Título: Boas perspectivas para as frutas brasileiras no Sudeste Asiático
Autor: Rosangela Capozoli
Fonte: Valor Econômico, 06/12/2004, Exportações, p. F4

As exportações de frutas frescas brasileiras não dependem mais tanto de novos mercados para crescer. O maior entrave de 2004 e que poderá frustrar as expectativas no próximo ano chama-se fator climático. A demanda externa continua firme e a lista de clientes não pára de aumentar. Os US$ 370 milhões projetados para 2004, acréscimo de 10% sobre o faturamento anterior, poderiam alcançar 25% não fossem as intempéries. Se a catástrofe não se repetir, a receita deverá bater na casa dos US$ 530 milhões em 2005. O Brasil é líder em exportações de mamão papaia e o 2.º maior em manga, perdendo apenas para a Índia. A lista de compradores, que em 2003 somou 38 países, passou para 50 neste ano e deverá atingir 60 países em 2005. "A demanda está forte e faltou produto para atender esses mercados. As exportações de maçã, por exemplo, aumentaram 100% sobre o ano passado", afirma Moacyr Saraiva Fernandes, presidente do Instituto Brasileiro de Frutas (Ibraf). As questões climáticas, como inundações ocorridas no Vale do São Francisco, onde se concentram as plantações de uva de mesa e manga, e em Linhares, no Espírito Santo, líder em mamão papaia, foram os fatores responsáveis pela queda na produção. "São frutas com alto índice de demanda no exterior", diz. Apesar de os produtores brasileiros não terem conseguido atingir a meta, encerram o ano otimistas. Um mercado cobiçado acaba de ser conquistado. Depois de mais de 20 anos correndo atrás do Japão para vender suas mangas tipo Tommy Atkins, o Brasil - terceiro maior produtor mundial de frutas frescas, com um volume de 35 milhões de toneladas por ano, perdendo apenas para a China e a Índia - fechou o primeiro embarque com aquele mercado e já tem data marcada para despachar a mercadoria: os primeiros dias do mês de janeiro. Só falta um último detalhe - definir o volume. Os exportadores, no entanto, trabalham com a previsão de 100 toneladas da fruta por semana. "Só a região de Petrolina, em Pernambuco, pode exportar mais de 15 mil toneladas por ano", prevê Saraiva Fernandes. Em 2003 o Brasil embarcou, principalmente para os Estados Unidos e União Européia, 128.431 toneladas de manga, faturando mais de US$ 70,9 milhões. O potencial brasileiro de exportação pode ser avaliado considerando-se que no ano passado foram produzidas 542 mil toneladas de mangas comerciais das variedades Tommy Atkins (85%), Haden (8%) e Keitt Kent (5%). Outra grande conquista virá com a entrada de Cingapura na lista de importadores de frutas brasileiras, aliás, um dos dez países que reafirmaram seu interesse em negociar com o Brasil nos próximos meses. "Cingapura é um importante entreposto comercial que reexporta para seus países vizinhos asiáticos cerca de 40% de suas frutas compradas no mercado externo", diz o presidente do Ibraf. Segundo ele, dentro de, no máximo, 60 dias os acordos com esses mercados estarão fechados. Se a briga com os japoneses foi longa por conta das questões fitossanitárias, hoje os exportadores contam com resoluções nas mãos e agilizam as vendas ao mercado externo. Segundo Saraiva Fernandes, as exigências para importação, como o Certificado Fitossanitário e a declaração de que as frutas estão livres da mosca do Mediterrâneo e são produzidas em área livre da "requeima das folhas da seringueira" (mycrocyclus ulei) não são mais barreiras para o país. A produção está localizada em regiões onde não existe a praga", argumenta. Mesmo ocupando lugar de destaque no ranking, o Brasil exporta apenas 2% da quantia produzida, que era menor ainda há seis anos, antes de o setor selar parceria, através do Instituto Brasileiro de Frutas (Ibraf), com a Apex. O apoio governamental trouxe um alívio para os produtores que criaram o projeto "Brazilian Fruit", que permitiu ao setor um crescimento de 127% no volume de embarques e de 102,4% na receita, entre 1998 e 2002. O projeto, que contemplava apenas quatro tipos de fruta - manga, melão uva e papaia - hoje cedeu lugar a mais de 30 espécies, desmistificando o Brasil como produtor apenas de frutas tropicais. Porém, as frutas mais requisitadas pelo mercado externo são manga, mamão papaia, melão, uva, banana prata, abacaxi branco e limão tahiti. O bom desempenho das exportações forçou o setor à quase dobrar os investimentos nas campanhas de divulgação lá fora. No biênio 2003/2004 foram desembolsados R$ 12 milhões para financiar as feiras no exterior, 50% do total foram bancados pela Apexe o restante pelo setor privado. Nos próximos dois anos o valor será de R$ 20 milhões. Os eventos internacionais do setor, que antes se restringiam à exposição em feiras, hoje buscam novos e fortes parceiros internacionais.