Título: Alta dos metais começa a afetar negócios
Autor: Natalia Gómez, Paulo Henrique de Sousa e Patrícia
Fonte: Valor Econômico, 12/05/2006, Empresas &, p. B7

Atingidas em cheio pelas sucessivas altas nos preços dos metais, as empresas brasileiras que atuam nos setores de fechaduras, metais sanitários e embalagens já estão buscando alternativas para salvar seus negócios. Entre as medidas adotadas estão desde a substituição de materiais até a demissão de funcionários.

A Arouca, fabricante de fechaduras, está colocando em prática um plano criativo: vai substituir parte da sua linha de fechaduras feita de zamac (uma liga de zinco, 99%, alumínio e cobre) por apenas alumínio. Para isso, investirá R$ 1 milhão na compra de três máquinas injetoras do metal, o qual, em seis meses deverá, responder por 30% da produção de fechaduras da empresa. Hoje, alumínio representa apenas 8%.

O diretor da empresa, Oswaldo Arouca Neto, diz que a decisão será tomada ainda este mês e que as máquinas, compradas na Itália ou na China, levarão cerca de 120 dias para chegar ao país. Segundo ele, enquanto o zinco custa R$ 11,50 o quilo, o preço do alumínio fica em R$ 7. "Outra vantagem mencionada é que o peso específico do alumínio é menor. Portanto, é possível fazer a mesma peça com um peso inferior", explicou.

Mesmo assim, caso o preço do zinco não volte ao patamar de US$ 2.500 a tonelada - ontem chegou a passar de US$ 4 mil - a empresa considera antecipar as férias coletivas de final de ano para o mês de julho. Segundo o executivo, as vendas da Arouca caíram 10% a 15% desde o começo do ano, o que representou uma queda de 30 mil conjuntos de fechaduras por mês. Consumidores se retraíram esperando o preço baixar. A fábrica está instalada em São Paulo (SP).

Assim como a Arouca, que aumentou seus preços em 11,2% este ano e planeja novo reajuste no próximo dia 15, a sua concorrente Papaiz já reajustou os preços dos produtos duas vezes em 2006, num total de 26%, por causa da alta das cotações dos metais. A vice-presidente, Sandra Papaiz, disse que o repasse é necessário para não descapitalizar a empresa. Ela contou que os clientes externos não chegam a ficar "escandalizados", mas os pequenos e médios nacionais têm dificuldade para entender o motivo dos aumentos.

A executiva disse que a situação atual traz preocupação porque não há muitas alternativas às matérias-primas. Segundo ela, mesmo o alumínio, cujos preços subiram menos, já começa a disparar, porque as empresas começam a recorrer a ele como alternativa ao cobre e ao zinco. "A preocupação é com até que ponto o consumidor final poderá absorver as altas."

No setor de metais sanitários, a alta da principal matéria-prima, o latão - mistura de cobre e zinco - já causou demissões em algumas empresas. A paulista MF demitiu este ano 7% dos seus funcionários (10 pessoas) devido à ociosidade de sua fábrica, causada pela queda de pedidos das lojas. "O mercado consumidor está retraído e os repasses cada vez mais difíceis", diz o presidente da companhia, Antônio Mian. A empresa fez dois reajustes este ano para elevar seus preços em 25% mas ainda fará mais um, de 10%, em julho.

A Fani, do mesmo setor, também demitiu 10 pessoas na sua fábrica devido à queda da produção, que passou de 25 para 20 toneladas por mês este ano. O diretor-presidente Rubens Cristofani Júnior diz que a empresa aumentou os preços em 18% mas ainda pretende chegar a um ajuste de 23%. Segundo ele, a companhia costumava trabalhar com pedidos em carteira suficientes para 12 a 13 dias de trabalho, mas hoje este ritmo caiu para 2 dias. "Além da alta dos metais, enfrentamos uma demanda desaquecida", afirma.

A Meber, com fábrica em Bento Gonçalves (RS), é uma das poucas que ainda não fez reajustes nos preços. Mesmo assim, o presidente Carlos Bertuol está planejando o primeiro aumento para o final deste mês. "O impacto em todas as indústrias é muito grande, principalmente porque a negociação dos repasses é muito difícil", afirma o executivo. Segundo ele, não é possível estimar de quanto será o aumento porque as altas nas cotações dos metais está acontecendo de forma muito rápida.

Ao contrário do setor de fechaduras, a indústria de metais sanitários não tem a opção de substituir o latão por outros materiais. Segundo o Sindicato da Indústria de Artefatos de Metais Não Ferrosos (Siamfesp), as cotações elevadas tiveram impacto de 23% no custo de produção do setor. O presidente do sindicato, Dênis Peres, afirma que os metais representam 32% dos custos de produção destas empresas. Em produtos como registros de gaveta (para abrir linha geral), o latão chega a representar metade dos custos.

"Não é mais possível conter este aumento nos preços, existe risco de as empresas quebrarem. O setor está acostumado a oscilações, mas não com altas como estas", diz Peres. O receio não é para menos. Desde o começo do ano, o preço do cobre saltou 89,94% em dólar, o que representa um avanço de 69,44% em reais. No zinco, o aumento foi de 99,79% em dólar e de 78,23% em reais. O alumínio avançou 26,9% este ano em reais.

Diante deste cenário, a CSN já vislumbra oportunidades de o aço tomar o posto do alumínio em alguns setores. De acordo com o diretor comercial, Luiz Martinez, a siderúrgica deve começar nos próximos meses uma campanha na região Nordeste para ampliar as vendas de telhas de aço. A empresa também espera ganhar espaço no setor de embalagens para bebidas e alimentos, onde ganhou nos últimos 15 anos forte concorrência do papel, do alumínio e dos plásticos.

Apesar das margens cada vez mais estreitas - em que tem que arcar com os aumentos de preços e penar para repassar o reajuste às engarrafadoras - o setor de embalagens para bebidas não deve trocar o alumínio pelo aço na produção de latinhas. Segundo Jorge Bannitz, diretor comercial da Latapack, a mudança de maquinário para substituir a folha de alumínio pela de aço exigiria investimentos "razoáveis" e parada de produção. "Só faríamos tal mudança se houver uma mudança estrutural, o que só seria percebido entre um e dois anos", disse.