Título: Ana Arraes e Aldo enfrentam-se por TCU
Autor: Exman,Fernando
Fonte: Valor Econômico, 20/09/2011, Política, p. A8

A Câmara dos Deputados deve eleger amanhã, em votação secreta, o novo ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), para a vaga do ministro Ubiratan Aguiar, que se aposentou. A disputa, porém, envolve questões que vão além da simples disputa por um cargo vitalício, possuidor de diversos benefícios, com poder de fiscalizar o Executivo. O governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), entrou na campanha com todo o seu peso político para eleger a deputada federal Ana Arraes (PSB), sua mãe, num lance que visa reforçar sua posição como um dos principais atores da cena política nas próximas eleições.

Não por acaso Ana Arraes conta com o apoio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do presidente do PSDB, deputado Sérgio Guerra (PE), e do senador Aécio Neves (PSDB-MG). Nos últimos dias, o Palácio do Planalto buscou reforçar a imagem de neutralidade na disputa, apesar de setores do governo terem demonstrado simpatia pela candidatura do deputado e ex-presidente da Câmara Aldo Rebelo (PCdoB-SP).

"Ele (Eduardo Campos) está se colocando no processo político. Ele se coloca como um noivo cobiçado para 2014, com grande capacidade de articulação. Mas, principalmente, coloca o PSB bem nos Estados para as eleições municipais", comentou um aliado do governador.

Mas, se por um lado uma vitória de Ana Arraes fortalecerá politicamente o governador, uma eventual derrota também pode ser capaz de abalar seu prestígio. "Com a exposição que a mídia deu ao Eduardo, ele teve de colocar a faca nos dentes. Isso porque uma derrota não será uma derrota dela, mas dele", explicou um outro aliado do governador de Pernambuco.

Nas últimas semanas, Eduardo Campos reforçou sua presença em Brasília. No dia 1º de setembro, por exemplo, Eduardo Campos foi ao Ministério dos Transportes tratar da duplicação de rodovias. No dia 5, participou de um seminário sobre a crise financeira internacional e encontrou-se com a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, para conversar sobre obras de mobilidade urbana. No dia 14, reuniu-se com o governador do Amapá e teve uma reunião com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, sobre os royalties do petróleo da camada pré-sal. Um dia depois marcou presença num debate sobre guerra fiscal.

Nesta semana, voltará a Brasília para participar das negociações sobre a votação da Emenda Constitucional 29.

Em paralelo à agenda oficial e encontros com autoridades do governo federal, o governador reuniu-se com deputados de diversos partidos, como do futuro PSD, PTB e PP para defender a candidatura da mãe ao TCU. Almoços, cafezinhos e jantares foram marcados em restaurantes e no apartamento do deputado Júlio Delgado (PSB-MG), quarto secretário da Câmara. Até mesmo Romário (PSB-RJ) foi acionado para cabalar votos entre os parlamentares que participam da tradicional pelada de deputados que ocorre às terças-feiras após as sessões. Alguns parlamentares não escondem o constrangimento com tamanho assédio.

Eduardo Campos também usou sua influência nos ministérios da Integração Nacional e dos Portos, da cota do PSB, para impulsionar a campanha de Ana Arraes. Ontem, no Recife, recebeu a multipartidária bancada de deputados federais de Pernambuco para um café da manhã na casa do ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho.

A campanha teve início há cerca de dois meses e ganhou contornos pessoais depois que Eduardo Campos e o ex-ministro da Casa Civil Antonio Palocci procuraram Aldo para saber se o deputado aceitaria concorrer à vaga aberta no TCU com a aposentadoria do então ministro Ubiratan Aguiar. Aldo, que à época relatava o Código Florestal na Câmara, respondeu negativamente. Argumentou aos interlocutores que preferia não misturar os assuntos, pois acreditava que uma eventual candidatura enfraqueceria sua posição nas negociações sobre o novo texto do código.

Após ter seu relatório aprovado, contudo, Aldo procurou o governador pernambucano para informar que decidira entrar na disputa. A notícia não foi bem recebida por Campos e Ana Arraes. "Minha candidatura não é um projeto pessoal nem partidário. É uma candidatura da instituição, da Câmara dos Deputados", disse Aldo Rebelo, que ontem em plena campanha reuniu-se com o presidente da República em exercício, Michel Temer (PMDB).

Aliados de Eduardo Campos contam que o governador, presidente do PSB, estava decidido a lançar um candidato do bloco parlamentar formado por seu partido com o PTB e o PCdoB. Alguns integrantes da sigla foram cogitados, mas prevaleceu o nome de Ana Arraes. Além da potencial influência junto ao TCU num eventual cenário em que a mãe faria parte da instituição responsável pela fiscalização do governo integrado por seu filho, o parentesco entre Ana e Eduardo Campos poderia representa um limitador à carreira política da deputada. Segundo o artigo 14 da Constituição, "são inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o cônjuge e os parentes consangüíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção, do Presidente da República, de Governador de Estado ou Território, do Distrito Federal, de Prefeito ou de quem os haja substituído dentro dos seis meses anteriores ao pleito, salvo se já titular de mandato eletivo e candidato à reeleição".

Segundo integrantes da cúpula do PSB, pesou também o currículo de Ana Arraes, atual líder da sigla na Câmara. A deputada já trabalhou como assessora no Tribunal de Contas do Estado de Pernambuco e técnica judiciária do Tribunal Regional do Trabalho da 6ª Região, argumentam.

Devem colocar ainda seus nomes em votação amanhã os deputados Átila Lins (PMDB-AM), Damião Feliciano (PDT-PB), Milton Monti (PR-SP), Sérgio Brito (PSC-BA) e Vilson Covatti (PP-RS).