Título: Argentina tem pressa em instituir salvaguardas
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 06/12/2004, Brasil, p. A4

Brasil e Argentina discutem hoje a instituição de salvaguardas no Mercosul, em encontro entre o secretário de Comércio Internacional argentino, Alfredo Vicente Chiaradia, com o secretário-executivo do Itamaraty, Samuel Pinheiro Guimarães, em Buenos Aires. Chiaradia indicou que quanto mais rápido, melhor, o estabelecimento dessa "rede de proteção", para evitar que a recuperação da indústria argentina seja "abortada por grande fluxo de importações". Além disso, acha o instrumento "muito útil" para evitar dificuldades políticas, porque os conflitos setoriais geram mensagens de que o Mercosul não funciona. As diferenças entre Brasil e Argentina cresceram com barreiras para têxteis, calçados, geladeiras, lava-roupas, fogões brasileiros. O secretário baseia seus argumentos também em alguns estudos internacionais, para indicar que só a possibilidade de recorrer a salvaguardas já dará espaço para a Argentina ser mais "audaciosa" e avançar com segurança. Salvaguardas são medidas adotadas pelos governos, como aumento de tarifas ou fixação de cotas (restrição quantitativa), para dar proteção temporária à industria doméstica contra importações crescentes. A diferença entre salvaguarda e medidas antidumping ou direitos compensatórios é que as importações acusadas de dumping e subsídios são consideradas desleais, o que não é o caso com as importações protegidas com a criação de salvaguardas. De passagem por Genebra, o secretário argentino disse que o Mercosul, embora principal projeto estratégico e plataforma básica de inserção internacional da Argentina, precisa de aperfeiçoamentos. Em recente palestra na União Industrial Argentina (UIA), Alfredo Chiaradia sugeriu que isso passa por mecanismo ´´eficaz´´ de coordenação macroeconômica, instrumentos ´´apropriados´´ para administrar o comércio em situação de desequilíbrio, disciplinas ´´aceitáveis´´ para incentivo a investimento, produção e exportação. Ele acredita que agora, com o Mercosul entrando em período de crescimento ´´mais homogêneo´´, há mais espaço para ´´atacar as assimetrias´´. Nesse cenário, diz que vai negociar ´´com firmeza´´, mas com a consciência de que está negociando com sócios e não com adversários. Com relação à ameaça do setor privado de televisores de pedir a Brasília a abertura de denúncia na OMC contra a Argentina, Chiaradia retrucou: "Confio na avaliação do governo brasileiro."