Título: Dilma assume compromissos com PMDB
Autor: Junqueira,Caio
Fonte: Valor Econômico, 17/08/2011, Política, p. A11

A presidente Dilma Rousseff cobrou lealdade do PMDB ao governo e assegurou aos seus dirigentes que o PT cumprirá todos os compromissos assumidos com a legenda na formalização da aliança eleitoral, em 2010.

A conversa ocorreu na noite de segunda-feira, durante demorado encontro da presidente com as cúpulas do PT e do PMDB, no Palácio do Planalto. Ela abriu sua fala traçando o cenário econômico interno e externo. Avaliou que, nos oito meses de seu governo, conseguiu manter sob controle a inflação, a geração de empregos e a distribuição de renda.

Disse que a crise que atinge os Estados Unidos e a Europa pode resultar em dois cenários: o de uma crise arrastada, a qual acha ser mais provável e contra a qual o país está mais bem preparado; ou de um quadro de recessão global, que Dilma acredita ter menos chances de ocorrer, mas diante do qual o país sofreria mais. Isso porque o país perderia mercado externo e, inevitavelmente, estaria sujeito a uma redução no ritmo de crescimento, segundo relato de um dos presentes.

O preâmbulo econômico foi proposital. Sua intenção real era mostrar que, com a incerteza da gravidade da crise econômica e de seus efeitos sobre o Brasil, precisará muito que ao menos a estabilidade política seja assegurada no país. E que ela deve estar fundamentada no bom relacionamento entre seu partido e o do seu vice, Michel Temer. Só assim os projetos de interesse do governo conseguirão obter sucesso. Isso se aplica tanto aos com viés econômico, como o Pronatec e o Super Simples, quanto aos sociais, como o Brasil sem Miséria.

Dilma pediu unidade para que sejam aprovados sem obstáculos.

A presidente garantiu que o PT cumprirá todos os compromissos firmados com o PMDB, numa referência ao principal deles, que prevê o apoio petista à eleição do líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN), presente ao encontro, à presidência da Câmara em 2013.

Estavam presentes também o líder do PMDB na Câmara, Renan Calheiros (AL); Temer; os líderes do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), e no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR); os líderes do PT na Câmara, Paulo Teixeira (PT), e no Senado, Humberto Costa (PE); os presidente do PT, Rui Falcão, e do PMDB, senador Valdir Raupp (RO); e o líder do governo no Congresso, deputado Mendes Ribeiro (RS).

A presidente prometeu inaugurar um novo tempo no relacionamento político com a base e, principalmente, com o PMDB, assegurou um parlamentar que participou da conversa. Ela pretende que esses encontros sejam constantes, mensais, e poderá fazê-los também individualmente, com cada um dos partidos da base.

O encontro de anteontem deveria servir como modelo aos demais, disse Dilma, e ontem mesmo ela tratou de comprovar isso: chamou ao Palácio, para uma reunião, os líderes e presidentes do PDT, PSB e PCdoB.

Ainda na conversa com o PMDB, ela defendeu os ministros da legenda acusados de corrupção. Elogiou o da Agricultura, Wagner Rossi, por sua conduta "exemplar" diante das denúncias, sem "ficar acuado" e tomando a iniciativa de ir ao Congresso prestar esclarecimentos. Sobre o do Turismo, Pedro Novais, considerou que não há nada que envolva seu nome nas denúncias. Disse que a mídia estava fazendo uma "cobertura sectarista" das denúncias e assinalou que está dando tratamento equânime a seus ex-ministros que caíram sob suspeitas de irregularidades -o da Casa Civil, Antonio Palocci (PT) e dos Transportes Alfredo Nascimento (PR).

Após Dilma, Temer tomou a palavra e declarou concordar com a presidente no que se refere à aliança. Ela deve ser o eixo norteador do governo e o partido aguardava essa sinalização da presidente. Temer falou que unidade dos dois partidos é importante porque a aliança vive sob constante ataque. Todos os presentes falaram na sequência. Os presidentes Falcão e Raupp declararam que após o fim de setembro, findo o prazo final das filiações partidárias para as eleições municipais, ambos sentarão para começar a traçar o plano de alianças a disputa eleitoral.