Título: Alckmin quer mais participação de Serra
Autor: Raquel Ulhôa
Fonte: Valor Econômico, 10/05/2006, Política, p. A5

O ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) quer maior engajamento do ex-prefeito de São Paulo, José Serra (PSDB), à sua pré-campanha à Presidência da República. Lula Marques/Folha Imagem Alckmin e Tasso: tucanos e pefelistas cobraram do candidato um discurso mais contundente sobre questões nacionais

Depois de reunião com deputados do PSDB e do PFL, ontem, em Brasília, que decidiu intensificar as viagens e "regionalizar" o conteúdo do discurso, Alckmin disse ter convidado Serra a viajar com ele por outros Estados, sem prejuízo de sua própria pré-campanha ao governo de São Paulo.

"Já combinei com Serra que, podendo, ele vai dar um giro pelo país conosco", disse. Alckmin almoça hoje com o vereador José Aníbal (PSDB), em São Paulo, para tentar convencê-lo a desistir de disputar com Serra a indicação do partido para ser candidato ao governo estadual.

Na reunião do candidato do PSDB com tucanos e pefelistas, em Brasília, foi constatada a necessidade de estruturar melhor a pré-campanha. Tanto as bancadas do PSDB como do PFL têm demonstrado insatisfação com a forma como a campanha vem se desenvolvendo.

Além de viajar mais e de adaptar seu discurso às peculiaridades e demandas dos locais visitados, Alckmin foi aconselhado a dar opiniões mais "contundentes" sobre questões nacionais que ocupam as manchetes da mídia, como a nacionalização do gás e do petróleo pela Bolívia.

"Um dado curioso é que não há nada mais estadual do que uma eleição presidencial. Não só a conjuntura do Estado vai definir o rol de apoios, como o discurso do candidato só terá esses apoios se estiver sintonizado com o anseio da população local", definiu o coordenador da equipe responsável pelo programa de governo de Alckmin, João Carlos Meirelles.

O Nordeste - região em que o tucano tem seu pior desempenho nas pesquisas eleitorais e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva é favorito - continua sendo prioridade, mas a idéia é apressar as viagens ao país todo. Amanhã o tucano vai para a Bahia, onde fica até sábado. Participará de uma série de eventos organizados pelo grupo político do senador Antonio Carlos Magalhães (PFL).

Também participa de encontro com lideranças tucanas, organizado pelo presidente do diretório do PSDB, deputado federal Jutahy Júnior, líder da bancada na Câmara. O partido está rachado na Bahia. Jutahy nega-se a apoiar a reeleição do governador Paulo Souto (PFL) e defende aliança com o PDT no Estado. Alckmin já manifestou publicamente apoio a Souto. Não haverá eventos comuns aos dois partidos no Estado.

Se cobraram do candidato tucano uma "postura mais marcante" em relação a questões de relevância nacional, os deputados defenderam, por outro lado, que ele evite posição mais agressiva. Prevaleceu a tese de que o pré-candidato deve ser "propositivo" e os ataques mais duros contra o governo devem partir dos líderes no Congresso e dirigentes partidários.

Um dos maiores problemas enfrentados por Alckmin até agora na corrida presidencial é seu baixo índice de conhecimento no país. Como ex-ministro e adversário de Lula na eleição de 2002, Serra é nacionalmente conhecido.

As pesquisas de intenção de voto realizadas antes da escolha de Alckmin pelo PSDB registravam um desempenho melhor de Serra no confronto com Lula nas próximas eleições. Apesar disso, o ex-governador não abriu mão da disputa a acabou escolhido.

Aliados do ex-prefeito defendem que ele concentre esforços em sua pré-campanha. "A maior ajuda que o Serra poderia dar à campanha de Alckmin ele já deu: ser candidato ao governo de São Paulo, garantindo um palanque fortíssimo na corrida presidencial. Foi uma prova de desprendimento, humildade e coragem", disse Jutahy Júnior.

Ao comentar a escolha do senador Aloizio Mercadante (PT-SP) como candidato do PT ao governo paulista, Alckmin fez elogios a Serra - com quem disputou no PSDB a vaga de candidato ao Planalto. "A escolha entre Mercadante ou Marta Suplicy para nós é indiferente, porque temos o melhor candidato", disse.