Título: Da Paraíba à Barra da Tijuca, Suassuna emergiu do baixo clero à cúpula do PMDB
Autor: Thiago Vitale Jayme
Fonte: Valor Econômico, 10/05/2006, Política, p. A8

Nome mais insigne na constelação de parlamentares de segunda linha relacionados na "Operação Sanguessuga", o senador Ney Suassuna em pouco menos de dois mandatos aliou à condição de político folclórico e clientelista uma passagem pelo ministério de Fernando Henrique Cardoso e hoje ocupa a estratégica função de líder do PMDB, a maior bancada do Senado. É o exemplo acabado do baixo clero que deu certo. Atribui o envolvimento lateral de seu nome no esquema de compras superfaturadas de ambulâncias à ação de dois "vigaristas" que trabalhavam em seu gabinete, que demitiu tão logo as acusações foram reveladas. Sergio Lima/Folha Imagem - 6/3/1996 Ney Suassuna: "Peço emendas sim. É meu papel, a razão de eu estar aqui, fazer emendas para a Paraíba"

Aos 65 anos, o professor Ney Robinson Suassuna mora no Rio de Janeiro e faz política na Paraíba, seu Estado natal. É um empresário de sucesso, dono do grupo Anglo-Americano (Colégio e Faculdades Anglo-Americano), participação societária em shopping-centers, além de outros negócios. Tem fazenda em Teresópolis e uma mansão na Barra da Tijuca. Mas seu negócio é a política paraibana. "Peço emendas sim. É meu papel, a razão de eu estar aqui, fazer emendas para a Paraíba", diz Suassuna.

No caso específico das emendas com verbas para a aquisição das ambulâncias, diz que tratou diretamente da liberação com o Ministério da Saúde. Seus assessores nada tiveram a ver elas. Pelo seu levantamento, foram liberadas emendas para 29 prefeituras, das quais apenas 13 compraram ambulâncias na empresa apontada como parte do esquema. Mas a um preço médio de mercado, cerca de R$ 80 mil. "Bem menos que os R$ 120 mil, R$ 160 mil pagos por prefeituras de outros Estados, como Mato Grosso do Sul".

Suassuna conta que ao assumir o Ministério da Integração Nacional já encontrou o assessor Marcelo Cardoso Carvalho deixado pela gestão de outro ministro pemedebista, Ramez Tebet, matogrossense como Marcelo. Quando Ciro Gomes assumiu a Integração Nacional, Marcelo foi demitido e pediu emprego em seu gabinete. Envolvido com o trabalho, Suassuna diz que não se deu conta das atividades do assessor. "Nunca podia imaginar que ele fosse capaz de tamanha imbecilidade, ainda mais por uma insignificância dessas".

O líder do PMDB justifica o trabalho para a liberação de emendas nos bastidores do governo. Na Paraíba - conta - só há dois centros com atendimento de saúde adequados: João Pessoa e Campina Grande. É para essas cidades que se dirige a população dos demais municípios, geralmente por meio de estradas sem conservação. "Minha missão é levar as emendas para a Paraíba. No meu primeiro mandato, paguei com o salário de senador a reforma de 82 ambulâncias".

Essa não é a primeira vez que Suassuna se vê no centro do furacão. A CPI do Banestado revelou suspeitas de envolvimento com lavagem de dinheiro, ao descobrir que ele movimentara cerca de US$ 3 milhões numa conta em Miami (EUA), onde tem uma casa. O senador respondeu que não enviara dinheiro para fora - o dinheiro teria entrado no país resultado de um empréstimo para o Grupo Anglo-Americano e do pagamento de alunos.

No Ministério da Integração foi acusado do desvio de verbas para três cidades - para duas delas não houve liberação de emendas e, no que se refere à terceira, as contas foram aprovadas pelos órgãos competentes. Acusação de cobrança de propina por um negócio com o governo do Rio de Janeiro foi arquivada pelo então procurador Cláudio Fontelles, apesar da discordância do Ministério Público Federal do Rio. Suassuna passou de raspão pela CPI dos Correios, apontado como intermediário na apresentação de alguns personagens envolvidos em cobrança de propina nos Correios.

Representante de um Estado pequeno do Nordeste, Suassuna deu certo pela persistência em reclamar as posições que julgava necessárias para crescer na política. Acabou ministro e hoje articula as nomeações do PMDB com o governo. Nessa trajetória, cultivou a imagem do político folclórico com afinco. Para protestar contra a falta de combate do governo FHC à seca do Nordeste, fez uma pirâmide de latas em frente ao Senado, tentou subir e se estatelou no chão. A senadora Ideli Salvatti (PT-SC) pagou o mico ao se fantasiar de juiz de paz no arraial junino que ele montou dentro do Senado.

Certa vez, trajando gravata com a efígie do Pato Donald, partiu para cima do senador Antonio Carlos Magalhães - ao contrário do que diz a lenda, o soco desferido por ACM não chegou a acertá-lo. Em comemoração aos 500 anos do descobrimento, fez uma festa para 1.500 pessoas na fazenda de Teresópolis, mas entre uma viagem com Lula ao Oriente Médio e uma festa de confraternização de candidatas a misses no Rio - costuma ser jurado do concurso -, preferiu ceder a mansão na Barra da Tijuca para as misses e viajar com Lula. "Deixei de cuidar dos negócios e da família para isso? Meu filho queria fazer política. Respondi: basta um doido na família. Desestimula".