Título: Aldo diz que lutará por honra de deputados
Autor: Thiago Vitale Jayme
Fonte: Valor Econômico, 10/05/2006, Política, p. A8

Pressionado pelos deputados citados nas investigações da Operação Sanguessuga, o presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), desabafou na tarde de ontem no plenário da Casa. Em discurso incisivo, Aldo afirmou que lutará pela honra dos deputados cujos nomes foram inseridos nas apurações da Polícia Federal sem terem qualquer envolvimento com a máfia que operava na Comissão de Orçamento e no Ministério da Saúde para superfaturar a compra de ambulâncias.

Aldo irritou alguns colegas quando enviou para a Corregedoria da Casa a lista de 62 deputados citados na documentação enviada a ele pela Justiça Federal. Na relação, constavam nomes de parlamentares que foram apenas citados em conversas telefônicas misturados aos nomes dos políticos que efetivamente têm envolvimento com o escândalo. O discurso de ontem foi uma resposta de Aldo à pressão. Alguns colegas teriam dito que ele se precipitou ao enviar todos os nomes de uma vez para a abertura de procedimento administrativo.

"A Câmara dos Deputados não protege quem não protege a Casa e não protege quem não protege o interesse público. Da mesma forma, porém, e com a mesma energia, a presidência reagirá para proteger a honra e a dignidade daqueles que, representando o povo brasileiro, têm sua honra ameaçada ou enxovalhada pela conduta de quem não sabe separar o joio do trigo", discursou Aldo, que prometeu defender a honra dos parlamentares que nada têm a ver com o esquema.

Aldo convocou uma reunião da Mesa Diretora para hoje. O corregedor-geral Ciro Nogueira (PP-PI) vai apresentar uma triagem feita junto aos documentos enviados pela Justiça Federal. "São mais de 60 deputados. Não se pode colocar todos que fizeram emendas para compra de ambulâncias como culpados. Isso não é crime. Quem estiver envolvido, será investigado. Quem teve o nome citado levianamente terá o nome arquivado imediatamente", disse Nogueira.

O vice-presidente da Câmara, José Thomaz Nonô (PFL-BA), também pediu cautela. "Qualquer coisa nesse momento pode custar a eleição de um deputado. Se for um vagabundo, tudo bem. Mas se for uma pessoa de bem, ficarei muito chateado. O estrago é sem volta", afirmou.

Se a Mesa Diretora investiga a lista enviada pela Justiça Federal, a Comissão de Orçamento, senadores e deputados já trabalham para tentar corrigir os defeitos da forma como o Orçamento da União é formulado e executado no país. O presidente da Comissão de Orçamento, deputado Gilmar Machado (PT-MG) concedeu entrevista na qual reconheceu as falhas e limitações do colegiado. Mais do que isso: o petista reconheceu que os deputados não têm conhecimento do destino do dinheiro das emendas que fazem ao Orçamento. Machado criou um Comitê Permanente de Acompanhamento e Fiscalização Orçamentária no âmbito da comissão para exercer tal função.

Com os problemas da comissão escancarados pela Operação Sanguessuga, Aldo encontrou-se na tarde de ontem com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), com o objetivo de discutir alterações no colegiado. Ficou acertada a criação de um grupo de trabalho formado por três deputados e três senadores para analisar propostas de mudanças na comissão.

Até quarta-feira, os partidos enviarão a esse time uma lista de sugestões. Elas serão incluídas em um projeto de resolução. Entre as idéias, está o enxugamento da comissão, reduzindo sua composição de 84 para 28 parlamentares. "Precisamos, também, mudar a forma de apresentação das emendas de bancada", afirmou o líder da minoria, deputado José Carlos Aleluia (PFL-BA).