Título: Produção de insumos patina e cresce apenas 0,6% no ano
Autor: Lamucci,Sergio
Fonte: Valor Econômico, 01/09/2011, Brasil, p. A6

A produção industrial de julho confirmou o mau momento do setor no ano, em especial dos segmentos que produzem insumos e matérias-primas. A fabricação de bens intermediários caiu 0,7% em relação a junho, feito o ajuste sazonal, levando o crescimento no ano a ficar em apenas 0,6%. É um sinal de baixo apetite da indústria nacional por insumos, assim como da perda de espaço para o produto importado. O contraponto tem sido o desempenho favorável do setor de bens de capital, que viu a sua produção em julho crescer 1,7% sobre junho. No ano, a alta é de 5,5%, um sinal de que o investimento ainda tem fôlego.

A produção da indústria geral cresceu 0,5% na comparação com junho, alta insuficiente para recuperar o tombo de 1,2% do mês anterior. De janeiro a julho, a indústria acumula alta de apenas 1,4%, o que faz aumentar as apostas de que a expansão no ano será muito baixa, próxima de 2% - em 2010, o crescimento foi de 10,5%.

O economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Rogério César de Souza, vê com especial preocupação o desempenho fraco do setor de bens intermediários, responsável por mais de 50% da produção industrial. Segundo ele, o segmento pode ser considerado um termômetro da atividade industrial, por indicar as compras realizadas internamente na indústria. E o termômetro revela um quadro dos mais desapontadores, segundo ele, para quem está em curso um aumento da substituição do insumo nacional pelo produzido fora do país, facilitado pelo dólar barato. Enquanto a produção de bens intermediários cresceu 0,6% de janeiro a julho, o volume importado avançou 9,2%, segundo números da Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex). Para Souza, a desaceleração da economia brasileira também ajuda a explicar o resultado pífio do setor de intermediários.

A economista-chefe da Rosenberg & Associados, Thaís Marzola Zara, também vê o aumento da concorrência importada como um motivo importante para o mau desempenho da produção local de bens intermediários. O câmbio valorizado, a carga tributária elevada e o alto custo de capital minam a competitividade da indústria brasileira, que passa a buscar o insumo importado como alternativa para reduzir custos, diz ela. De janeiro a julho, a fabricação de produtos químicos recuou 2,7% em relação ao mesmo período de 2010, enquanto a de metalurgia básica caiu 0,1%. Já a de celulose e papel cresceu 1% e a de borracha e plástico, 0,9%.

O setor de bens duráveis (como automóveis e eletroeletrônicos) também vai mal em 2011, sofrendo bastante com a competição dos importados. Nos sete primeiros meses do ano, a produção do segmento subiu 1,9%, bem menos que os 34,2% registrados pelas importações.

O cenário para o setor de bens de capital parece mais positivo, com a produção subindo bem acima dos outros setores. Isso indica que a disposição em investir na ampliação da capacidade produtiva segue favorável. Para o economista Thovan Tucakov, da LCA Consultores, o fato de o Programa de Sustentação de Investimento (PSI) do BNDES ter sido mantido, ainda que com juros maiores e prazos menores do que antes, dá algum fôlego ao segmento, percepção que é compartilhada por Souza.

O segmento de bens de capital que vai melhor neste ano é o de produtos ligados à construção civil, com alta de quase 18% no acumulado do ano. "A construção ainda vai bem. A produção de insumos típicos para a construção está estável há três meses, mas em nível recorde", afirma Thaís. Outro segmento que exibe bom desempenho é o de bens de capital para equipamentos de transporte (que inclui ônibus e caminhões), com alta de 13% de janeiro a julho.

Para o gerente de coordenação de indústria do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), André Macedo, as importações, a menor demanda interna, os estoques altos, as paradas de produção e os efeitos das medidas para restringir o crédito contribuíram para que a produção industrial tomasse um ritmo mais moderado a partir do segundo trimestre. (Colaborou Rafael Rosas, do Rio)