Título: Novo plano prevê fim de rotas nacionais da Varig
Autor: Daniel Rittner
Fonte: Valor Econômico, 17/04/2006, Empresas, p. A6

Um novo plano para salvar as operações da Varig no exterior, sem aporte de recursos públicos, está em estudo no Ministério da Defesa. A proposta prevê o fim das atividades domésticas da companhia, com a transferência de rotas nacionais e parte das aeronaves às concorrentes, e a manutenção apenas das suas linhas internacionais. Por interferência do governo, os vôos domésticos seriam distribuídos, junto com as tripulações e os contratos de leasing dos aviões, às demais empresas brasileiras - TAM, Gol, OceanAir e BRA. Sobraria à Varig uma estrutura mais enxuta, voltada exclusivamente às operações no exterior.

A preservação das linhas internacionais da Varig é a única forma que o governo brasileiro tem de manter os "slots" da empresa em aeroportos bastante disputados no exterior. Os acordos bilaterais em vigor permitem a cada um dos países signatários designar livremente as companhias aéreas que vão operar as rotas internacionais. Mas cabe diretamente às empresas negociar um espaço mais nobre nos aeroportos ou horários considerados viáveis para operar - ou seja, os "slots". As aéreas sabem que operar num aeroporto mais longínquo ou fazer um vôo transatlântico durante o dia são detalhes que afastam os passageiros.

Como está há muito tempo no mercado, a Varig conseguiu áreas e horários nobres em operações concorridas, como Nova York ou Londres. Se ela quebrar, o governo tem um plano de entregar boa parte das linhas à TAM e emitir concessões temporárias às companhias estrangeiras. Mas prevê pelo menos três semanas de turbulência e nem pode garantir as operações de uma bandeira brasileira em "slots" considerados tão favoráveis. A Varig ainda detém 70% do mercado de vôos internacionais.

Formulado pela presidente do Sindicato Nacional dos Aeronautas, Graziela Baggio, o plano foi apresentado ao governo na semana passada e já tem o apoio do ministro Waldir Pires, da Defesa, e conta com a simpatia da Infraero. Ainda não leva o carimbo de oficial, mas chegou na quinta-feira ao Palácio do Planalto. É visto como uma alternativa, mas existem questionamentos a respeito da legalidade de transferir funcionários e contratos de leasing.

De acordo com Baggio, três pilares sustentam a proposta: a manutenção da marca Varig, dos empregos e dos "slots". No caso das linhas internacionais, ela diz que o importante é assegurar a entrada de divisas em dólar. Com a emissão de bilhetes, a Varig contribui todos os anos com mais de US$ 1,5 bilhão na balança de serviços. "Isso (o plano) ainda requer detalhamento e acertos jurídicos, mas estamos numa sinuca de bico para salvar a Varig e as rotas internacionais são de interesse do Estado", argumenta.

Segundo a proposta em análise, a gestão da companhia ficaria com a Alvarez&Marsal, que teria de prepará-la para venda no período de seis meses a um ano. O ministro Waldir Pires acha que essa proposta é a que melhor atende os interesses nacionais. A Infraero vê, no enxugamento da Varig, uma possibilidade concreta de corte de despesas e volta do fluxo de caixa necessário para o pagamento de taxas aeroportuárias.

Quem coloca restrições ao plano é a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Um experiente técnico da agência, envolvido com os problemas da Varig desde o início do governo Lula, pondera que nenhuma companhia aérea no mundo conseguiu sustentar as suas operações voando apenas para o exterior.

Para minimizar transtornos a passageiros da Varig no exterior em uma eventual quebra da aérea, a Anac articulou uma operação com o Itamaraty. Na semana passada, foram enviados comunicados às principais embaixadas e consulados do Brasil nos Estados Unidos, na Europa e na América Latina. Os telegramas dão orientações minuciosas aos diplomatas. Em atuação conjunta com a Anac, eles estão preparados para negociar o endosso de bilhetes por outras empresas aéreas e até a pagar acomodação a passageiros, em casos especiais.