Título: Apenas 15 da "Operação Sanguessuga" serão investigados pela Câmara
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Fonte: Valor Econômico, 11/05/2006, Política, p. A9

Depois de duas horas e meia de reunião fechada, a Mesa Diretora da Câmara decidiu ontem separar em três grupos os nomes dos 62 deputados que constam da lista da Polícia Federal nas investigações sobre a compra irregular de ambulâncias. No entanto, de acordo com informações extra-oficiais, apenas 15 deputados serão investigados pela Casa.

Segundo o presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PC do B-SP), um grupo será investigado pela comissão de sindicância da Corregedoria da Casa. Contra estes deputados há indícios de que teriam recebido o dinheiro para destinar emendas ao Orçamento para comprar ambulâncias.

A outra turma de parlamentares, que tem assessores presos pela "Operação Sanguessuga", também deverá ser investigada, mas os processos só serão abertos depois que forem aprofundadas as investigações sobre os servidores pela comissão de sindicância da Câmara, ligada à diretoria-geral da Casa.

O terceiro grupo terá o processo arquivado porque não foram encontrados indícios sobre a participação dos deputados no esquema ilegal.

O corregedor-geral da Câmara, Ciro Nogueira (PP-PI), reagiu às críticas de que pode estar saindo uma nova "pizza" para livrar os parlamentares de um processo de cassação. "É brincadeira falar em pizza", disse.

Os três deputados que integram a Mesa e foram citados na lista - Eduardo Gomes (PSDB-TO), João Caldas (PL-AL) e Nilton Capixaba (PTB-RO) - não participaram da reunião de ontem.

A comissão de sindicância da Corregedoria da Casa será formada por cinco deputados - Givaldo Carimbão (PSB-AL), Jorge Alberto (PMDB-SE), Odair Cunha (PT-MG), Robson Tuma (PFL-SP) e Ciro Nogueira (PP-PI).

Ontem, a assessora do Ministério da Saúde Maria da Penha Lino entregou para a Polícia Federal e Ministério Público Federal um CD-ROM contendo os nomes de todos os parlamentares que apresentaram emendas ao Orçamento para realizar a compra superfaturada de ambulâncias. A informação foi dada por seu advogado, Eduardo Mahon.

Segundo Mahon, o CD contém também o número de ambulâncias e ônibus comprados por esse esquema, as prefeituras que receberam esses veículos, o autor da emenda parlamentar e o responsável pela entrega dos equipamentos superfaturados.

Em depoimento para a Polícia Federal, Maria da Penha indicou em uma lista o nome de 170 parlamentares que supostamente teriam recebido propina para apresentar emendas ao Orçamento. A assessora foi presa na semana passada pela Polícia Federal durante a "Operação Sanguessuga", que resultou na prisão de 47 pessoas - sete estão foragidos.

A PF não divulgou os nomes apresentados pela assessora da Saúde. Conforme a PF, o esquema de fraude funcionava com a empresa Planam, de Mato Grosso, elaborando projetos para fornecimento de ambulâncias a prefeituras. A assessora disse à PF, segundo seu advogado, que o dinheiro da propina chegava ao Congresso em malas, nos bolsos e até em cuecas e meias de motoristas e funcionários da Planam.

Maria da Penha foi funcionária da Planam de 2003 a março de 2005. Em seu primeiro depoimento à PF no dia 4, afirmou que foi convidada a trabalhar no Ministério por Saraiva Felipe, sem interferência da Planam. Saraiva saiu da pasta, que foi assumida por Agenor Álvares.