Título: IPCA desacelera, mas previsões para o ano ficam estáveis em 4,3%
Autor: Samantha Maia
Fonte: Valor Econômico, 09/06/2006, Brasil, p. A2
A desaceleração do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA) no mês de maio (alta de 0,10%) não alterou as previsões para a inflação do ano. Na opinião de economistas, esse resultado já era esperado, principalmente devido à evolução do preço do álcool (queda de 11,06%), que, depois de um período de forte alta, começou a cair no período de safra. "O álcool veio bem baixo e ainda deverá afetar a primeira quinzena de junho", disse Solange Srour, economista-chefe da Mellon Global Investments.
Os alimentos também estimularam a desaceleração do índice (em abril, o IPCA foi de 0,21%), impulsionados pelos produtos in natura, que, como no caso do álcool, sofrem influência de fatores sazonais. Os preços dos tubérculos, raízes e legumes caíram 5,16%, das frutas, 7,15%, e das hortaliças e verduras, 4,39%. Os itens ligados a animais e derivados tiveram alta.
Otávio Aidar, economista da Rosenberg & Associados, também destaca que maio costuma ser um mês de inflação menor. "Maio não tem reajuste de tarifas, por exemplo, diferente de abril", disse. Ele prevê deflação de 0,03% em junho, com continuação da queda dos alimentos e combustíveis e desaceleração das maiores altas de maio, que foram dos vestuários (0,90%) e da saúde (0,90%). "Mesmo assim, saúde continuará apresentando a maior alta de preços em junho."
A economista Marcela Prada, da Tendências Consultoria, ressalta que este ano os preços ao consumidor estão comportados e que a desvalorização do real só deverá puxar a inflação para cima depois de junho, o que, no entanto, não afetará o cenário favorável. "Esse movimento do câmbio também já estava sendo considerado na projeção de 4,3% do IPCA no ano." Até maio, a inflação acumulada pelo IPCA está em 1,75%, devendo encerrar o primeiro trimestre abaixo de 2,0%. Assim, no segundo semestre, a inflação média será superior à dos primeiros seis meses do ano.
Esta alta virá estimulada principalmente pelos efeitos do aumento do salário mínimo e pelos serviços, segundo Raphael Castro, da LCA Consultores. "O setor de serviços sofreu muito nos últimos anos, e ele só consegue reajustar preços em época de recuperação da economia", explica.
Segundo Solange, da Mellon, todos os riscos de uma alta maior da inflação estão ligados a fatores externos. "Se o preço do petróleo continuar subindo, por exemplo, é possível que a Petrobras aumente o preço da gasolina em novembro." Em relação ao câmbio, ela explica que uma desvalorização mais forte do real só viria com um desaquecimento mundial, o que ela considera improvável.
Os preços administrados também terão reajustes mais baixos em 2006. Segundo Marcela, da Tendências, o grupo dos administrados, incluindo a gasolina, terá inflação próxima de 6%.