Título: Brasil falhou com sócios menores do Mercosul, diz Amorim
Autor: Sergio Leo
Fonte: Valor Econômico, 10/05/2006, Brasil, p. A2

Os uruguaios têm razão de estarem decepcionados com o Mercosul, porque o Brasil falhou em fazer com que o bloco melhorasse a situação dos sócios menores, disse o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, na Comissão de Relações Exteriores do Senado.

Amorim queixou-se da dificuldade em promover medidas para facilitar a integração e o desenvolvimento conjunto entre o Brasil e seus vizinhos. "Não podemos criar uma política industrial brasileira e tratar do Mercosul como apêndice", criticou. "Se eu fosse uruguaio, também estaria desiludido com o Mercosul."

"Se algo faltou na política externa brasileira, foi ter uma atitude mais aberta e de mais longo prazo com nossos parceiros no Mercosul", disse o ministro, ao contestar a afirmação de senadores de oposição de que os equívocos ideológicos da política externa fizeram o Brasil perder para a Venezuela a liderança na América Latina.

Amorim defendeu entusiasticamente os esforços de integração e de aproximação com os vizinhos, como a política de "substituição competitiva de importações" que tenta trocar, na balança comercial brasileira, fornecedores de outros países por latino-americanos. Ao comentar as recentes declarações de contrariedade do presidente do Uruguai, Tabaré Vásquez, e os gestos do uruguaio em direção a um acordo comercial com os Estados Unidos, Amorim lembrou que o país vizinho era um dos mais entusiasmados com o Mercosul, que, no entanto, não incentivou o crescimento nacional.

"É um problema cultural: temos de ter generosidade, estender os empréstimos do BNDES, ter políticas de compras governamentais para produtos uruguaios", exemplificou, ao queixar-se de que o Brasil não fez "o suficiente" por Uruguai e Paraguai. "Falamos muito e fizemos pouco." Para Amorim, "a integração da América do Sul é nosso destino; se não for por bem será por mal".

Amorim afirmou que a política externa não pode ser culpada por acontecimentos internos dos países da América do Sul, como as crises em países andinos ou conflitos entre governos da região. Ele rechaçou as críticas à desmoralização da pretensa liderança brasileira no continente, informando que autoridades de países americanos disseram só participar da cúpula União Européia-América Latina e Caribe se for confirmada a presença de Lula. O presidente brasileiro foi procurado pelo presidente conservador da Colômbia, Álvaro Uribe, em busca de apoio e conselhos, durante a crise na Comunidade Andina, lembrou, enfático.