Título: Exportações nesta safra devem ultrapassar 2 bilhões de litros
Autor: Juan Garrido
Fonte: Valor Econômico, 02/12/2004, Especial, p. F-4

As exportações brasileiras de álcool para uso industrial e combustível na safra 2004/2005 (abril de 2004 a março de 2005) deverão ultrapassar 2 bilhões de litros, volume 150% superior ao da safra anterior, próximo de 800 milhões de litros. "Pode ser que se ultrapasse essa marca, abaixo dela é difícil que fique", prevê Alfred Szwarc, consultor técnico da União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Unica). Para Szwarc, o mercado livre mundial de etanol, ao mesmo tempo em que ainda se mostra incipiente, "é bastante promissor". O tamanho desse mercado varia hoje entre 4 bilhões e 5 bilhões de litros. O Brasil já abocanha, portanto, 40% ou 50% do volume transacionado lá fora e é, disparado, o maior exportador do mundo. Só a produção brasileira estimada para a atual safra é de 15,5 bilhões de litros, 13,7 bilhões no Centro-Sul do país e 1,8 bilhão de litros no Nordeste. Na safra passada, a produção ficou em 14,7 bilhões de litros no país. Havia a expectativa de que os embarques de álcool perderiam força no segundo semestre deste ano, mas isso não aconteceu. Segundo a consultoria Datagro, no segundo mês do semestre - agosto - as exportações brasileiras totalizaram 263 milhões de litros, dos quais 119 milhões para a Índia e 67,1 milhões para os Estados Unidos. Conforme Szwarc, cerca de 70% do mercado livre mundial é de álcool para aplicação industrial e apenas 30% para fins carburantes. Mas o consumo de álcool combustível ganha espaço em vários países, que consideram a possibilidade de adotar o mesmo programa de mistura do álcool anidro na gasolina em que os brasileiros foram pioneiros nos anos 1970. É o caso de Estados Unidos, Austrália, França, Suécia, Índia, China e Japão. O mercado industrial e de bebidas alcoólicas, por sua vez, só tem "crescimento vegetativo". Os produtores nacionais gozam de alta vantagem competitiva no mercado internacional, por seus menores custos de produção em relação a outras nações. Segundo Szwarc, a produção mundial de álcool é de 40 bilhões de litros, dos quais, 30 bilhões para uso carburante. O segundo maior produtor mundial é os Estados Unidos, que devem produzir este ano em torno de 12 bilhões de litros. "O ano-safra norte-americano, porém, é diferente do nosso", diz ele. O terceiro no ranking mundial é a China, com 3,7 bilhões de litros. Foto: Cacalos Garrastazu/Valor

Paulo Sérgio Kakinoff, diretor de vendas da Volkswagen: visitas de comitivas interessadas no álcool combustível

Uma projeção feita pela consultoria internacional F.O. Licht indica que a produção mundial de etanol deve chegar a 70 bilhões de litros em 2010, cerca de 57 bilhões dos quais para uso combustível. "Não existem projeções seguras sobre crescimento de mercado de exportação, por conta das barreiras protecionistas praticadas pelos países mais poderosos", diz Szwarc. Ele entende que para haver um "mercado de verdade", os países protecionistas devem dar ao álcool combustível um tratamento semelhante ao da gasolina e óleo diesel. "Enquanto o etanol for visto apenas como subproduto da agricultura, o crescimento e consolidação desse mercado estarão comprometidos", diz. Ou seja, para que o álcool possa tornar-se uma commodity de larga aceitação, tem - antes - que ser considerado combustível. "É uma questão conceitual, mas que faz uma baita diferença." O Brasil tem sido, tradicionalmente, exportador de álcool para aplicações industriais nos setores de bebidas, químicas e farmacêuticas. Para esses fins, o produto é desenvolvido com especificações próprias. Mas, cada vez que surge o anúncio de que uma grande nação, anteriormente esquiva aos postulados do Protocolo de Kyoto, passa a apoiá-lo - caso recente da Rússia -, consolidando assim a iniciativa dos países signatários de reduzir a emissão de gases tóxicos, crescem as chances brasileiras de exportar álcool combustível. As nações que aderem ao acordo têm que colocar em prática planos para que as metas de redução de poluentes possam ser atingidas. O menor uso de combustíveis fósseis, como a gasolina, é uma das formas para se chegar a isso. O segundo grande motivador para a compra de álcool, lembra Szwarc, é a crise dos preços do petróleo. "Países extremamente dependentes de petróleo, como o Japão, a Tailândia, e alguns países europeus, pensam cada vez mais em misturar álcool à gasolina", diz. Segundo ele, uma diretiva (não mandatória) da União Européia estabelece que a partir de 2005 pelo menos 2% dos combustíveis de uso automotivo sejam de fonte renovável. "O biodiesel e o etanol são os principais." Numa escala progressiva, os países europeus deverão usar biocombustíveis numa proporção de 5,75% em 2010. A Alemanha está começando a investir na produção local de álcool, a França já produz e a Espanha também, comenta Szwarc. Está tramitando no Congresso norte-americano uma legislação para estímulo ao uso gradual dos biocombustíveis. Recentemente, a Índia obrigou a mistura de 5% de álcool na gasolina em nove províncias. Na visão de Szwarc, a experiência não foi bem sucedida por dificuldades logísticas e peculiaridades de uma economia estatizada. "Quando a Índia iniciou seu programa, o objetivo era a auto-suficiência doméstica, até porque o país é o segundo maior produtor de cana do mundo", diz. Os indianos seguem importando álcool do Brasil para suplementar a oferta doméstica. O Japão, segundo maior consumidor de petróleo do mundo, já anunciou que pretende alterar a composição da gasolina. A idéia é misturar pelo menos 3% de álcool ao combustível. Autoridades japonesas já demonstraram interesse em adquirir o álcool brasileiro. "Se bem que o Japão é um país muito conservador e talvez demore mais a imitar a obrigatoriedade adotada na Índia", observa Fernando Moreira Ribeiro, secretário geral da Unica, para quem a Tailândia está indo mais rápido no seu programa de substituição. As missões comerciais e de autoridades governamentais dessas nações se multiplicam no Brasil. Além de comprar álcool brasileiro, elas visam adquirir tecnologia para cultivar a cana e produzir etanol em seus próprios países. Segundo José Eduardo Ferreira Silva - gerente de marketing de cana-de-açúcar da DuPont Agricultura e Nutrição, as perspectivas futuras são muito positivas também para os fabricantes de defensivos agrícolas. De olho nesta tendência, a Volkswagen do Brasil tem recebido comitivas da França, Inglaterra, Austrália, China e países latino-americanos, interessadas em conhecer o álcool como combustível. Para Paulo Sérgio Kakinoff, diretor de vendas e marketing da companhia, a exportação de carros com tecnologia flex fuel ou com motores movidos diretamente a álcool, porém, passa necessariamente pela adequação desses países para a produção interna de etanol.