Título: ACM vence disputa contra PSDB e comanda agenda de Alckmin na Bahia
Autor: Raquel Ulhôa
Fonte: Valor Econômico, 12/05/2006, Política, p. A9
Por pressão do governador da Bahia, Paulo Souto, e do senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), a cúpula nacional do PSDB forçou o diretório estadual do partido a esvaziar o encontro de hoje entre o ex-governador Geraldo Alckmin e o ex-prefeito Antonio Imbassahy (PSDB), ex-carlista hoje rompido com ACM. Ruy Baron/Valor - 19/4/2006 Alckmin: evento que previa 1,1 mil participantes é cancelado e tucanos transferem visita de pré-candidato para sede regional do partido em Salvador
O PSDB local havia programado evento no auditório de um hotel, com capacidade para 1,1 mil pessoas. Prevendo sua transformação em ato de lançamento da candidatura de Imbassahy ao Senado, ACM e Souto exigiram seu cancelamento e ameaçaram não receber Alckmin. A viagem ficou sob risco de cancelamento até a madrugada de ontem, quando terminaram as conversas entre carlistas e tucanos.
Alckmin chegaria ontem à noite a Salvador para cumprir intensa agenda com o PFL nesta sexta-feira e sábado, em sua primeira visita à Bahia como pré-candidato à Presidência da República. Visita estratégica: o Estado é o quarto maior colégio eleitoral do país, só perdendo para São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Lá, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva é historicamente bem votado. Para a disputa atual, as pesquisas registram média de 60% da preferência do eleitorado a Lula e menos de 10% ao tucano.
Depois de conversar com o presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), e o coordenador da campanha de Alckmin, senador Sérgio Guerra (CE), o presidente do diretório estadual, deputado Jutahy Júnior, cancelou o evento no hotel - para o qual foram convidados prefeitos e representantes da sociedade - e programou apenas visita de Alckmin à sede do partido - como estava inicialmente previsto.
"Não queremos dar pretexto para que a viagem seja cancelada. Tínhamos dois objetivos: fazer um encontro separado e ter o reconhecimento da candidatura de Imbassahy como algo importante para o Geraldo", disse Jutahy. Ele prevê confusão, já que a sede do partido é pequena e o auditório do prédio, normalmente usado para reuniões, está ocupado com outro evento.
Imbassahy também foi cauteloso e evitou confronto. "O apoio do PFL na Bahia e no país tem um grande significado para nosso candidato. Temos que conviver com as peculiaridades de cada Estado e facilitar a mobilidade do nosso candidato", afirmou.
O ex-prefeito de Salvador tem liderado todas as pesquisas de intenção de voto na disputa pela única vaga de senador (cerca de 59% na capital e 39% no interior). Mas ACM está empenhado em derrotá-lo, garantindo a recondução do senador Rodolpho Tourinho (PFL), que tem menos de 10% nas pesquisas e nunca disputou eleição (suplente, assumiu quando Souto foi para o governo).
Essa divergência entre PFL e PSDB baianos era um dos obstáculos à aliança nacional entre os dois partidos. ACM exigia do PSDB o afastamento de Imbassahy da disputa, mas Jutahy não cedeu. Agora, em troca do palanque do PFL baiano, ACM quer de Alckmin a neutralidade na disputa pelo Senado. Como seu aliado, Imbassahy foi eleito prefeito de Salvador em 1996 e reeleito em 2000. Apesar de algumas divergências com ACM, sua decisão de trocar o PFL pelo PSDB em 2005 foi uma surpresa.
Embora seja favorito nas pesquisas, Imbassahy ainda luta para consolidar sua candidatura a senador. O PSDB está rachado: Jutahy o apóia, mas o deputado João Almeida e prefeitos tucanos defendem aliança com o PFL - o que excluiria sua candidatura.
O PDT, que indicaria o candidato a governador numa aliança com o PSDB, também enfrenta uma briga interna. Seu principal nome, o ex-governador João Durval, parece preferir o Senado. Sem um candidato a governador, o PSDB terá de lançar um "laranja", para ter palanque.
O PFL programou para hoje visitas ao Hospital Santo Antonio (Obras Sociais Irmã Dulce), à Igreja do Bonfim e a uma maternidade. Haverá almoço de adesão no Pelourinho e um evento à noite em um hotel. A visita ao PSDB está marcada para às 15h. "A programação dedica 99% do tempo de Alckmin a quem tem 99% dos votos no Estado. E 1% do tempo a quem tem 1% dos votos", disse o deputado federal ACM Neto (PFL-BA).