Título: Previdência avança
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 12/05/2006, Eu &, p. D1

De janeiro a abril, os fundos de previdência aberta captaram o equivalente a 14% do patrimônio existente no fim do ano passado. O fluxo líquido de recursos - descontados os saques - foi positivo em R$ 2,3 bilhões no período, de acordo com dados do site Fortuna. A consultoria leva em conta os planos do tipo Vida Gerador de Benefícios Livres (VGBL), Plano Gerador de Benefícios Livres (PGBL) e os Fapis. Mas essa entrada, segundo analistas, é puxada principalmente por investidores que observam os planos muito mais como um produto financeiro do que como uma carteira de previdência. Eles optam por esses fundos diante dos benefícios tributários, mais importantes ainda em um cenário de queda dos juros. "Os investidores que procuram a previdência como um fundo de investimento de longo prazo são aqueles que representam maior volume de aplicações", diz Osvaldo do Nascimento, presidente da Associação Nacional da Previdência Privada (Anapp).

Segundo análise do Fortuna, da captação deste ano, 72% vêm de investidores de alta renda, que costumam aportar recursos maiores. São eles os maiores beneficiados pelas últimas mudanças tributárias do setor, que concedem alíquota de imposto de renda de até 10% para recursos que permaneçam aplicados por dez anos, explica Marcelo D'Agosto, sócio do Fortuna. Nos fundos de investimento regulares, essa alíquota cai no máxima para 15%.

De acordo com estimativa de Nascimento, cerca de 30% da carteira de investimentos da população brasileira será sacada apenas no longo prazo. Para essa parcela, a previdência privada é a melhor alternativa. "Como o volume de reservas em previdência atualmente é de R$ 85 bilhões, ainda há um grande potencial para crescer pela transferência de recursos de outros investimentos." Ele explica que, atualmente, mais da metade dos depósitos em previdência privada é dinheiro que saiu de outros tipos de aplicações. Apesar de os investidores de baixa renda também marcarem presença cada vez maior no setor, o volume de recursos das classes mais baixas em previdência ainda representa pouco, explica Nascimento. Segundo a Anapp, até março, eram 7,5 milhões os participantes com planos individuais no país, número 11% maior do que no mesmo período do ano passado. Isso revela o ingresso de cada vez mais pessoas no sistema.

Reflexo de que a previdência como opção de poupança de longo prazo cresce é o avanço dos planos para crianças, em geral com a intenção de bancar a faculdade ou as primeiras despesas na vida adulta. Segundo a Anapp, os planos para menores tiveram crescimento de 11% na captação bruta no primeiro trimestre em relação ao ano passado, chegando a R$ 70,4 milhões.

O vice-presidente executivo e diretor de Previdência da Porto Seguro, Fabio Luchetti, também nota aumento da procura de produtos como diversificação de investimentos. "Isso ocorre principalmente por parte dos investidores que aplicam em ações, porque esses já têm uma noção maior do que é investimento de longo prazo, como a previdência." Para esses aplicadores, a nova tabela regressiva do imposto de renda e a ausência do recolhimento semestral que ocorre nos fundos de renda fixa são vantagens que fazem extrema diferença no longo prazo, diz.

Ao investir em previdência, comenta Luchetti, muitos investidores dividem os recursos. Parte vai para planos com tributação antiga, pela tabela progressiva do IR, que vai até 27,5% independentemente do período de investimentos e permite deduções. Outra parte, dos recursos que eles sabem que não serão necessários no curto prazo, vai para fundos que seguem a tabela regressiva, cuja alíquota cai de 35% a 10% conforme o prazo da aplicação. "Mas ainda apenas um terço dos recursos investidos aqui na Porto Seguro têm como destino planos da tabela regressiva", diz.

Luciano Snel, diretor de Marketing da Icatu Hartford, acredita que a previdência privada tenha ainda extenso potencial para crescer no Brasil ao atrair mais recursos dos investidores já cativos. "Mais da metade dos nossos clientes tem reservas abaixo de R$ 5 mil, o que revela que ou são recentes ou que ainda aplicam pouco", diz. A queda do juro e o aumento das metas financeiras desejadas para o futuro podem estimular o participante a reavaliar sua carteira e, na maioria das vezes, passar a investir mais, completa ele.

Com a trajetória de queda da taxa de juros, diversas projeções de remuneração média dos valores destinados a planos de investimentos têm-se revelado incorretas. Na medida em que o rendimento dos recursos será menor, seria, portanto, necessário investir mais hoje para obter a renda pretendida no futuro previamente, quando as aplicações foram iniciadas. A alternativa a aplicar mais para compensar essa queda no rendimento seria transferir os recursos de planos de renda fixa para os compostos e tentar obter uma rentabilidade maior, diz Snel.

Embora o primeiro quadrimestre deste ano tenha sido atipicamente bastante fértil para a bolsa de valores, o período mostrou como os planos de previdência com ações - ou balanceados - podem render muito mais que os de renda fixa. Esses foram os fundos mais rentáveis do período, segundo estudo do site Fortuna. De acordo com a consultoria, no ano, os planos de renda fixa rendem, em média, 5,18%, enquanto as carteiras balanceadas avançam 8,44%. Nos últimos 12 meses, os renda fixa lucraram 17,64% e os planos balanceados subiram 25,20%. Atualmente, segundo o Fortuna, 93% dos recursos aplicados em previdência privada estão alocados em planos de renda fixa.