Título: Para Brasil, tratado com EUA fará Uruguai deixar de ser membro pleno do Mercosul
Autor: Paulo Braga
Fonte: Valor Econômico, 09/05/2006, Brasil, p. A2

O governo brasileiro considera que o Uruguai não pode negociar um tratado de livre comércio com os Estados Unidos e manter seu status atual de membro pleno do Mercosul. "Lamentavelmente, neste caso não existe amizade colorida", brincou o assessor internacional do Planalto, Marco Aurélio Garcia, em entrevista coletiva em Buenos Aires. Nelson Perez/Valor Marco Aurélio Garcia: "Neste caso não existe amizade colorida"

Segundo Garcia, os vínculos do Uruguai com o Mercosul, que obrigam o país a negociar acordos comerciais junto com o bloco, são incompatíveis com uma negociação autônoma com Washington, descartando que o país possa obter um "waiver" (a isenção de algum compromisso ou obrigação de um tratado).

Os comentários de Garcia foram a primeira avaliação oficial do Brasil desde que o Uruguai intensificou as ameaças de abandonar o bloco, na semana passada. Durante visita a Washington, o presidente uruguaio, Tabaré Vázquez, disse que seu país não quer abandonar o Mercosul, mas poderia deixar de ser membro pleno se o bloco for um obstáculo para que o país negocie uma ampliação da "inserção uruguaia no mundo".

O funcionário brasileiro também disse que, até agora, não vê indícios de que o Uruguai esteja em vias de negociar um tratado de livre comércio com os Estados Unidos. Na semana passada, após encontro com o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, Vázquez disse que os dois países vão trabalhar para estreitar os laços comerciais.

Garcia também admitiu que o conflito entre o Uruguai e a Argentina em torno da instalação de duas fábricas de polpa de celulose na fronteira entre os dois países é uma questão que evidencia a debilidade institucional do bloco. O assessor presidencial afirmou que "lamentavelmente" o assunto está "confinado ao âmbito bilateral" entre Uruguai e Argentina, mas sustentou que o tema seguirá sendo abordado desta forma pelo Brasil, apesar das queixas uruguaias.