Título: 11/9 pesou na economia dos EUA, mas não foi decisivo
Autor: Wessel,David
Fonte: Valor Econômico, 01/09/2011, Internacional, p. A14

Osama bin Laden jurou fazer a América sangrar "a ponto de ir à falência, se Alá quiser". Ele não conseguiu. Os custos dos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 foram enormes para os EUA, mas não tanto quando se imagina.

Apesar do receio, os atentados de 11 de setembro não desencadearam uma forte recessão; o estouro da bolha do setor imobiliário foi pior. E, apesar das filas nas áreas de segurança dos aeroportos, eles não diminuíram a eficiência da economia americana; a produtividade continuou crescendo.

Mas o 11 de setembro custou muito de outras formas. Os ataques levaram aos conflitos do Afeganistão e do Iraque, guerras que já custaram o dobro do valor gasto no Vietnã, ajustado pela inflação.

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Colocar um preço nas vidas perdidas em 11/9 é impossível. Quase 3.000 pessoas foram mortas nos ataques. Mais de 6.200 soldados americanos morreram no Afeganistão e no Iraque. Medir o impacto de 11/9 sobre a mente e o senso de segurança e de liberdade dos americanos é difícil.

Mas é possível, ao fazer a retrospectiva de uma década, começar a calcular os custos econômicos mensuráveis.

Num gráfico que acompanha o Produto Interno Bruto (PIB) do país, o 11/9 não aparece nem como um desvio. "Os eventos de 11/9, apesar de trágicos, não empurraram uma economia desaquecida do limbo direto para uma retração", concluiu Gail Makinen, do Serviço de Pesquisa do Congresso. Uma recessão moderada começou seis meses antes dos ataques e terminou em novembro de 2001.

O consumo e a confiança do consumidor de fato despencaram logo após os ataques, mas se recuperaram. O mesmo aconteceu com as bolsas, que voltaram a operar nos níveis anteriores a 11/9 no fim do ano e seguiram em alta. Naquela época, o então presidente do Federal Reserve, o banco central americano, Alan Greenspan, alertou que um segundo ataque da Al Qaeda destruiria a frágil confiança do consumidor e do empresariado, mas o segundo ataque não aconteceu. "A resistência da economia em geral me comoveu", escreveu Greenspan em seu livro de memórias.

Nem tudo estava bem - mas é difícil culpar a Al Qaeda. A Enron foi à falência em dezembro de 2001, a WorldCom em 2002. Depois veio a epidemia da gripe aviária. Depois o pavor da deflação, que levou o Fed a manter os juros em níveis historicamente baixos, no mesmo patamar depois de 11/9 contribuindo, de alguma forma, para a bolha imobiliária.

Com a determinação de prevenir novos ataques quase a qualquer custo, os EUA fizeram adaptações caras nos aeroportos, nos escritórios de autoridades, sinagogas, mesquitas, fronteiras, bancos e em outros lugares. Outras forças econômicas aparentemente sufocaram a produtividade sacrificada na busca por segurança, apesar de que a pergunta sobre qual seria o uso alternativo daquele dinheiro é difícil de ser respondida.

Claro que alguns setores foram atingidos com força. O custo e os incômodos das viagens aéreas aumentaram. A investigação mais rigorosa para visitantes do exterior reduziu o fluxo de turistas. Em 2000, o Departamento de Comércio registrou 26 milhões de visitantes de outros países, fora o Canadá e o México. O total caiu para menos de 20 milhões nos anos seguintes ao 11/9, e não superou o nível de 2000 até o ano passado - apesar de um salto nas viagens em todo o mundo.

O atentado de 11/9, obviamente, gerou o Departamento de Segurança Interna e a explosão dos gastos relacionados. O birô de orçamento da Casa Branca estima que os EUA vão gastar US$ 70 bilhões em segurança nacional este ano, quase o triplo do valor gasto antes dos ataques. Nos últimos dez anos, os gastos em segurança nacional do governo federal (acima dos níveis anteriores aos ataques) totalizaram US$ 360 bilhões.

E isso se refere apenas a Wa-shington. No novo livro "Terror, Security and Money", (Terror, Segurança e Dinheiro, ainda sem tradução no Brasil) que tenta analisar o custo-benefício da segurança nacional, os acadêmicos John Mueller e Mark G. Stewart estimam que as agências de inteligência federal, os governos locais e estaduais e o setor privado gastaram outros US$ 330 bilhões nos últimos dez anos.

E então vieram as guerras.

Ficou imediatamente claro que os EUA iriam retaliar, mas poucos imaginavam que o país teria tropas no Afeganistão dez anos depois, sem mencionar no Iraque. E a um custo elevado.

Desde setembro de 2001, o Congresso liberou quase US$ 1,3 trilhão para as operações no Afeganistão e no Iraque.

O valor não leva em conta aumentos no orçamento de defesa - é o custo de substituir equipamentos danificados nas zonas de combate ou para tratamento dos feridos. Compare-se esse total ao preço de US$ 738 bilhões (em valores atualizados) da guerra do Vietnã, de acordo com o Serviço de Pesquisa do Congresso.

Os conflitos não provocaram o inchaço do déficit do orçamento, mas contribuíram com ele. Os gastos com guerras responderam por 40% do déficit em 2008.

Desde então, a recessão e os pacotes de estímulo passaram a liderar o déficit, superando custos com os conflitos. E os déficits futuros serão puxados muito mais pelos gastos com saúde e benefícios de aposentadoria do que pelas duas guerras, que um dia, irão acabar.

A cobertura de remédios com receita para maiores de 65 anos, por exemplo, está prevista para custar aos contribuintes US$ 930 bilhões nos próximos dez anos.

Mas uma questão difícil ainda perdura: Tudo isso valeu a pena? Estamos assim tão mais seguros?