Título: Com Mercadante, PT nacionaliza disputa e volta-se para a classe média
Autor: Cristiane Agostine
Fonte: Valor Econômico, 09/05/2006, Política, p. A6
A vitória do senador Aloizio Mercadante na prévia do PT em São Paulo, para concorrer ao governo do Estado, consolida a nacionalização da campanha. A defesa do governo de Luiz Inácio Lula da Silva e a batalha pela reeleição do presidente ficarão em primeiro plano no palanque paulista. O senador é considerado como o candidato ideal para a reaproximação do partido com a classe média e o petista com perfil mais próximo ao do postulante do PSDB, José Serra. Ayrton Vignola/Folha Imagem Mercadante: "Vamos construir nossa campanha em articulação com a nacional"
Com ampla maioria dos votos do interior, Mercadante ficou com 52,8% (31.869), contra 47,2% (35.626) da ex-prefeita Marta Suplicy. Dos mais de 192 mil filiados aptos a votar, apenas 35% foram às urnas no domingo.
Dirigentes petistas compareceram em peso no anúncio oficial da vitória de Mercadante. Gritando "São Paulo avante com Lula e Mercadante" e "Partido, partido, é dos Trabalhadores", o clima dos filiados era de vitória do presidente Lula na eleição de outubro. Em um discurso longo, Mercadante engrossou o coro: "O que fizemos no Brasil vamos fazer em São Paulo", anunciou. "A eleição nacional define o posicionamento do eleitorado em São Paulo", disse Mercadante. Ao lembrar de sua dedicação de 26 anos ao partido e ao presidente Lula, completou: "Vamos construir nossa campanha em articulação com a campanha nacional".
Animado, o candidato fez questão de agradecer publicamente os deputados Luizinho e João Paulo Cunha, envolvidos no mensalão, pelo empenho em sua campanha.
Em seu programa de governo, Mercadante apresentou o fim da guerra fiscal, a "interiorização do crescimento"- fará um governo "caipira"- e reestruturação do regime previdenciário dos servidores. O petista disse que levará propostas de Marta, como o bilhete único para os transportes e a construção de Centros Educacionais Unificados. O senador afirmou que dará toda estrutura necessária aos prefeitos do estado, garantiu que vai acabar com a Febem e prometeu um choque de qualidade na escola pública. "Quando sair do governo, quero ser avaliado pelos alunos".
Marta e Mercadante procuraram mostrar união, em todos os momentos. Chegaram juntos ao anúncio e, ao lado do presidente do PT, Ricardo Berzoini, do senador Eduardo Suplicy e do líder do PCdoB na Assembléia, Nivaldo Santana, disseram que o partido saiu das prévias "sem fissuras ou rachas". A ex-prefeita anunciou, no domingo, que não será candidata a qualquer cargo eletivo e garantiu dedicação às campanhas de Lula, Mercadante e do senador Eduardo Suplicy.
O perfil dos eleitores de Mercadante, segundo pesquisas, é semelhante ao dos eleitores do tucano José Serra, fato considerado como positivo pela direção partidária. "O PT tem sua base eleitoral fixa, mas com isso podemos ampliar ainda mais os votos, em pouco tempo", disse Paulo Frateschi, presidente estadual do PT. Cautelosos, petistas avaliam que a disputa será acirrada, já que Serra aparece como vitorioso, já no primeiro turno, em pesquisas eleitorais.
Com esse cenário, a aliança com o PMDB ganha importância, pela capilaridade do partido no Estado e pelo tempo de televisão. Uma das moedas de troca para conseguir o apoio dos pemedebistas seria lhes dar a vice na chapa de Mercadante. Outra consistiria em deixar que o ex-governador Orestes Quércia disputasse a vaga do Senado, no lugar de Suplicy. "Isso até agora não foi discutido, nem teve uma especulação muito forte", desconversou Frateschi. Quércia ironizou ontem a possibilidade de ter a vice.
A relação de Mercadante e Quércia é marcada por conflitos. As diferenças se sobressaíram em 2002, quando os dois foram adversários na disputa pelo Senado. Quércia responsabiliza o petista por sua derrota. Na época, Mercadante não deixou que o pemedebista disputasse na mesma chapa.
A direção petista não descarta negociar a candidatura ao Senado. Posições contrárias a determinações do PT e declarações polêmicas têm desgastado Suplicy no partido. O senador indica que não desistirá e sugeriu uma prévia caso a sigla queria ter outro candidato.