Título: Megaleilão vai movimentar R$ 120 bilhões em oito anos
Autor: Cláudia Schüffner
Fonte: Valor Econômico, 06/12/2004, Empresa, p. B8

O leilão de energia existente que será realizado amanhã em São Paulo tem tudo para entrar na história. As regras de segurança do evento para evitar que as empresas tenham conhecimento dos preços uma das outras não têm precedentes no Brasil. Os executivos que participarem do leilão não poderão ter contato com o mundo exterior. Eles não poderão usar celular, email ou internet. Também não serão permitidos laptops, palms, pagers, discmans, chaves de memória ou qualquer objeto metálico. Tanto rigor se explica. Em estudo do banco Pactual distribuído na semana passada, os analistas estimam que a soma total transacionada corresponderá a aproximadamente R$ 120 bilhões, medidos com base nas tarifas de janeiro de 2005, a serem pagos ao longo dos oito anos de vigência dos contratos. Desse total, R$ 11 bilhões se referem apenas ao pagamento da PIS/Cofins, cuja alíquota aumentou de 3,65% para 9,25% desde os contratos iniciais. Para se ter uma idéia do valor desses contratos, o governo arrecadou US$ 22 bilhões (R$ 59 bilhões), com a venda das empresas do grupo Telebrás. Já o leilão de energia "velha", onde não será vendido nenhum ativo, poderá resultar em desembolsos anuais de R$ 15 bilhões. E esse montante não inclui os reajustes das tarifas, que serão corrigidas pelo IPCA . O Pactual estima que a demanda das distribuidoras no leilão será de aproximadamente 22,9 mil MW, menos que a oferta estimada em 26,2 mil MW pelas geradoras. Com isso, haverá uma sobra de 3,3 mil MW de energia mais cara. Quanto aos preços, o analista Pedro Batista, um dos autores do relatório, diz que se as empresas não fixarem um valor correto estarão comprometendo sua geração de caixa futura. Um bom exemplo é Furnas, controlada pela Eletrobrás. O preço médio atual dos contratos da geradora é de R$ 92,50. Maior comercializadora do país, Furnas adquire 40% da sua energia de outras usinas como Serra da Mesa, Cien e da Eletronuclear. "É uma pressão de custos muito grande e se ela vender muito abaixo terá prejuízo por oito anos", alerta Batista. Se é responsável sozinha por cerca de 27% da energia que será ofertada no leilão, Furnas tem ativos ainda não depreciados, como mostra o Pactual, contrariando opinião corrente de que a geração hídrica estatal já amortizou seus investimentos. No caso da Eletrobrás, apenas 34% dos ativos estão amortizados. Já nas suas subsidiárias, segundo o banco, esse percentual é de 31% em Furnas; 37% na Eletronorte; e 33% na Chesf. Com base nesses cálculos, o preço "justo" da energia de uma nova planta foi estimado em R$ 109 por MW. A Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) informou que 53 empresas se habilitaram para o leilão, sendo 35 compradoras e 18 vendedoras.