumir a segurança do país. Ontem, o porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs, antecipou a ¿defesa¿ do governo para um possível aumento na insegurança após a entrega do controle. ¿O fim da missão de combate não significa que a violência vai cessar, e sim que será preciso um esforço redobrado dos iraquianos. Eles vão escrever o próximo capítulo de sua história¿, afirmou Gibbs. Antes do pronunciamento, Obama vai conversar por telefone com seu antecessor, George W. Bush, a quem nunca poupou críticas por ter iniciado a guerra.