Título: Após lucro de R$ 2,18 bilhões, Vale do Rio Doce espera reajustar minério em 24,6%
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 12/05/2006, Empresas, p. B6

A Companhia Vale do Rio Doce avalia que há espaço para um aumento nos preços do minério de ferro acima dos 24,6% propostos pela empresa nas negociações em curso com as siderúrgicas no exterior. A mineradora identifica a possibilidade de um reajuste maior por força da demanda da China por minério, que cresceu 28% no primeiro trimestre em relação a igual período de 2005, disse o diretor-executivo de assuntos corporativos da Vale, Tito Martins.

Segundo o executivo, os números de importação de minério pela China, em abril, apontam crescimento ainda maior. Martins disse que a tendência de alta dos preços do aço também influencia o cenário de negociação do minério, que prossegue sem previsão de término. " Quando ofertamos 24,6% não tínhamos a expectativa que o mercado estivesse tão forte quanto mostra que está hoje. "

Perguntado se poderia elevar a proposta na negociação, o executivo disse: " Pode acontecer. " Martins concedeu entrevista, na sede da Vale, para comentar os resultados do primeiro trimestre, quando a mineradora apresentou lucro líquido de R$ 2,1 bilhões, 35 superior ao esmo trimestre de 2005. Na apresentação, ele afirmou que foi o quatro trimestre consecutivo em que a companhia obteve lucro acima de R$ 2 bilhões.

Levantamento da Economática mostrou que o resultado da Vale no primeiro trimestre foi o quinto maior lucro trimestral da história da empresa. O maior, de R$ 3,4 bilhões, ocorreu no segundo trimestre de 2005, quando contabilizou o aumento de 71,5% nos preços do minério de ferro. Parte dos contratos da Vale com os clientes tem data de reajuste em abril e outra parcela, em janeiro. Quando o acordo é fechado, o reajuste retroage à data do vencimento, disse Martins.

Em 2005, as negociações sobre preço foram fechadas em maio e contabilizadas no segundo trimestre distorcendo para cima o resultado do período. Martins não quis fazer previsões sobre prazos na atual rodada: " Estamos em negociação. Pode acontecer (o acordo) em dias ou semanas, mas hoje não temos condições de dizer se vai se resolver logo ou não. " Ele lembrou que na década de 80 houve um ano em que a negociação foi fechada em junho.

Martins concordou com o diretor financeiro da Vale, Fábio Barbosa, que esta semana afirmou em Miami que há pressa para fechar o acordo. " Não há intenção de acelerar. Em função dos números do primeiro trimestre, na medida em que o tempo passa, fica claro que a nossa pedida está dentro do que o mercado está refletindo " , afirmou. Ele ressaltou que os 24,6% foram uma indicação do que a Vale achava justo em termos de reajuste.

O cenário de quanto mais demorar a fechar o aumento melhor para os produtores de minério foi destacado pela analista Andrea Weinberg, da Merrill Lynch, em relatório nesta semana. Em novo relatório, ontem, Andrea considerou uma surpresa positiva o fato de os custos da Vale terem caído 5%, em média, no primeiro trimestre na comparação com igual período do ano passado, apesar da apreciação de 2,5% do real frente ao dólar no período. Martins disse que a redução de custos é uma orientação geral na companhia, cujos resultados se refletirão na performance da empresa nos próximos anos.