Título: Menor no governo, CUT monta estratégia à reeleição
Autor: César Felício
Fonte: Valor Econômico, 09/06/2006, Política, p. A8
A CUT prepara a mudança de sua estratégia para influir no governo federal, depois de a crise política levar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a reduzir a menos da metade o espaço de ex-sindicalistas e integrantes de movimentos sociais no primeiro escalão do governo. Hoje, a central deve eleger, de maneira folgada, em seu nono Congresso Nacional, o eletricitário Artur Henrique Silva Santos como novo presidente, no lugar de João Felício, educador público. Representará 3.489 sindicatos filiados.
Em um eventual segundo mandato de Lula, o comando da CUT diz que não tentará recuperar o espaço perdido pelos sindicalistas na administração federal durante o atual governo. Aposta que Lula já se encontra em inflexão para a esquerda e que a prioridade para a CUT será assegurar a aprovação das propostas do governo no Congresso, mediante pressão social.
"O que importa para nós agora é o compromisso do governo com os movimentos sociais na vida real, e não na ocupação de espaços", diz João Vaccari Neto, diretor de relações Internacionais da CUT e integrante do Conselho Administrativo da Itaipu Binacional. "Nossa presença diminuiu ao longo do governo e paulatinamente fomos conquistando mais coisas", diz João Felício, citando a medida provisória com o reconhecimento formal das centrais sindicais como a principal conquista política da CUT. "Nosso espaço no governo caiu, mas com este instrumento a nossa institucionalidade está assegurada. Nem o Geraldo Alckmin (PSDB), se for eleito, vai nos tirar", concorda Vaccari.
Segundo os dirigentes, o próprio ritmo da campanha deve empurrar Lula para uma posição de proximidade com as esquerdas. "Em 2002, o Lula fez uma carta ao povo brasileiro para tranqüilizar o mercado financeiro. Agora, se existir uma Carta, será do nosso lado", diz o vice-presidente da CUT, Wagner Gomes, filiado ao PCdoB.
O reconhecimento das centrais sindicais terminou sendo o magro saldo dos quatro anos de esforço da CUT pela reforma sindical, que começou a ser negociada pelo então ministro do Trabalho Jaques Wagner, e enviada ao Congresso pelo sucessor, Ricardo Berzoini, e está paralisada no Legislativo.
Lula chegou a ter onze ministros de Estado oriundos do sindicalismo ou de movimentos sociais em sua equipe. Hoje, conta com apenas cinco: Luiz Marinho, do Trabalho, ex-presidente da CUT, é a estrela de maior grandeza. Neste Congresso da CUT, o governo se empenhou em demonstrar um distanciamento maior da central do que em outras ocasiões.
No tempo em que a ocupação de espaço por ex-sindicalistas estava no auge, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva compareceu ao congresso anterior da CUT, em junho de 2003, quando tomou a sua primeira vaia na presidência, em razão da reforma constitucional da Previdência.
Desta vez, Lula muito provavelmente seria aplaudido: os delegados da central aprovaram por aclamação o apoio à sua reeleição. O candidato a vice-presidente na chapa da senadora Heloisa Helena (P-SOL-AL), César Queiroz Benjamin, foi vaiado e obrigado a interromper seu discurso quando ia mencionar seu apoio à alagoana. Mas nenhum ministro de Estado compareceu à abertura do evento. Não só Lula não foi como Marinho cancelou sua presença, alegando doença em família.
Nada indica que os ex-sindicalistas recuperarão muito espaço em um segundo mandato. A queda do espaço sindical na administração está diretamente relacionada à fragilização do governo no Legislativo, que levou à entrega do ministério da Saúde ao PMDB e das Cidades ao PP, em 2005.
Segundo previsões feitas pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap) no início do ano, o PT, no melhor cenário, dividirá com o PFL a condição de segunda maior bancada na Câmara. Segundo o Diap, o PMDB deve eleger de 80 a 95 deputados, o PFL de 75 a 90, o PT de 60 a 75 e o PSDB, de 70 a 85.
A crise política provocada pelo escândalo do mensalão, ao atingir em cheio o PT, forçou a saída do governo de Ricardo Berzoini e a perda do status ministerial de Luiz Gushiken. A necessidade de desincompatibilização foi o terceiro fator em importância para a demissão dos ex-sindicalistas, forçando a saída do ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, e dos Esportes, Agnelo Queiróz.
Nos escalões inferiores do governo, a participação de sindicalistas e integrantes de movimentos sociais também caiu ao longo da administração de Lula, de maneira menos pronunciada. O principal desembarque deu-se após a queda do então assessor especial da Casa Civil, Marcelo Sereno - ele próprio um ex-sindicalista - uma das autoridades envolvidas nas denúncias do chamado "escândalo do mensalão". Ligados a ele, afastaram-se do governo os presidentes das Indústrias Nucleares do Brasil, da Eletronuclear e do Fundo de Pensão Real Grandeza.
Os sindicalistas preservam seus espaços nas Comunicações, com dois diretores da Anatel (Jaime Ziller e Plinio Aguiar), nos segundos escalões dos ministérios da Educação, Trabalho e do Desenvolvimento Agrário e nas estratégicas presidências dos fundos de pensão Funcef (da Caixa Econômica Federal), Previ e Petros, sob o comando respectivamente de Guilherme Lacerda, Sérgio Rosa e Wagner Pinheiro. "Mantivemos presença forte na área social, como educação e saúde", afirmou o presidente da CUT, João Felício.
Ao mesmo tempo que apóia oficialmente a reeleição, a CUT procura manter a sua âncora no conjunto dos movimentos sociais, que mantêm maior distância em relação ao governo. No dia 28, a entidade deve participar de um ato conjunto da Coordenação dos Movimentos Sociais - que engloba o MST, neutro em relação à disputa presidencial - em que será apresentado um programa de governo a todos os candidatos.