Título: Quanto pesa um prefeito?
Autor: Almeida, Daniela
Fonte: Correio Braziliense, 07/09/2010, Política, p. 2

Enquanto petistas enfatizam desde o ano passado a parceria com os titulares dos Executivos municipais para arregimentar votos no interior, o PSDB enxerga a relação de forma mais distanciada, informal

São Paulo Eles têm ao seu dispor a máquina administrativa. Principalmente nas cidades menores, encontram seus eleitores a cada esquina, na padaria ou no supermercado. Por isso mesmo, em um país com dimensões continentais e 5,5 mil municípios, os prefeitos podem funcionar como cabos eleitorais eficientes.

De olho nesse potencial de transferência de votos, a menos de um mês das eleições, enquanto o PT busca angariar o apoio de chefes dos Executivos municipais na tentativa de ampliar os resultados nas urnas, o PSDB tenta uma virada no quadro eleitoral com a ajudinha dos prefeitos paulistas.

Comuma estratégia complexa e organizada, o PT estima que tenha hoje cerca de 3,7 mil prefeitos apoiando a candidatura de Dilma Rousseff, a melhor colocada nas pesquisas.

Dentre eles, 500 são de partidos de fora da coligação. A estratégia é a mesma de 2006, quando o principal diferencial da campanha foi o apoio de prefeitos de outros partidos.

Os prefeitos não querem se arriscar e dar muito peso para alguém que corre o risco de perder. Eles entram quando o jogo já está meio que definido, por isso o PT consegue mobilizar mais prefeitos, explica o cientista políticoMalco Camargos, da PUC-MG.

Segundo Bruno Renato Teixeira, coordenador da SecretariaNacional de Assuntos Institucionais, o partido montou ao menos um comitê pluripartidário em cada estado.

Nos maiores colégios eleitorais, como São Paulo, este número chega a sete. O Rio de Janeiro conta com três comitês. Durante aMarcha dos Prefeitos,emBrasília, recebemos a declaração de apoio de 1,5 mil chefes de Executivo municipal, em junho, conta Teixeira. Entendemos que os prefeitos e vereadores são os que melhor dialogam com a sociedade.Queremos tê-los como parceiros. Uma equipe no comitê central do PT se ocupa do envio de material de campanha para os comitês estaduais, casa as agendas dos prefeitos para que participem dos compromissos eleitorais deDilma e do candidato a viceMichelTemer (PMDB-SP) e até mesmo monitora amobilização pormeiode ligações frequentes.

Vale lembrar que apenas PT e PMDB, principais partidos na coligação, reúnem juntos 1,7 mil prefeitos (veja quadro). O PT não fechou essa aliança com o PMDB só por conta do tempo de TV, mas pela capilaridade do partido nos municípios, avalia Carlos Melo, cientista político do Insper Instituto de Ensino e Pesquisa.

Redutos Sem uma estratégia tão direcionada, o PSDB estima que conte com o apoio de 1,5 mil a 2 mil prefeitos na candidatura do ex-governador de São Paulo José Serra.Opresidente do partido, senador SérgioGuerra (PE), minimiza a participação dos chefes de Executivo municipais na disputa à Presidência. Prefeitos de uma maneira geral estão envolvidos nas campanhas estaduais. O Lula ganhou a eleição quando não tinha apoio nem de 10 prefeitos. E já ganhou com o apoio de 160 prefeitos. Os prefeitos são importantes nas eleições proporcionais. De acordo com Guerra, a mobilização dos prefeitos no PSDB se dá de maneira mais informal, no dia a dia da campanha.Ofoco são os maiores redutos eleitorais e a responsabilidade fica a cargo dos coordenadores estaduais da campanha de Serra ou dos coordenadores das campanhas nos estados.Mas a mobilização não segue uma só diretriz ou modelo.

Nos casos em que as campanhas estaduais estão mais próximas da federal, eles fazem a mobilização.Quando não estão tão próximas, a gentemesmose encarrega disso, diz Guerra.

Olhar no café com leite

Com os altos índices de intenção de voto registrados pela candidata Dilma Rousseff (PT) nas pesquisas, a campanha de José Serra (PSDB) tentaumavirada a partir do apoio dos prefeitos paulistas e mineiros. A ideia é aproveitar o bom resultado do candidato tucano ao governo paulista Geraldo Alckmin, a força do PSDB no interior de São Paulo e a capilaridade e popularidade de Aécio Neves, ex-governador deMinas, principal cabo eleitoral da reação de Antonio Anastasia e candidato com vaga praticamente assegurada no Senado.

Para tanto, o partido organizou na semana passadaumevento com a presença de 353 prefeitos da base emesmo alguns (cerca de 20, segundo a organização) de fora da coligação.

A marca representa quase a metade dos dirigentes de São Paulo, que somam 645 prefeitos.

Na mais recente pesquisa Ibope, o candidato do PSDB à Presidência da República, José Serra, perdia em São Paulo para Dilma Rousseff por 42% a 35%.No âmbito nacional, a disputa estava 51% para a petista e 27% para o tucano. Já na briga pelo governo do estado, Alckmin aparece com 47% das intenções de voto, seguido por Aloizio Mercadante (PT), com 23%. Integrantes da campanha tucana no estado estimam que o empurrão dos prefeitos paulistas possa ajudar a alavancar Serra e levar a eleição ao segundo turno.

A presença maciça dos prefeitos da base tucana no evento organizado em São Paulo, contudo, não necessariamente significa trabalho efetivo. Uma coisa é participar dessas reuniões, outra coisa é colocar a máquina partidária na rua, afirma CarlosMelo, cientista político do Insper. Não tem ninguém mais pragmático neste mundo que político. Se eles avaliarem que não dá mais, não vão se dedicar. É possível que mantenham apenas as aparências, até porque vão depender muito desse futuro governador, que deve ser o Alckmin, com reais possibilidades de ganhar.