Título: Modelo usa parceria público-privada
Autor: Tatiana Bautzer
Fonte: Valor Econômico, 17/04/2006, Internacional, p. A11

A menina dos olhos do laboratório nacional de tecnologia energética (Netl) é a usina Future Gen, um protótipo de US$ 1 bilhão financiado pelo governo e iniciativa privada, com potencial de geração de 275 MW e início de produção previsto para 2012.

Segundo o diretor da usina, Thomas Sarkus, o governo está contribuindo com US$ 620 milhões, as empresas com US$ 250 milhões e uma parte de US$ 80 milhões está reservada a participações internacionais _ a primeira anunciada foi a do governo indiano, na semana passada. Vinte e duas cidades localizadas em nove Estados americanos fizeram propostas ao governo para disputar a Future Gen. A decisão deve ser divulgada em meados de setembro.

O modelo tecnológico é chamado de IGCC - que combina a gaseificação do carvão e o ciclo combinado, que usa turbinas a gás e a vapor. No consórcio privado estão a Consol (produtor e exportador de carvão), a chinesa Huaneng Group, American Electric Power, BHP Billiton e Southern Company (uma das maiores geradoras do sul dos EUA), além da Kennecott Energy e Peabody Energy, respectivamente dos Estados de Wyoming e Missouri. Há outras quatro usinas semelhantes em operação, uma na Holanda (Buggenum), uma em Indiana, nos EUA (Wabash River), outra em Tampa, Flórida, e uma na Espanha. A usina de Wabash River opera em escala experimental desde 1995, demonstrando apenas a tecnologia de gaseificação de carvão. A Índia tem interesse em participar do projeto piloto porque poderá testar na usina os tipos de carvão mais usados por sua indústria. O local de construção da usina deve ser definido nos próximos meses pelo governo americano.

Outros projetos semelhantes estão ocorrendo na Europa, onde a adoção da tecnologia de carvão limpo está ocorrendo mais rapidamente pela adesão ao Protocolo de Kyoto. A RWE pretende ser a primeira no Reino Unido a operar uma usina de eletricidade limpa baseada na queima de carvão, a ser construída até 2016 em seu terreno em Tilbury, no estuário do Tâmisa. O investimento será de US$ 1,4 bilhão para potencial gerador de 1 GW. Outras companhias investigam as possibilidades proporcionadas pelo carvão limpo, que promete reduzir as emissões e melhorar em até 10% a eficiência de usinas baseadas na queima de carvão (ou seja, aumentar o volume de energia gerado com a mesma quantidade de carvão). O governo britânico deve contribuir com US$ 50 milhões no apoio a projetos de captura e armazenamento do dióxido de carbono.

A RWE, a companhia controladora RWE npower, também planeja construir uma usina geradora na Alemanha, que produziria 500 MW de eletricidade por ano e custaria US$ 1,2 bilhão. No ano passado, a BP e a Scottish & Southern Energy anunciaram uma parceria para construir uma nova usina de eletricidade na Escócia, que converteria gás natural do mar do Norte em dióxido de carbono e hidrogênio. Outras empresas, como a Eon, na Europa, e geradoras americanas estão pesquisando o carvão limpo. A União Européia (UE) está ajudando a construir uma usina para comprovação de viabilidade na China, que deverá reduzir a zero as emissões de dióxido de carbono com a captura e o armazenamento do gás carbônico.

Além das tecnologias envolvendo a gaseificação do carvão, existem técnicas que estão sendo testadas por uma usina da RWE npower em Tilbury, e partiram de pesquisas que incluíram o Netl. Uma delas é a combustão por oxicombustível, na qual carvão pulverizado é queimado em ambiente de oxigênio puro, produzindo um fluxo puro de gás carbônico (não há a necessidade de capturar o dióxido de carbono do gás com outras substâncias). As diversas técnicas elevam a eficiência do uso do carvão para 40% a 43%, em comparação com 32% a 35% que hoje se consegue em uma usina geradora convencional.

Na área de transportes, que produz mais de um terço das emissões nos EUA, pouco está sendo feito por enquanto. Para Granger Morgan, do Departamento de Energia e Política Pública da Universidade Carnegie Mellon, só agora os EUA estão avaliando mais seriamente tecnologias que estão disponíveis há muito tempo para redução de emissões de veículos, como o álcool produzido a partir de celulose (cana de açúcar e outros) e o biodiesel. Os projetos para uso de hidrogênio como combustível ainda não são viáveis e não saíram dos protótipos das grandes companhias. "Acho que todo investimento em hidrogênio nos últimos anos foi intencional, para desviar atenção do que realmente precisa ser feito, que é melhorar a eficiência dos veículos atuais", diz Morgan. Mas mesmo assim a indústria ligada a carvão vem tentando produzir alternativas para competir com os biocombustíveis. Na Universidade de Virgínia Ocidental, cientistas estão conseguindo converter carvão numa espécie de álcool que poderá ser usado como combustível. O produto ainda está em laboratório e não foi testado para viabilidade comercial.