Título: Brasília entraem estado emergencial
Autor: Bravim, Aline
Fonte: Correio Braziliense, 07/09/2010, Cidades, p. 31

Expectativa de prologamento da estiagemdurante o mês preocupa autoridades e faz com que os órgãos responsáveis pelo controle dos incêndios busquem autorização para aumentar o número de combatentes

Após 102 dias sem chuva e registro de muitos focos de incêndio, oMinistério doMeioAmbiente(MMA) declarou estado de emergência ambiental no Distrito Federal.

Com essa medida, os órgãos responsáveis por combater a seca e as queimadas estão autorizados a reforçar as equipes de brigadistas sem a burocracia de praxe, ou seja, poderão dispensar licitações e concursos públicos para contratação de profissionais por tempo determinado. No entanto, de acordo com o Instituto Brasileiro doMeio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama), órgão que fez o pedido de alerta ao MMA, ainda não há necessidade de aumentar o número de homens nos grupos combatentes de fogo.

Ochefe do centro especializado Prevfogo, José Carlos Mendes, afirma que a medida foi tomada somente por precaução.

O procedimento é somente para facilitar as contratações em caso de necessidade. Por enquanto não vemos urgência e não vamos chamar ninguém. O Corpo de Bombeiros é bem preparado e até agora está dando conta do serviço, explica.

Durante todo esse período sem chuva, o DF registrou mais incêndios queemtodo o ano passado.

Os bombeiros reclamam que, com tantas chamadas, não há condições de atender a todos.

A corporação alega que faltam caminhonetes para os militares se dividirem melhor e chegarem mais rápido aos locais em chamas.

Há também carência de aeronaves e caminhões que levem água às regiões mais distantes e acidentadas. O coronelWilton Melo, da Central de Atendimento da Polícia do Distrito Federal (Ciad), conta que tudo depende da quantidade de incidentes por dia. De qualquer forma, quanto mais gente, melhor. A nossa frota poderia aumentar, e assim não ficaríamos prejudicados quando algum carro quebrasse. Comumamédia de 24 chamados por dia em agosto, mês considerado mais crítico pelos especialistas, o fogo já consumiu 67,5% de cerrado desde que a seca começou. Ao contrário do que o responsável pelo Ibama disse, o volume de ocorrências e de território atingido obrigou oCorpo de Bombeiros a aumentar o número de equipes especializadas em combate a incêndios florestais.

Atualmente, Brasília conta com quatro batalhões especializados em queimadas e 21 companhias regionais de incêndio, espalhadas pelo centro e por regiões administrativas ao seu redor.

Segundo José Carlos Mendes, a cada contratação é preciso logística e material disponível, comocarrosecaminhõesdeágua, o que dificultaria o aumento no quadro de funcionários. O técnico argumenta que oDFapresenta vantagem em relação aos estados na mesma situação climática. Para ele, além de a área territorial da capital ser menor, as áreas de conservação têm boa estrutura para controlar focos de fogo. Ele não descarta, porém, a possibilidade de ocorrer um incêndio de maior dimensão. De acordo com o Ibama, qualquer pessoa que tenha curso profissionalizante na área pode ser convocada.

Os estudos do InstitutoNacional deMeteorologia (Inmet)mostram que, entre hoje e amanhã, as condições do tempo favoráveis à ocorrência de baixa umidade relativa do ar são de 20%. Segundo as previsões, a secura deve continuar até pelo menos a segunda quinzena deste mês. Enquanto isso, os focos de incêndio se multiplicam na capital. Além do DF, 14 estados estão em alerta por conta do tempo quente e seco: Amapá, Amazonas, Bahia, Ceará, Goiás, Maranhão, Mato Grosso,Mato Grosso do Sul,MinasGerais, Pará, Piauí, Rondônia, Roraima eTocantins.

Perigo O Corpo de Bombeiros registrou pelo menos 38 focos de fogo ontem, incluindo três grandes incêndios.

Omaior deles, naGranja do Torto, foi controlado, mas as chamas consumiram uma área de 350 mil metros quadrados e chegaram próximo a residências.

Foram necessárias quatro viaturas e uma média de 30 militares para conter o fogo, que começou por volta das 10h.

Outra queimada de grandes proporções que assustou os militares foi registrada por volta das 15h, em uma mata no Setor de Chácaras, no SIA Trecho 1, próximo ao Setor de Inflamáveis.

Os bombeiros conseguiram conter um grande foco de incêndio.

As chamas chegaram perto dos galões de combustível da Petrobras e de outras quatro empresas.

Para o local, foram enviadas sete viaturas, com 80 bombeiros, além de brigadistas de empresas próximas que armazenam combustível.

Com o incidente, cerca de 10 mil hectares foram comprometidos.

Dois funcionários daNacional Gás foram levados aoHospital de Base com suspeita de intoxicação.

Eles ajudavam no controle do fogo quando começaram a passar mal. Segundo trabalhadores damesmacompanhia, depois que as chamas inflamaram, não houve tempo de vestir o uniforme adequado. O vento espalhou tudo muito rápido e aqui dentro a gente corre um risco imenso.

Era melhor correr para apagar tudo, contou José PereiraValverde, operário do local.

A Chapada Imperial, próxima a Brazlândia, também sofreu impacto da seca. A tragédia começou pela manhã e até o meio da tarde os militares tentavam controlar as chamas. Pelo menos quatro viaturas, um ônibus e um helicóptero foram para o local.

De acordo com os bombeiros, a região queimada corresponde a uma Área de Proteção Ambiental (APA).

No ParkWay, próximo à Vargem Bonita, o fogo consumiu uma área de 80 mil metros quadrados.

Houve focos de incêndio no Km 14 da DF-205, próximo à Fercal e à descida do Grande Colorado; nas proximidades da Estação do Metrô de Arniqueiras, em Águas Claras; na QSC 3, Conjunto 26 do Riacho Fundo II e na Ponte Alta do Gama.

Até o fechamento da edição, o estrago total na vegetação do cerrado do DF foi de 490.283 metros quadrados.

Convocações rápidas De acordo com a Lei nº 8.745/93, os órgãos da administração federal direta, as autarquias e as fundações públicas podem declarar estado de emergência ambiental como formalidade para autorizar contratações de profissionais ou de pessoas que tenham conhecimentos específicos, por tempo determinado, para atender a necessidade temporária, de interesse público. A Defesa Civil, baseada no Decreto nº 7.257/10, fica autorizada a reconhecer situações de emergência e calamidade pública quando for necessária a transferência de recursos para ações de socorro, assistência às vítimas, restabelecimento de serviços essenciais e reconstrução de áreas atingidas por desastres.