Título: Operação Sanguessuga implica mais 80
Autor: Thiago Vitale Jayme
Fonte: Valor Econômico, 12/05/2006, Política, p. A10

Uma nova lista de 80 deputados e um senador supostamente envolvidos no esquema de superfaturamento de ambulâncias investigado pela Operação Sanguessuga, elaborada a partir de triagem dos 170 nomes apresentados à Polícia Federal, incluiu o vice-presidente da Câmara e quatro líderes partidários. O vazamento da relação ocupou todas as atenções na Câmara ontem, quinta-feira, incentivou discursos revoltados e foi o estímulo que faltava para PV, PPS e P-SOL iniciarem a coleta de assinaturas para criar uma CPI para investigar os desvios na Saúde.

O deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) iniciou ontem a coleta de assinaturas. Já tem 25. Na terça-feira continuará o trabalho na Câmara e no Senado. "A CPI vai mostrar que não se trata apenas de um desvio de alguns deputados. Mas de um esquema no governo federal montado pelo PMDB governista", afirmou o deputado. O Ministério da Saúde, onde atuava a quadrilha, é controlado, desde a última reforma ministerial, por pemedebistas, depois de ter ficado a maior parte deste primeiro mandato nas mãos do PT. Na gestão de Humberto Costa (PT-PE), o grande escândalo descoberto foi na área de hemoderivados, numa ação de combate que ganhou o nome de Operação Vampiro. A CPI do Ministério da Saúde dificilmente sairá do papel. O PT e diversos partidos da base são contrários.

A relação de 80 deputados foi elaborada pela ex-assessora do Ministério da Saúde, Maria da Penha Lima, em depoimento ao Ministério Público e à Polícia Federal na noite de terça-feira. Ela participava da quadrilha e trabalhava infiltrada no órgão público para agilizar a tramitação das liberações de verbas para a compra das ambulâncias superfaturadas. Os líderes Isaías Silvestre (PSB-MG), Mário Negromonte (PP-BA), Luciano Castro (PL-RR) e Wilson Santiago (PMDB-PB) constam da relação.

O vice-presidente da Câmara, José Thomaz Nonô (PFL-AL), também foi listado mas não se pronunciou sobre a denúncia. Negromonte também preferiu não fazer comentários. O líder já havia aparecido em lista enviada pela Polícia Federal no início da semana mas, por falta de provas, a Comissão de Sindicância já havia arquivado seu caso. O nome dele é citado em uma conversa entre integrantes da quadrilha sem, no entanto, configurar participação no caso. A situação de Isaías Silvestre é bem mais complicada. Ele também havia sido listado anteriormente e faz parte do grupo de 16 parlamentares que a Corregedoria já decidiu investigar. Ontem, o PSB anunciou sua saída da liderança. Foi substituído por Alexandre Cardoso (PSB-RJ).

Luciano Castro fez discurso emocionado no plenário da Câmara. Criticou o vazamento das informações, negou qualquer envolvimento no caso e chorou. Na lista de Maria da Penha, 33 nomes já constavam na relação de 64 deputados enviados ao Congresso no início da semana, dos quais foram triados 16 para serem investigados. Até agora, 112 parlamentares já tiveram o nome envolvido de alguma forma com as investigações. Na quarta-feira, a corregedoria resolveu abrir investigações contra 16. Ontem, o corregedor da Câmara, Ciro Nogueira (PP-PI), disse que novos nomes poderão ser somados a esses 16.

A comissão de sindicância definiu um cronograma de trabalho. Chamará 28 pessoas a prestar esclarecimentos, começando pelo delegado da Polícia Federal Tardelli Boaventura e pelos procuradores responsável pelas investigações.

Nogueira fez duras críticas à PF, ao Ministério Público e ao juiz federal da 2ª Vara de Mato Grosso, Jéferson Schneider, por causa dos vazamentos. Para ele, a PF agiu de maneira "ilegal" e o magistrado foi "irresponsável". Para o deputado, os agentes têm investigado parlamentares sem prévia autorização do Supremo Tribunal Federal (STF). Quanto ao juiz, a irresponsabilidade apontada por Nogueira se refere ao fato de a lista enviada à Câmara no início da semana não separar os deputados efetivamente envolvidos daqueles sobre os quais não recaem suspeitas.

Enquanto alguns reclamavam da PF e do MP e outros se explicavam, a comissão criada para analisar mudanças na tramitação do Orçamento se reuniu pela primeira vez. Senadores e deputados, até agora, só têm um ponto de consenso: a Comissão Mista de Orçamento deverá ter seus 84 parlamentares reduzidos a 40.