Título: Fábrica da Thyssen e Vale pode ser a redenção econômica de Itaguaí
Autor: Francisco Góes
Fonte: Valor Econômico, 06/12/2004, Empresa, p. B1

Siderurgia Município de 86 mil habitantes aguarda há mais de 20 anos uma grande obra

A instalação de uma megausina para produzir placas de aço em área próxima ao complexo portuário de Sepetiba, no litoral Sul fluminense, poderá mudar o perfil sócio-econômico de Itaguaí, cidade-dormitório situada a 64 quilômetros do Rio e cujo município abriga o porto. Com população de 86 mil habitantes, segundo o Censo de 2000, e uma economia dependente do comércio, que não passa por boa fase, Itaguaí sonha com grandes projetos industriais há duas décadas. Mas até hoje todas as promessas, como a implantação de um pólo petroquímico, terminaram em frustração. "A população não perde a esperança de que ocorra uma melhoria mesmo que vários projetos, até hoje, não tenham chegado a lugar algum", diz José Morais do Nascimento, presidente da Associação Comercial, Industrial e Agropastoril de Itaguaí. Morais é dos poucos habitantes de Itaguaí que já ouviram falar no projeto da Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), nome dado ao empreendimento oficializado, na sexta-feira, entre a Vale do Rio Doce e o grupo alemão ThyssenKrupp Stahl A.G. A unidade produzirá 4,4 milhões de toneladas de placas por ano e deverá ser instalada na área de influência do porto, entre o distrito industrial de Santa Cruz, no Rio, e Itaguaí, situado na região conhecida como Costa Verde, que inclui o balneário de Angra dos Reis. "Itaguaí precisa gerar empregos e, para que isso ocorra, o investimento é essencial", diz Morais. Ele informou já ter estado com representantes da Thyssen em visita ao porto de Sepetiba, que é administrado pela Cia. Docas do Rio, mas operado por empresas privadas como Vale e Cia. Siderúrgica Nacional (CSN).

A preocupação com a geração de empregos é importante para alavancar a economia de Itaguaí, cuja principal indústria hoje é a Nuclep, estatal ligada ao Ministério de Ciência e Tecnologia criada em 1975 para produzir componentes pesados para as usinas nucleares de Angra. Também funcionam em Itaguaí empresas de fundição e usinagem, que prestam serviços para a Gerdau Cosigua, no distrito de Santa Cruz, e para o porto de Sepetiba, localizado a dez quilômetros do centro da cidade. A Prefeitura arrecada cerca de R$ 7 milhões por mês, dos quais R$ 2 milhões correspondem ao Imposto sobre Serviços (ISS) cobrado nas operações do porto. O restante é relativo a recursos do ICMS, do Fundef e do Fundo de Participação dos Municípios, entre outros. Mas a arrecadação é insuficiente para atender às necessidades de uma cidade que cresce de forma acelerada por força de migrações urbanas que incentivam a invasão de áreas. Se nada for feito, a situação pode piorar, pois o governo do Estado estima que, na fase de construção da nova usina siderúrgica, serão criados 10 mil empregos diretos. O secretário de desenvolvimento econômico do Estado do Rio, Humberto Mota, diz que o governo está atento à questão social. Ele informa que o projeto da Vale e da Thyssen poderá ganhar financiamento direto do Estado dentro de programa que permite o diferimento de ICMS. Ele afastou a possibilidade de o Estado ser acionista do projeto. "O empreendimento pode ser um primeiro passo para o nascimento no Rio de um grande pólo siderúrgico", disse Mota. "A gente sonha com o progresso", acrescenta o prefeito de Itaguaí, José Sagário Filho (PSDB). Depois de dois mandatos consecutivos, Sagário será substituído a partir de 1º de janeiro por Charlinhos, candidato eleito pelo PFL, do prefeito Cesar Maia, do Rio. Itaguaí tem um shopping center, apelidado de "elefante branco" pela falta de movimento; um hipermercado, teatro, videolocadoras, livrarias e lojas especializadas em discos. Mas tem poucos hotéis - nenhum de três ou quatro estrelas -, um jornal diário, três emissoras de rádio, não tem cinemas, nem televisão a cabo. Na cidade, há um hospital que atende inclusive outros municípios da região, inclusive do Rio. Uma das principais mágoas de Sagário é a demora na duplicação da BR-101. A duplicação da Rio-Santos, bem como a construção de um anel rodoviário desafogando o acesso ao Rio e a Sepetiba, são fundamentais para pôr fim aos gargalos existentes hoje no município e no porto, que é servido pela MRS Logística, principal malha ferroviária do Sudeste. O prefeito lembra que, além da petroquímica nunca implantada, o município viveu a expectativa de ver surgir um grande projeto de aço e até uma Zona de Processamento de Exportações (ZPE). Nada ocorreu. Ainda hoje, à beira da BR-101, se enxerga uma placa com o nome "Petro Rio", em área onde no passado se imaginou que seria instalado o pólo petroquímico. O terreno da Petro Rio, empresa controlada pela Petrobras, tem cerca de 10 milhões de metros quadrados, segundo a Prefeitura de Itaguaí. Essa área é candidata a receber um pólo, mix de refinaria e petroquímica para processar óleo pesado, com investimento de US$ 3,5 bilhões. Oficialmente, a Petrobras ainda não escolheu o local do projeto. Sagário diz que há 30 milhões de metros quadrados disponíveis em Itaguaí, mas parte da área tem restrições ambientais. A CSN é dona de uma área próximo de Sepetiba, que poderia ser usado no seu plano de expansão, mas não fez ainda nenhum anúncio oficial.