Título: Na biotecnologia, chances para o Brasil
Autor: Talita Moreira
Fonte: Valor Econômico, 06/12/2004, Empresa, p. B4

Diante da lista do World Economic Forum, na qual 21 das 29 empresas mais inovadoras do mundo têm origem nos Estados Unidos, fica a pergunta: países com recursos financeiros limitados, como o Brasil, tem chance na cada vez mais acirrada corrida tecnológica? Uma visita aos laboratórios da Alellyx, em Campinas (SP), pode ajudar a responder a questão em pelo menos um dos quatro setores considerados prioritários pela organização - a biotecnologia. Criada em março de 2002, com investimento de R$ 30 milhões do grupo Votorantim, a Alellyx já conseguiu identificar o vírus responsável pela morte súbita, uma doença que destrói plantações, e agora testa soluções para o problema em culturas como eucalipto, laranja e cana-de-açúcar. Fundada por cientistas e apoiada pelo fundo de investimento do grupo de Antonio Ermírio de Moraes, a Alellyx é o exemplo do que Fernando Reinach, presidente da empresa e diretor da Votorantim Novos Negócios, considera o modelo básico para obter sucesso em inovação: combinar capital de risco e pesquisa universitária. "Foi isso o que permitiu o surgimento das gigantes americanas de tecnologia da informação e é isso, agora, o que buscamos para a biotecnologia no Brasil", diz Reinach. Tome-se o exemplo da Cisco, de equipamentos para redes de comunicação. Criada em 1984, por um grupo de cientistas da computação da Universidade de Stanford, a Cisco tornou-se uma gigante global com vendas de US$ 22 bilhões. A explosão que se viu na área de TI, estaria agora tomando forma para se repetir, no futuro, na área de biotecnologia. "Nos ciclos anteriores, o homem sempre dominou a matéria inanimada, como a química. Com o avanço da biologia, porém, chegamos ao ponto de controlar as células vivas, o que inclui os transgênicos e as pesquisas com células-tronco", exemplifica Reinach. Ingressar na biotecnologia, portanto, parece um caminho irreversível, mas é preciso concentrar-se nos segmentos em que há condições de competir. Existem três grandes ramos da biotecnologia: a vermelha, voltada para a produção de medicamentos; a branca, que cria produtos para a química e petroquímica a partir, por exemplo, da cana-de-açúcar; e a verde, voltada para a agroindústria. A vermelha é a mais lucrativa, mas exige investimentos de bilhões de dólares. "É uma pesquisa totalmente americana. É difícil competir em volume de capital", diz Reinach. Na verde, porém, há grandes chances para o país. Prova disso é que, no ano passado, a Alellyx foi escolhida a melhor empresa de biotecnologia pela revista "Scientific American", conta o pesquisador. A boa notícia é que vários gestores de fundos de investimento têm repetido que o Brasil reúne universidades e empreendedores competentes. O problema é a falta de um mercado de capitais forte. Sem condições de sair do negócio mais tarde, os fundos se inibem e acabam nem entrando.