Título: Falências aumentam 18,9%
Autor: Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 07/09/2010, Economia, p. 13

Os juros altos são o principal motivo dos problemas financeiros das empresas. As mais prejudicadas são as de médio porte

Os juros altos têm freado a escalada de preços no Brasil. Ao mesmo tempo, porém, vem se mostrando um remédio amargo e, em alguns casos, um veneno letal.

Com o dinheiro mais caro, a lista de negócios que fecharam as portas por problemas financeiros cresceu explosivamente nos últimos meses. Em agosto, a quantidade de falências decretadas avançou 18,9% em comparação com julho. As médias empresas tiveram o pior desempenho.

Segundo os dados da Serasa Experian, elas incrementaram os pedidos para encerrar as atividades em27,7%.

Em agosto, foram registrados ainda 186 requerimentos de falência frente a julho, num avanço de 5,1%. As recuperações judiciais concedidas também tiveram alta no período: passaram de sete para 24. Esses números ruins se devem, principalmente, a uma desaceleração da atividade econômica no último trimestre e à elevação da Selic (taxa básica de juros), justificou Carlos Henrique de Almeida, assessor econômico da Serasa. Os custos empresariais, como os para o financiamento de capital de giro, ficaram mais caros. Com isso, estamos registrando aumento na inadimplência das empresas. Exportadoras Na avaliação do assessor econômico da Serasa Experian, as médias empresas estão passando por dificuldade maior porque esse segmento concentra muitas exportadoras. Com o mercado internacional estagnado em alguns casos ou em expansão moderada, as vendas estão em baixa e o fluxo de caixa comprometido. Já as empresas grandes têm uma facilidade maior para fazer arranjos financeiros e redirecionar a produção para o mercado doméstico, avaliou Almeida.

Com mais opções para captar dinheiro, os empreendimentos de porte elevado têm deixado de pedir falência. Entre julho e agosto, essa estatística recuou 27,5%. As micro e pequenas empresas não apresentaram desempenho tão bom quanto as gigantes, mas estão em situação melhor do que os negócios médios as solicitações para fechar as portas avançaram 6,25%.

Atividade aquecida Mesmo com as estatísticas negativas do mês, as expectativas para o segundo semestre são boas. Caso se confirme um fim de ano de atividade econômica aquecida, os analistas da Serasa Experian afirmam que a solvência dos negócios vai melhorar e reduzir os números de falências e pedidos de recuperação judicial. Teremos apenas mais um mês de resultados semelhantes a esse. Depois, com o início das contratações para o Natal, em outubro, teremos um último trimestre mais dinâmico, o que vai melhorar o fluxo de caixa das empresas, disse Almeida.

Saldo de US$ 138 mi

A balança comercial iniciou o mês com superavit de US$ 138 milhões, resultado de exportações de US$ 2,616 bilhões e importações de US$ 2,478 bilhões na primeira semana de setembro, segundo informou ontem oMinistério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.

O superavit acumulado no ano é de US$ 11,822 bilhões, um resultado 41,9% menor do que o registrado em igual período de 2009 (US$ 20,351 bilhões).

No período, as exportações chegaram a US$ 128,712 bilhões e as importações, a US$ 116,890 bilhões.

O comércio exterior brasileiro está sofrendo com a queda no consumo dos países desenvolvidos, emvirtude da recessãomundial que se seguiu à crise global.

Os analistas ouvidos semanalmente pelo Banco Central (BC) apostam num saldo de apenas US$ 15 bilhões no ano.

Em agosto, o Brasil exportou US$ 19,236 bilhões e importou US$ 16,796 bilhões, o que resultou em saldo positivo de US$ 2,440 bilhões.

Mercado otimista » VERA BATISTA

O otimismodomercadocomo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB, soma de todas as riquezas produzidas no país) em 2010 aumentou depois que o InstitutoBrasileiro deGeografia e Estatística (IBGE) divulgou o resultado de 8,9% no primeiro semestre, o maior em 14 anos. A previsão dos cerca de 100 analistas ouvidos semanalmente pelo Banco Central (BC) aumentou de 7,09% para 7,34%. Na avaliação do economista René Garcia, da Fundação GetulioVargas, entretanto, os dados não refletem a situação confortávelemque vive o país. A realidade é bem melhor. Acho queumcrescimento de 7,5% este ano não é impossível, destacou.

Garcia avaliou também que a taxa básica de juros (Selic) deve retornar, já no primeiro semestre de 2011, a 10% anuais e que a cotação do dólar continuará caindo para fechar 2010 entre R$ 1,70 e R$ 1,78.Os especialistas estimam que os juros vão fechar o ano nos atuais 10,75%, mas sobem para 11,50% no fim de 2011. Não vejo perspectivas inflacionárias para isso, discordou o economista. A projeção média para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) permaneceu inalterada em 5,07% neste ano.Mas, para 2011, o IPCA caiu levemente em relação às expectativas da semana passada, de 4,87% para 4,85%.

A estimativa para a cotação do dólar caiu de R$ 1,80 para R$ 1,79.