Título: Governo estuda reduzir IPI sobre automóveis
Autor: Mauro Zanatta e Marli Olmos
Fonte: Valor Econômico, 09/05/2006, Brasil, p. A4
O governo estuda, entre outras medidas, reduzir o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) do setor automobilístico para evitar a demissão de até 6 mil funcionários da Volkswagen no Brasil, segundo informações discutidas em reunião, na tarde de ontem, entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, os ministros Luiz Marinho, Guido Mantega e Dilma Roussef, e a cúpula da empresa, no Palácio do Planalto, na presença ainda de Demian Fiocca, presidente do BNDES. A montadora alemã alega que a valorização do real em relação ao dólar pode levar a uma redução de 80 mil veículos em suas exportações. Ruy Baron/Valor O ministro da Fazenda, Guido Mantega: reunião com todas as montadoras
Antes de tomar alguma medida, porém, o governo aguardará o anúncio das estratégias dos funcionários, reunidos desde ontem na sede da Volks, em Wolfsburg. "Combinamos que o governo esperaria as decisões da assembléia", disse o presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva. Os trabalhadores analisam parar por um dia as 47 fábricas da empresa. A Volks tem 345 mil empregados em 19 países - 22 mil no Brasil.
Na reunião com Lula, o principal executivo da empresa no país, Hans-Christian Maergner, apresentou seus planos de reestruturação, fez um diagnóstico da empresa e reafirmou as projeções de demissões em função da taxa de câmbio. Antes da reunião, o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, reafirmou que o câmbio atual prejudica as exportações, mas descartou mudanças específicas para o setor automobilístico. "Se tiver decisão, vai beneficiar também outros setores prejudicados. Há um problema de câmbio que dificulta as exportações não somente do setor automotivo, mas do conjunto da economia brasileira", disse.
Depois do encontro, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que o governo quer ajudar a indústria automobilística. "Vamos estudar a situação da indústria automobilística de forma geral para que ela mantenha o bom ritmo de produção e exportação", disse. Mantega descartou, porém, um socorro especial para o Volks. "Nem haveria possibilidade. O governo nunca pode fazer uma medida para uma empresa. Ele pode, sim, adotar medidas que tenham repercussão para todas as empresas, para evitar a redução de produção e empregos", disse
Sobre a redução de IPI, Mantega adotou tom mais cauteloso. "Não estou preparado para mexer no IPI", disse. Segundo ele, o setor precisa manter a expansão da demanda e das exportações. Mantega lembrou que há 15 anos a indústria ampliou sua capacidade produtiva sem o aumento da demanda, o que criou um problema de "dimensionamento". Segundo ele, o problema tem sido solucionado e o objetivo é manter incentivos à demanda por veículos. "Se conseguirmos manter essa direção, não haverá problema", afirmou.
Mantega vai se reunir nesta semana com os representantes da indústria automobilística para discutir formas de aliviar os prejuízos que a exportação de veículos estaria acarretando às montadoras devido à valorização do real. A ampliação das linhas de crédito do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) está sendo avaliada pelo governo.
As discussões do governo federal com o setor automotivo, que sempre buscou estímulos fiscais, haviam sido interrompidas desde o início da crise política. Mas foram retomadas ontem, quando o presidente da Volkswagen foi a Brasília para se encontrar com ministros e o presidente Lula. A intenção, segundo fontes da indústria, não era que Maergner fosse o porta-voz do setor para discutir estímulos. Mas a questão cambial foi à tona à medida em que a Volkswagen apontou as perdas no mercado externo como motivo para demitir 5.772 trabalhadores nos próximos meses.
Para a reunião com Mantega nas próximas horas, que estava programada antes de o presidente da Volks se encontrar com Lula, estão convocados os dirigentes de todo o setor. Existe a expectativa de que, além de estímulos para as exportações, o governo acene com medidas para ampliar o mercado interno.
Meses atrás, o presidente Lula e o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Luiz Fernando Furlan, chegaram se mostrar publicamente simpáticos à idéia de medidas para estimular a venda de veículos no mercado interno. Os dirigentes das montadoras evitam comentar o que esperam do governo porque temem que isso prejudique o mercado, que anda bem aquecido. (Colaboraram Arnaldo Galvão e Paulo de Tarso Lyra).