Título: Cid Gomes diz que já emprestou aeronaves para passeio de autoridades
Autor: Klein,Cristian
Fonte: Valor Econômico, 26/08/2011, Política, p. A7

O governador do Ceará, Cid Gomes (PSB), afirmou que já cedeu aeronaves do Estado para autoridades - a serviço ou a passeio - e não considera antiético ou abusivo o episódio envolvendo o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP).Durante dois fins de semana, entre o fim de junho e começo de julho, Sarney utilizou um helicóptero da Polícia Militar do Maranhão, governado por sua filha, Roseana Sarney (PMDB), para viagens particulares até sua mansão na Ilha de Curupu (MA).

"Eu estou falando especificamente do Estado do Ceará, que tem contratos com aeronaves fretadas, e faria esse deslocamento. Eu já fiz isso. Tá certo? Eu já fiz isso. Pessoas me procuraram, autoridades e tal, e já foi feito deslocamento. Sinceramente, eu já fiz, enquanto governador", disse Cid Gomes, em entrevista ao programa "Poder e Política", do UOL/Folha de S.Paulo.

Questionado se emprestaria um helicóptero da Polícia Militar, como fez Roseana ao pai, Cid Gomes disse que evitaria pois neste caso a aeronave é destinada a urgências e "poderia alegar-se" que "estava sendo usada com outra finalidade".

Em outros casos, de aeronaves fretadas pelo Estado, o governador do Ceará, contudo, disse que não veria problema, mesmo que fosse a passeio, como oferecido a Sarney. "Que seja... que seja... Eu estou sendo franco e absolutamente sincero", confirmou Cid.

O próprio Cid Gomes já esteve às voltas com dois casos polêmicos de utilização de aeronaves. Em janeiro, três semanas após tomar posse de seu segundo mandato, ele viajou de férias para os Estados Unidos no jatinho particular de um empresário que recebe incentivos fiscais do Estado do Ceará. Em abril de 2008, Cid deu carona para a sogra numa viagem oficial à Europa.

O governador argumentou na entrevista que, quanto à carona no avião do empresário Alexandre Grendene, trata-se de um amigo de mais de 25 anos; que os incentivos à empresa foram oferecidos em gestões anteriores; e que estava licenciado do cargo à época da viagem. Sobre a carona dada à sogra, Cid Gomes afirmou já ter pedido desculpas e que não repetirá episódio semelhante.

José Sarney não parece disposto a fazer o mesmo. O presidente do Senado recorre a um decreto de 2008 que dá direito, ao presidente da República, de utilizar veículos de representação em todo território nacional, inclusive no fim de semana. Sarney alega que, como chefe de um dos três poderes, também teria o mesmo direito. O decreto, porém, exclui da prerrogativa aeronaves que fazem "serviços especiais", públicos, como os de saúde e segurança, a exemplo de helicópteros da Polícia Militar. E também não prevê que os Estados devam ceder veículos a autoridades federais.

Ao comentar o caso de José Sarney, Cid Gomes ponderou que, "dificilmente", o papel de promotor ou de acusador se casa com sua personalidade.

Num evento público, em maio, no entanto, o governador criticou duramente o então ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, o qual chamou de "inepto, incompetente e desonesto". Menos de dois meses depois, Nascimento, acusado de corrupção, foi demitido pela presidente Dilma Rousseff.

Cid Gomes afirma que até poderia se arvorar de ter iniciado as denúncias contra o ministro, mas diz que não fora essa sua intenção, porque não o chamou de corrupto e sim de desonesto, em relação às conversas que tiveram sobre investimentos do ministério no Estado. "Ele se comprometia a resolver problemas apresentados por mim e no final das contas não fazia nada", disse Cid.

Durante a entrevista, o governador reiterou o discurso de seu partido, que propõe à Dilma Rousseff que se volte mais para outros partidos da base, como o próprio PSB, o PDT e o PCdoB, para não sofrer tantas pressões do PT e do PMDB.

Cid Gomes diz que, ao fim do mandato, provavelmente não se candidatará a novo cargo eletivo e que deve voltar ao Banco Interamericano de Desenvolvimento.

Sobre divergências suas e de seu irmão, o ex-governador e presidenciável Ciro Gomes, com o presidente do PSB, Eduardo Campos, Cid afirmou serem naturais. E que discordou do jeito "cartorial" como a legenda abriu mão de Gabriel Chalita.

O deputado federal paulista se transferiu para o PMDB, onde é pré-candidato a prefeito de São Paulo. "Era o quadro em melhores condições competitivas para o principal mandato que vai ser disputado no ano que vem", disse.