Título: Alta do PIB e fluxo de recursos avalizam queda do risco-Brasil
Autor: Tatiana Bautzer
Fonte: Valor Econômico, 02/12/2004, Finanças, p. C-1

A melhora dos fundamentos da economia brasileira justifica a redução do risco-país para cerca de 400 pontos-base (4 pontos percentuais), afirmam executivos de bancos em Wall Street. Ao longo do dia, o risco-Brasil medido pelo índice EMBI, do JP Morgan, chegou a cair abaixo dos 400 pontos. Ontem o indicador fechou em 402 pontos e já acumula queda de 13,17% neste ano. E analistas acreditam que a taxa tem espaço para cair ainda mais, para até 350 no ano que vem. Embora o Brasil esteja se beneficiando do forte fluxo de recursos para mercados emergentes, provocado por baixos retornos dos títulos públicos nos Estados Unidos, o crescimento do PIB brasileiro melhorou indicadores de solvência do país, como a relação entre a dívida pública e o PIB, fazendo a taxa de risco cair. "Na revisão dos números do ano passado, especialmente, melhorou bastante os quocientes de solvência", diz John Welch, do Lehman Brothers.

"Os dados do PIB mostram que o investimento passou a ser o carro-chefe do crescimento e não mais apenas as exportações", avalia o diretor de mercados emergentes do ABN AMRO, Arturo Porzecanski. Mais investimentos melhoram a perspectiva de crescimento econômico nos próximos anos. "O Brasil tem hoje os melhores fundamentos em muitos anos", afirma Jose Barrionuevo, do Barclays. Na terça-feira, dia em que os títulos do Tesouro dos EUA caíram, os papéis brasileiros ficaram estáveis. Os analistas acreditam que em breve a agência de classificação de risco Moody's, que tem a pior classificação do Brasil, eleve sua nota do país para o equivalente a "BB-", equiparando-a ao rating conferido pela Fitch e Standard & Poor's. Se o crescimento do PIB continuar, é possível também que haja uma nova elevação da nota do Brasil pelas agências ao longo do ano que vem, o que facilitaria a redução do risco brasileiro em mais 25 a 50 pontos-base, atingindo cerca de 350 no fim de 2005. O cenário internacional favorável também teve alguma participação na melhora do risco brasileiro. O Brasil foi um dos mercados emergentes com melhor desempenho no período, mas de forma geral mais investidores estão procurando papéis latino-americanos em busca de taxas mais altas para os investimentos em renda fixa. "Os investidores dedicados à região não estão vendendo, e agora há a entrada de novos compradores, como fundos de pensão que procuram elevar o retorno de suas carteiras de renda fixa", explica Welch, do Lehman Brothers. As taxas de juros dos títulos públicos americanos têm subido lentamente. Os papéis de dez anos do Tesouro dos EUA pagavam ontem 4,36%, acima dos 4% do fim de outubro. A queda do dólar em relação a outras moedas não resultou em alta expressiva dos juros no mercado de dívida americana. O risco de movimentos mais bruscos, entretanto, continua, se os investidores asiáticos, grandes compradores de papéis dos EUA, reduzirem suas compras.

Do ponto de vista de taxas de juros oficiais (juros básicos determinados pelo banco central dos EUA), o Federal Reserve continua comprometido com uma trajetória de alta lenta e gradual e ainda não surgiram sinais suficientes de um salto inflacionário que justifique elevação mais drástica. O Brasil está numa situação favorável, mas não necessariamente estável nos próximos meses. Solavancos no mercado internacional atingiriam em cheio os bônus brasileiros, que estão entre os mais líquidos, segundo Porzecanski. "Antes de o México atingir a classificação de grau de investimento, o maior impacto de qualquer problema na economia americana ocorria nos papéis mexicanos. Agora o México é considerado como parte dos Estados Unidos e o impacto é mais sentido pelos títulos brasileiros." O economista do ABN acredita que a maior parte da redução de spreads cobrados do Brasil como conseqüência positiva das reformas e crescimento econômico já ocorreu, e que nas condições atuais não há espaço para queda abaixo de 350 pontos até o fim do ano que vem.