Título: Espectadores aprovam Lula, mas mantêm críticas ao governo
Autor: Cristiane Agostine
Fonte: Valor Econômico, 06/12/2004, Política, p. A6
Espectadores aprovam Lula, mas mantêm críticas ao governo Petronilla Cledi Dal Pino, aposentada, nunca votou no PT e foi, na semana passada assistir a "Entreatos", o filme de João Moreira Salles, rodado nos bastidores da campanha presidencial de 2002- "Ele aparece no meio do povo, tem garra e fé de que pode fazer muita coisa boa para o povo. Fiquei assustada com a preocupação com a aparência. Quantas vezes ele falava da gravata. A Marisa parecia calma, sem deslumbramentos. Não é como as outras mulheres de políticos". Mônica Meirelles, estudante de economia, foi uma das 100 mil manifestantes que comemoraram a vitória de Lula na avenida Paulista em outubro de 2002. Antes de entrar na sala de exibição, dizia-se frustrada com a atuação do presidente - "Não esperava tantas concessões de um governo de esquerda". Ao deixar a sessão, Mônica usou três adjetivos para definir o presidente - "carismático, engraçado e espirituoso" - e concluiu: "Por isso é uma liderança". Janaína Bechler, psicóloga, chegou à sessão de "Entreatos" confessando-se decepcionada com a capitulação de Lula para a propaganda, responsável, diz, pela perda de militantes. "Pensei que o papel da publicidade fosse mais forte, mas Lula centralizava tudo. O Lula é especial porque conseguiu transmitir a experiência dele". Nilson Nogueira Lourenço, bancário, define-se como ex-militante petista que acompanha o partido desde a fundação. Entrou e saiu do filme dizendo que o grande trunfo de Lula é sua capacidade de se comunicar com a população. "É um cara bem-humorado, que não fugiu de suas raízes e melhorou sua comunicação, foi amadurecendo". Foto: Rogério Palatta
Eduardo Simplício, funcionário público: "Ele tem muita noção do que vai falar" Eduardo Simplício da Silva, funcionário público, estava no grupo que ajudou a arrecadar alimentos para a greve de 1979. Antes de assistir o filme, dizia que Lula levava vantagem sobre seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso, por falar às pessoas "de igual para igual". Depois do filme, acrescentou: "Ele vem dirigindo todo o processo. Ele mesmo coordenou. Tem muita noção do que vai falar e do que está fazendo". Os cinco espectadores de Entreatos foram entrevistados pelo Valor em duas das três salas em que o filme está em exibição na capital paulista no final da semana passada. São uma pequena amostra do impacto do filme de João Moreira Salles sobre a dita classe média que, segundo a maior parte das pesquisas de opinião, teria demonstrado suas insatisfações com o PT nas últimas eleições municipais. O filme ajuda a reavivar o "encantamento" com o personagem da campanha presidencial, mas não ameniza as críticas em relação ao seu governo. Depois de ressalvar as qualidades do presidente reveladas pelo filme, a estudante Mônica Meirelles retomou o tom de decepção - "O filme resgatou por duas horas aquilo que eu sentia antes. Depois volta à realidade. Lula está na cabeça do partido. Ele é o chefe do Executivo. Tentar santificá-lo é uma ilusão". O bancário e ex-militante petista Nilson Lourenço diz que a história de Lula como retirante nordestino e operário deu uma cara nova para o governo mas não impactou sua política social - "Ele está fazendo certo na política econômica, o país está crescendo, mas tem que fazer mais pela política social. Tem que cumprir a promessa de campanha". Em cartaz no Rio e em São Paulo desde o dia 26 de novembro, quando teve estréia conjunta com "Peões", documentário de Eduardo Coutinho sobre os operários do ABC paulista que conviveram com o atual presidente nas décadas de 1970 e 1980, não há expectativa de bilheterias estratosféricas. Na primeira semana de exibição na capital paulista, "Entreatos" e "Peões", juntos, não teriam chegado, segundo informações das agências de notícias, a 7 mil espectadores. "Entreatos" terá distribuição nacional pela Videofilmes.