Título: Preocupação une produtores de grãos do cerrado
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 06/12/2004, Legislação, p. A12

Este ano, o agricultor João Carlos Werlang não vai arrendar terras de terceiros para aumentar a produção. As lavouras de soja, milho e feijão ficarão limitadas à sua propriedade, de 500 hectares no Distrito Federal. "Já plantei muito em terras arrendadas, mas para o ano que vem o risco é muito alto, não dá para fazer isso". Com aumento de custos e perspectiva de preços baixos para comercializar a safra, a preocupação de Werlang é a mesma dos demais associados da Cooperativa dos Produtores Rurais do Distrito Federal (Coopadf), presidida por ele: 2005, definitivamente, não será um ano bom. A única boa notícia poderá vir do céu. Para Sudeste e Centro-Oeste, a previsão para os próximos três meses é de temperaturas um pouco mais elevadas e chuvas dentro da média histórica. Mesmo na terra, apesar do clima favorável, Werlang tem de ficar de olhos atentos, porque o fungo da ferrugem asiática ameaça suas plantações de soja, exigindo investimentos. "Ainda estou usando alta tecnologia para combater a ferrugem, mas muitos produtores da região já estão economizando [na compra de fungicidas]", confirmou. "O custo [com insumos] que era de 30 sacas por hectare subiu para 40 sacas". O uso menor de insumos para compensar parte da alta do custo já foi observado pela Conab. Segundo Eledon de Oliveira, gerente de Avaliação de Safras do órgão, essa economia pode não trazer sérias conseqüências se o clima ajudar. Apesar das dificuldades que se avizinham, Estados importantes na produção agrícola estão otimistas. É o caso de Goiás. O governo local ajudou os produtores no combate à ferrugem, com crédito e programas de prevenção. Segundo Veríssimo Aparecido, superintendente de planejamento da Secretaria de Agricultura de Goiás, com a ferrugem controlada a prioridade foi incentivar a produção de soja em áreas de pastagens degradadas que, depois de recuperadas, voltarão a ser utilizadas pela pecuária. A produção deve crescer para até 15 milhões de toneladas e, com a instalação de novas fábricas consumidoras no Estado, como a de Perdigão em Mineiros, haverá demanda para a produção local. Sobre o cenário de margens curtas, Veríssimo acredita que há saídas. "O agricultor precisa melhorar o gerenciamento da produção. O desperdício e parte do aumento de custos decorre da falta de informação. É preciso que ele busque orientação técnica permanentemente, e não apenas na hora do sufoco". O conselho é bom, mas em Minas Gerais, em virtude do cenário adverso, não haverá investimentos significativos na expansão do plantio. A expectativa da Federação da Agricultura e Pecuária de Minas Gerais (Faemg) é de aumento da área plantada de 2,2%. Nem a cotonicultura, que conta com incentivos do governo estadual, deverá avançar, segundo a Associação Mineira dos Produtores de Algodão. Para a cultura, o custo local deve subir de R$ 4,2 mil por hectare, em 2003/04, para R$ 5 mil. Para a produção nacional a expectativa não é muito diferente, conforme Hélio Tollini, diretor da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa). Mas a Conab estima a safra total em até 1,398 milhão de toneladas de algodão em pluma, 10% mais que em 2003/04. Na região de Barreiras, teme-se pelo futuro do milho, que poderá perder o posto de segunda cultura mais importante no agronegócio do Estado, segundo a Associação de Agricultores e Irrigantes do Oeste da Bahia (Aiba). Em 2004/05, o Estado perderá um terço da área plantada com o produto. E o algodão, ao contrário de Minas, crescerá e assumirá a segunda posição, atrás da soja - que ganhará mais espaço e chegará a até 900 mil hectares, apesar da ferrugem. O produtor Claudir Lodi personifica os números da Aiba. Um terço de sua área sempre foi reservada ao milho, o que deixará de ser feito. Os 3 mil hectares de Lodi serão dedicados exclusivamente à soja. Mas ele lastima que tenha ficado sem a alternativa de uma segunda cultura, já que monocultura empobrecerá o solo e deixará a soja mais exposta a pragas.