Título: Alckmin mantém auxiliares dos tempos de Pindamonhangaba
Autor: Raquel Ulhôa
Fonte: Valor Econômico, 17/04/2006, Política, p. A9

Se o ex-governador paulista Geraldo Alckmin for eleito presidente, será a terceira vez em que um ex-prefeito de interior chega ao Planalto. A primeira foi com Wenceslau Braz (1914-1918), ex-prefeito de Jacuí (MG), e a segunda com Itamar Franco (1992-1994), ex-prefeito de Juiz de Fora (MG). Em comum, suas gestões foram marcadas pela forte presença de pessoas oriundas de suas cidades natal e que acompanharam os dois presidentes nas suas trajetórias políticas, o que acarretou, ao menos à era Itamar, a alcunha de "República de Juiz de Fora". Assim como os dois mineiros, o tucano e principal adversário do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições de outubro também sempre se cercou de auxiliares de Pindamonhangaba (SP), onde foi prefeito entre 1977 e 1982, e da região onde esta cidade se localiza, o Vale do Paraíba paulista.

Nos anos em que esteve no Bandeirantes, Alckmin teve pelo menos três secretários do Vale: Gabriel Chalita (Educação), de Cachoeira Paulista; Emanuel Fernandes (Habitação) e Dario Rais Lopes (Transportes), ambos de São José dos Campos. Dois de seus principais assessores são da região: Luiz Salgado, de Pindamonhangaba, e Orlando Baptista, de Caçapava. Além disso, o tucano mantém seus operadores na região, para alguns dos quais deu cargos em órgãos ligados ao governo de São Paulo.

Salgado trabalhou com Alckmin pela primeira vez quando foi por ele nomeado presidente da fundação mantenedora da "Tribuna do Norte", o jornal chapa branca de Pindamonhangaba. De lá foi para a iniciativa privada e voltou a trabalhar com o tucano, agora diariamente, quando este se candidatou a vice-governador, em 1994. No Palácio dos Bandeirantes, foi assessor de imprensa e chegou a assumir a Pasta da Comunicação por duas vezes, deixando-a para, nos últimos anos, prestar uma assessoria especial ao ex-governador: escrever discursos, avaliar o noticiário, fazer recomendações e responder a reivindicações diversas, de autoridades a instituições. Atualmente, tem sido o assessor de imprensa do candidato.

Baptista, por sua vez, está com Alckmin desde sua primeira eleição para a Câmara, em 1986. No governo paulista, era responsável pelas primeiras avaliações jurídicas sobre determinados assuntos que chegavam ao governador, além de atuar para dirimir problemas entre secretarias. Ainda não tem papel definido na campanha. Por ora, permanece no governo do Estado para auxiliar na transição a Cláudio Lembo (PFL).

No Vale do Paraíba, Alckmin também tem seus homens que há muito tempo estão com ele e que ganharam cargos na máquina estatal paulista. O advogado Ailton Barbosa Figueira é um deles. Foi assessor jurídico do prefeito Alckmin, chefe de gabinete na Assembléia Legislativa e coordenador regional no Vale do Paraíba nos oito anos em que Alckmin esteve em Brasília, como deputado federal. Nos Bandeirantes, ficou dois anos como assessor no Palácio até ser indicado, em 1997, pelo então vice-governador, diretor do Escritório Regional de Planejamento (Erplan), órgão ligado à Secretaria de Planejamento.

Outro braço direito de Alckmin é Sandra Tutihashi, que foi secretária de Promoção Social do prefeito Alckmin por cinco anos, partindo em seguida para a Assembléia Legislativa. Voltou à Prefeitura de Pindamonhangaba como vice-prefeita e secretária de Saúde. Escolhida candidata tucana a prefeita em 2004, perdeu a eleição, mas ganhou um cargo no Estado: foi indicada diretora regional de saúde na seccional de Taubaté, no Vale do Paraíba. O cargo, segundo um dirigente tucano da região, foi um consolo pela derrota no pleito: "Aquela era uma eleição perdida. Havia o desgaste de 16 anos do PSDB comandando a cidade. Era meio obrigação Geraldo arranjar alguma coisa para ela".

