Título: EUA centralizam o mapa da inovação
Autor: Talita Moreira
Fonte: Valor Econômico, 06/12/2004, Empresa, p. B4

Elas são jovens, majoritariamente americanas e têm papel ativo em grandes tendências que estão revolucionando o mundo. É esse o perfil das 29 empresas reconhecidas pelo Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em inglês) como as mais inovadoras deste ano em todo o planeta. Juntas, integram o "Technology Pioneers 2005", levantamento cujo objetivo é apontar as companhias que estão desenvolvendo as tecnologias mais transformadoras e que podem beneficiar a sociedade. O Valor foi a única publicação brasileira a ter acesso ao estudo, feito pelo WEF em parceria com as consultorias Deloitte e Apax Partners. A pesquisa é feita anualmente desde 2000. Na lista deste ano, figuram empresas que se destacaram na busca de respostas para quatro grandes tendências que estão mudando a vida tal como é hoje. São elas o envelhecimento da população; a busca por novas fontes de energia; a mudança do mundo conectado por fios para a mobilidade; e a preocupação crescente com segurança, física ou virtual. "As 29 companhias estão desafiando a noção aceita de como as coisas são hoje", afirma Ged Davis, diretor de conhecimento estratégico do WEF, por meio de uma teleconferência. A maioria esmagadora das eleitas é americana. Das 29 pioneiras, 21 têm sede nos EUA - o que mostra que o país conserva papel dominante quando o assunto é inovação. O segundo lugar no levantamento ficou com o Reino Unido, com três empresas. Israel teve dois nomes na lista. Alemanha, Austrália e Espanha apresentaram um representante cada. Apesar do surgimento de novos pólos tecnológicos, como Índia e Israel, os americanos permanecem na dianteira em pesquisas. "O ambiente nos EUA favorece a inovação. É mais fácil executar uma grande idéia lá do que em outros países", afirma Sohini Chowdury, gerente do estudo conduzido pelo WEF. Farta disponibilidade de recursos, públicos e privados, e grandes centros de pesquisa em universidades contribuem para a preponderância dos americanos. Há também uma preocupação especial do governo, nas esferas federal e estaduais, com estudos sobre fontes de energia renováveis e segurança. "O financiamento público é significativo. O governo reconhece que seremos pioneiros em células de combustível", afirma James Balcom, presidente da californiana PolyFuel. Mais do que dinheiro, o poder público pode ajudar oferecendo incentivos e estabelecendo regras que facilitem o caminho dos pesquisadores, diz Sohini, do WEF. O setor militar, grande fomentador de inovações durante a Guerra Fria, ainda tem papel relevante no incentivo a pesquisas. Uma das companhias citadas pelo estudo neste ano, a Molecular Imprints, surgiu dentro do Departamento de Defesa dos Estados Unidos. Ela desenvolve sistemas de impressão litográfica que são usados na indústria de semicondutores e componentes ópticos. A Konarka, que criou uma engenhosa tecnologia de energia fotovoltáica, recebe grande apoio das Forças Armadas americanas e da Comissão de Energia da Califórnia, diz Howard Berke, presidente da companhia. Todas as empresas da lista do WEF são muito jovens. A mais "veterana" delas, fundada em 1985, é a Nanofilm, que manipula moléculas para desenvolver filmes ultra-finos que melhoram a durabilidade e o desempenho de materiais transparentes. Em certa medida, esse perfil é conseqüência das regras do levantamento. Só são eleitas como pioneiras empresas que tenham desenvolvido alguma tecnologia nova nos últimos dois anos e que ainda não façam parte do WEF. A escolha das vencedoras é feita por um comitê de cientistas e acadêmicos notáveis - pessoas que acompanham mais de perto invenções embrionárias. No entanto, a pouca experiência das companhias também é uma evidência de que a juventude pode favorecer a criatividade. Empresas pequenas, não raro nascidas nos departamentos de pesquisas de grandes universidades, em algumas situações têm mais agilidade do que as grandes corporações. Todo esse esforço em torno da inovação, porém, não significa que nos próximos anos veremos o surgimento de grandes companhias internacionais, a exemplo do que ocorreu em décadas anteriores, quando tomaram corpo multinacionais do porte da Microsoft, Apple e Oracle. A razão é simples: ávidas por novidades e com os cofres recheados, essas empresas tem facilidade para identificar rapidamente os focos de inovação e absorver as companhias nascentes quando as tecnologias interessam a seus negócios. Prova disso é que grande parte das novatas acredita que será alvo de aquisições. Como amostra, uma enquete informal feita pelo Valor com seis empresas citadas na pesquisa, que desenvolveram tecnologias de mobilidade, revelou que quatro delas acreditam que não se manterão independentes nos próximos anos. Nenhuma delas quis fazer comentários mais profundos sobre o assunto, mas uma pista nessa direção é a necessidade crescente de escala na indústria de telecomunicações, que está se consolidando em grandes grupos de presença internacional. A indústria de tecnologia da informação (incluindo telecomunicações) ainda se recupera do tombo que levou no início dos anos 2000 e tem buscado se fortalecer para enfrentar os novos tempos. Algumas das companhias mais inovadoras no levantamento deste ano, porém, têm planos de alçar vôo solo e não descartam a possibilidade de abrir o capital - casos da Nanofilm e da Wave7 Optics, que atua no segmento de fibra óptica. O ambiente é favorável para a incursão dessas companhias no mercado de capitais, afirma Peter Englander, sócio da Apax. "O mercado voltou a colocar dinheiro em ações de tecnologia. Temos visto casos bem-sucedidos de listagens dessas empresas em bolsa, como Google", observa. Englander diz que, no terceiro trimestre deste ano, o volume de investimentos em ações de tecnologia foi o maior desde 2001. Companhias da área de biotecnologia estão otimistas com o cenário para 2005, quando esperam aumento dos investimentos no setor. É o caso da Raven Biotechnologies, que desenvolve medicamentos com base em anticorpos. "O ambiente é muito promissor, melhor que 2004", diz Jennie Mather, fundadora e presidente da empresa. De acordo com a empresária, neste ano foram investidos no mundo US$ 9 bilhões em tratamentos com anticorpos.