Título: Caminho ao 'investment grade' é longo
Autor: Sergio Lamucci
Fonte: Valor Econômico, 06/12/2004, Finanças, p. C2
O Brasil tem melhorado significativamente suas condições de solvência nos últimos dois anos, em especial a relação entre dívida externa e exportações. Não por acaso as três principais agências de classificação de risco - Standard & Poor´s (S&P), Moody´s e Fitch - elevaram a nota do país no segundo semestre. O caminho até o "investment grade" -selo de investimento pouco especulativo das agências-, porém, parece bastante longo. Um estudo do Itaú estima que o Brasil deve atingir esse ponto em 2008, se mantida a atual orientação da política econômica nos próximos anos, com superávit primário de 4,5% do PIB e crescimento pouco acima de 3%. A dívida externa total, que equivale a 1,92 vez a soma de exportações e outras receitas em conta corrente, cairia para a casa de 1. Esse número permitiria que o Brasil fosse alçado à condição obtida por países como China, Coréia do Sul, Chile e México, desde que a relação entre a dívida líquida e o PIB, na casa de 54%, também esteja em queda inequívoca, diz o economista-chefe do Itaú, Tomás Málaga.
S&P e Fitch atribuem a nota "BB-" aos títulos brasileiros, três degraus abaixo do "investment grade". Pela Moody´s, faltam quatro. A principal melhora dos últimos anos foi sem dúvida a queda na relação entre dívida externa e as exportações e outras receitas em moeda forte (o resultado da balança de serviços e transferências unilaterais), que caiu de 3,37 em 2000 para 1,92. O indicador mostra a capacidade de o país gerar dólares em comparação com os compromissos externos. O diretor de rating soberano da S&P, David Beers, diz que o ajuste foi de fato bastante impressionante, sendo um dos principais fatores que levaram a agência a elevar o rating de "B+" para "BB-". A questão é que, mesmo com a melhora, os indicadores brasileiros ainda estão distantes dos de outros países. Na média de sete países emergentes classificados como "investment grade", a relação dívida externa/receitas em moeda forte é de 0,71, lembra Málaga. Se comparada a relação dívida/PIB o quadro também não é animador. A dívida brasileira equivale a 54% do PIB, e a do México, a cerca de 30%. Mas há formas de o país encurtar o caminho até o "investment grade", afirma Málaga. Um deles é aumentar o superávit primário para a casa de 6% do PIB e acelerar a recomposição das reservas internacionais. Isso poderia levar o Brasil a ser "investment grade" em 2007, por trazer mais rapidamente para a cada de 1 vez a relação dívida externa/exportações e outras receitas em conta corrente. Apostar com mais força na integração comercial, para elevar exportações e importações, também poderia abreviar a trajetória, permitindo a melhoria da classificação de risco de crédito no fim de 2006. O vice-presidente de mercados emergentes do JP Morgan, Drausio Giacomelli, acredita em mais duas elevações da nota brasileira nos próximos dois anos, o que, no caso da S&P e da Fitch, deixaria o país a um passo do "investment grade". Para ele, o salto além desse nível dependerá de uma mudança no perfil da dívida doméstica, muito curta e mais da metade corrigida pela Selic. Giacomelli entende que as esperadas emissões externas do governo em reais, num momento em que há apetite por títulos na moeda brasileira, podem servir de referência para um alongamento dos prazos da dívida interna, abrindo espaço para mais vendas de papéis prefixados.