Título: Para Alckmin, PT não aceita críticas
Autor: Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 02/12/2004, Política, p. A-10

As críticas do PSDB ao governo federal, segundo o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, não significam que o partido esteja torcendo pelo fracasso do país. Em resposta à reação orquestrada de ministros do governo às críticas do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso - que chamou o governo e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva de incompetentes - , Alckmin disse ontem que o PT não pode ser o único partido com direito a fazer questionamentos. "Eu não vejo crítica como ofensa. É interessante como os políticos têm dificuldade de conviver com a crítica. O PT não pode ter o monopólio da crítica. Senador critica, deputado critica, prefeito critica, ex-prefeito critica, candidato critica. Por que alguém do PSDB não pode fazer uma crítica (ao governo)?", indagou Alckmin. O governador evitou analisar qualquer cenário de disputa entre ele e Fernando Henrique, dentro do PSDB, para a Presidência em 2006. A avaliação, no Palácio do Planalto, é que Fernando Henrique está cavando espaço para disputar a eleição com Lula. "Não sou candidato e não vou colaborar para antecipar processo sucessório. Cada coisa no seu tempo. Tivemos a eleição municipal, que acabou. Agora é trabalhar, arregaçar as mangas, trabalhar pelos Estados, fazer um bom governo. Não há razão para discutir isso de maneira extemporânea", justificou. Alckmin ponderou que não pode responder sobre as intenções de Fernando Henrique, se ele teria ou não disposição para disputar o cargo. O governador voltou a cobrar da Câmara agilidade na votação do restante da reforma tributária. Ele esteve ontem com o presidente da Câmara, deputado João Paulo Cunha (PT-SP). Segundo ele, se houver boa vontade existe possibilidade de a votação prosperar. "A disposição de São Paulo é ajudar", garantiu. O governador disse que a criação de cinco alíquotas de ICMS é importante para a simplificação do sistema, mas enfatizou que os Estados precisam ter salvaguardas para fazer a mudança. Em relação ao ressarcimento dos Estados pelas perdas com a Lei Kandir, Alckmin disse confiar no empenho do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, em encontrar uma solução para assegurar recursos no orçamento de 2005. A proposta de orçamento da União não contemplou o ressarcimento dos Estados. "Ouvimos do ministro a disposição de trabalharmos juntos no Congresso Nacional para que tenhamos um fundo de compensação. O valor, se vai ser o deste ano, R$ 4,3 bilhões, ou o que se pretende, 50% da desoneração fiscal, é uma discussão a ser feita. O importante é a disposição de se achar uma solução", disse. "O problema não é só o que os Estados deixam de arrecadar. Eles têm que devolver o crédito tributário (acumulado ao longo da cadeia produtiva). Portanto, precisamos do fundo de compensação pra trazer tranqüilidade ao exportador", explicou o governador. Segundo ele, de janeiro a novembro deste ano, as exportações em São Paulo cresceram 36%. Os governadores trabalham com a expectativa de que a Fazenda encontre uma solução até a primeira quinzena de dezembro, ou seja, antes da votação do Orçamento Geral da União.