Título: Analistas veem limites para segmento liderar economia
Autor: Lamucci , Sergio
Fonte: Valor Econômico, 05/09/2011, Brasil, p. A3

O setor de serviços tem sido fundamental para garantir um nível mais forte de crescimento, mas há limites para o segmento sustentar a expansão da atividade econômica do país, dizem alguns analistas. Se a indústria mantiver um desempenho anêmico por muito tempo, o desempenho do próprio setor de serviços tende a ser afetado.

O economista Silvio Sales, da Fundação Getulio Vargas (FGV), lembra que os setores da economia estão interligados. Uma desaceleração muito forte da indústria teria efeitos também sobre os serviços, diz ele. Se a indústria começa a demitir em massa, por exemplo, os operários sem emprego passam a demandar menos serviços.

O economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, diz que se uma determinado ramo da indústria desaparecer ou diminuir muito por causa da concorrência importada, os serviços ligados a ela também sofrerão. Com isso, seria uma ilusão acreditar que os serviços podem puxar a economia de modo autônomo. O economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges, afirma que, entre os segmentos de serviços, o comércio e os transportes têm uma correlação significativa com a indústria, por exemplo.

Um problema apontado por muitos analistas é que o setor de serviços ganha importância na economia brasileira num estágio em que o país ainda tem um nível médio de renda, ao mesmo tempo em que a indústria perde espaço. O mais saudável, de acordo com essa visão, seria que processo ocorresse um pouco mais à frente - no Brasil, onde a indústria de transformação responde por pouco menos de 16% do valor adicionado, o processo se daria precocemente.

Borges acredita que as dificuldades que passaram a afetar com mais força a indústria no pós-crise se devem a uma conjuntura adversa, mas que não vai durar para sempre. O Brasil passou a crescer mais que o resto do mundo, o que tornou o mercado brasileiro mais atraente para quem produz manufaturados, num momento em que as economias desenvolvidas vivem um momento difícil. Além desse diferencial de crescimento, há um elevado diferencial de juros, que atrai mais capital e, com isso, valoriza o câmbio, dificultando a vida de quem exporta ou concorre com importados. Essa situação, ainda que não deva se resolver do dia para a noite, não vai se eternizar, acredita ele. Tanto a diferença de crescimento quanto de juros deverá voltar a diminuir, melhorando as condições da indústria.

Se esse cenário não se reverter, porém, Borges diz que haverá sim motivos para preocupação. "A indústria é o setor em que há mais ganhos de produtividade, um fator fundamental para a determinação da capacidade de crescimento no longo prazo." Nesse quadro, a produtividade mais baixa do que na indústria seria um dos limites para o setor de serviços comandar sozinho a economia. (SL)