Título: Depoimento de Silvio Pereira frustra oposição
Autor: Raymundo Costa
Fonte: Valor Econômico, 11/05/2006, Política, p. A10

A crise desencadeada pela entrevista do ex-secretário-geral do PT Silvio Pereira deve perder força, na avaliação do PT e partidos aliados. Mesmo a oposição saiu frustrada do depoimento prestado ontem pelo ex-secretário, que nada acrescentou ao que era de conhecimento público. Para o governo foi um testemunho "inconveniente", mas que provavelmente o discurso da oposição, que continuará a explorar politicamente o caso mas, sem um fato novo e de impacto, não causará mais embaraços do que já causou até agora.

Por intermédio do PT, o Planalto monitorou Silvinho, como é chamado pelos antigos companheiros, antes e durante boa parte do depoimento à CPI. Havia duas interpretações para a entrevista do ex-secretário: publicada no dia das prévias do PT para a escolha do candidato ao governo do estado, parecia um ajuste do contas com o senador Aloizio Mercadante. Pela outra interpretação, transmitida pelo próprio Silvinho a dirigentes partidários, o ex-secretário teria mordido uma "isca" lançada pela jornalistas que o entrevistou.

Dias antes, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva participara do Encontro Nacional do PT. Ao discursar, disse que o partido e alguns de seus dirigentes erraram mas, sendo companheiros, deveriam ser defendidos. A seguir citou o ex-ministro José Dirceu, que foi ovacionado, e o ex-presidente da sigla José Genoino - o presidente inclusive teria dito que ele colocara Genoino "nessa fria (assumir a presidência do partido)".

Silvio, pela versão chegada ao Planalto, avaliou que Lula "reabilitara" Dirceu e e Genoino e o condenara. Foi procurado pela jornalista e resolveu falar. Mas já na quinta-feira da semana passada teria se dado conta de que modera uma "isca", de que seria um "instrumento" para a oposição reacender o caso Marcos Valério e tentou recuar. Era tarde. O ex-secretário-geral Silvio Pereira faz acompanhamento psicológico já há algum tempo.

Segundo apurou o Valor, o senador Aloizio Mercadante achou que era algo contra ele assim que leu a entrevista de Silvinho. Publicada no dia da eleição prévia do PT, de novo mesmo as declarações de tinham apenas a inclusão de seu nome, ao lado de Lula, José Dirceu e Genoino, na cúpula que mandava no partido, e o débito que teria sido deixado por sua campanha ao Senado, que ele não reconhece. A interlocutores, Mercadante disse que, de fato, até 2002, esse era o núcleo dirigente do PT. Com a chegada de Lula ao Planalto, a direção passou para a geração seguinte, que causou todos os problemas vividos pelo partido.

Mercadante suspeitou que Dirceu estivesse por trás da iniciativa de Silvinho, conferiu com suas fontes do PT, mas hoje estaria convencido, segundo apurou o Valor, que o o ex-ministro nada teve a ver com o caso. Nas conversas com o PT, no entanto, o senador não se mostra igualmente convencido em relação a outros adversários, dentro do partido, de sua candidatura ao governo do Estado de São Paulo.

No Planalto, o presidente Lula acompanhou o depoimento de Silvio Pereira por meio de relatos transmitidos por assessores. Aliados que estiveram com o presidente deixaram seu gabinete classificando o depoimento do ex-secretário de "uma doidice", uma espécie de tábua de salvação para a CPI dos Bingos, que parecia sem gás, mas que será "inócuo" para os desdobramentos da crise. Sobretudo, segundo esses aliados, teria ficado claro que o empresário Marcos Valério de fato tentou montar um esquema no governo, mas não conseguiu.

No Congresso, o depoimento de Silvinho na realidade causou menos comoção do que a revelação de que 170 deputados participariam do esquema para a compra superfaturada de ambulâncias, com verbas do Orçamento. Na cúpula do Congresso atribui-se o vazamento da informação a setores do governo interessados em desviar a atenção do depoimento de Silvio Pereira. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que assumiu ontem à noite a Presidência da República, se queixou da generalização das acusações. "Todos querem ver concluído o processo de depuração das instituições", disse, mas com a "punição dos efetivamente culpados".