Título: Meirelles diz que age de acordo com delegação do presidente
Autor: Cristiano Romero e Alex Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 09/05/2006, Brasil, p. A3

O presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, deixou claro que a política monetária não vai mudar, em uma resposta à declaração do ministro da Fazenda, Guido Mantega, que condicionou a "sintonia" entre os dois à continuação da queda da taxa de juros. Indagado sobre se sentia pressionado, Meirelles retrucou: "Pressionado por quê? Não.", disse ele.

Meirelles falou após um dia inteiro de reuniões com outras autoridades monetárias no Banco Internacional de Compensações (BIS), na Basiléia (Suíça). Ele parou para conversar com jornalistas brasileiros. Preferiu ouvir todas as perguntas sobre as entrevistas de Mantega publicadas no fim de semana e responder de uma só vez.

Em um comentário visivelmente estudado com antecedência, ele disse que "o BC encara com muita tranqüilidade e serenidade, manifestações sobre inflação e taxas de juros no Brasil", ainda mais porque, "devido à história no Brasil, inflação e juros atraem muito interesse".

Depois de observar que acha "absolutamente normal que pessoas, inclusive autoridades, "se manifestem sobre o assunto" e que o banco "leva a sério todas as opiniões", Meirelles fez seu arremate: As decisões do BC "'são normalmente tomadas levando em conta, de um lado, a delegação dada pelo presidente da República, e de outro, as metas de inflação definidas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). O BC faz a analise técnica, olha todos os fatores prospectivos de inflação, conclui qual a política monetária mais adequada e toma suas decisões."

Meirelles não tomou a iniciativa de desmentir que seu relacionamento com o ministro da Fazenda é tenso. Calmo, sorridente e mesmo brincalhão, só depois de novas indagações sobre se a política econômica se sustentaria ao longo do tempo em meio a fricções com Mantega, é que respondeu diplomaticamente que "o relacionamento com o ministro é bom". Disse que ontem mesmo falou com o ministro "como fazemos com freqüência", para relatar a reunião do BIS - algo estranho, quando se sabe que o encontro de ontem não teve nada de excepcional.

Ao longo das questões, o presidente do BC tratou de martelar sua mensagem. Contou a conclusão de uma "discussão importante" no Fundo Monetário Internacional (FMI), semana passada, sobre modelos de crescimento para a América Latina. "A conclusão é de que a região precisa fazer reformas fundamentais, como da previdência social, e outras estruturais, para aumentar sua taxa de crescimento. Uma coisa foi consenso: a estabilidade econômica. Estabilidade econômica e inflação consistentemente na meta diminuem os preços de risco e aumentam as chances de crescimento mais elevado."

Abordando a discussão sobre a economia global, no BIS, Meirelles repetiu que o Brasil, na verdade, está à frente do ciclo econômico, porque enquanto outros países estão aumentando os juros, o país agora está baixando-os. Mas ele não comentou observações de analistas de que o Brasil é o único dos emergentes onde as taxas de juros internas não caíram na proporção das taxas em dólar que o pais paga pelos papéis no exterior.

Meirelles ainda foi indagado se tinha planos políticos. "Minha preocupação é com o BC e a inflação", disse, sorrindo.