Longe da política, Thiers Fernandes Lobo, vice-prefeito de Pindamonhangaba na gestão Alckmin nos anos 70, também recebeu uma ajuda do tucano. Em 2005, foi escolhido por Alckmin desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo na lista tríplice encaminhada a ele pelo Ministério Público.

Segundo lideranças regionais, a atuação política de Alckmin no Vale não chega a ser de interferência, mas de aconselhamento, feito na maior parte das vezes em reuniões do partido em São Paulo e nas visitas que faz à região, oficiais ou não. No entanto, a possibilidade de ocupar o maior cargo da República gerou nele e na região grande entusiasmo. Vista como oportunidade única na história política regional, as eleições deste ano estão sendo arquitetadas de modo que, no embalo da exposição nacional do ex-governador paulista, seja possível eleger o maior número possível de deputados estaduais e federais do PSDB, algo inédito desde o pleito de 1990.

Para tanto, Alckmin tem incentivado lideranças regionais dizendo ser este "o momento do Vale". O presidenciável até já deu duas recomendações: que disputem as eleições os candidatos que têm maiores chances de vitória e que as cidades se componham em boas alianças, as chamadas "dobradinhas", com candidatos a deputado estadual nas cidades de pequeno e médio porte e com postulantes à Câmara Federal nos municípios de grande porte. Tudo para que se evite o ocorrido em 2002, quando Alckmin, eleito governador, não teve na Assembléia estadual nenhum parceiro tucano de sua região de origem.

"Estamos com um negócio atravessado na garganta. Em 1994,1998 e 2002 não elegemos ninguém. Agora, com Geraldo, é a hora do Vale. Imagine o Vale tendo candidato a presidente da República. Nem daqui a 100 anos. É coisa muito séria", afirma Francisco de Assis Vieira Filho, o Chésco, ex-prefeito de Pindamonhangaba e um dos principais responsáveis por essa articulação. "É o momento do Vale ser um pouco mais bairrista e tentar eleger a maior bancada possível." Conhecido de Alckmin desde os anos 70, quando iniciou sua carreira política como vereador de Roseira, próxima a Pindamonhangaba, Chésco entrou para a política pindamonhangabense como secretário municipal, tendo sido em 1992 eleito prefeito e na gestão seguinte, nomeado novamente secretário. Deixou o setor público em 1998 e retornou às suas atividades privadas até ser indicado por Alckmin, depois da morte de Mário Covas, para exercer a gerência regional da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo (CDHU), cargo em que está até hoje.

De acordo com ele, o projeto atual é dobrar o atual número de deputados federais e estaduais e que essa diferença seja completada com deputados do PSDB. Na Câmara, o Vale do Paraíba tem hoje três deputados federais: Ary Kara José (PTB), Bernardo Ortiz (PV) e Angela Guadagnin (PT), que ficou conhecida pela defesa dos petistas ameaçados de cassação no Conselho de Ética e por dançar no plenário da Câmara em comemoração à rejeição do pedido de perda de mandato do deputado João Magno. Na Assembléia paulista, quatro foram eleitos -nenhum tucano. Com esse cenário, a pretensão é de que sejam eleitos pelo menos seis federais e entre oito e dez estaduais.

Por ora, tem-se consolidada uma dobradinha, entre São José dos Campos - cujo candidato a federal será o ex-secretário de Habitação de Alckmin Emanuel Fernandes - e Caraguatatuba. Em fase de negociação estão Pindamonhangaba e Taubaté, e Guaratinguetá e Cachoeira Paulista, que deve lançar o ex-secretário de Educação Gabriel Chalita.