Título: FMI vê IPCA na meta em 2012
Autor: Ribeiro,Alex
Fonte: Valor Econômico, 21/09/2011, Finanças, p. C1

O Fundo Monetário Internacional (FMI) acredita que o Brasil vai cumprir o centro da meta de inflação em 2012, definido em 4,5%. Ontem, oficiais do organismo deram declarações favoráveis, ainda que cautelosas, às medidas de aperto na política fiscal e relaxamento da política monetária anunciadas pelo governo e Banco Central nas últimas semanas.

"A postura [fiscal] atual é apropriada", disse o consultor sênior do departamento fiscal do FMI, Philip Gerson. "Consideramos bem-vindo o aperto anunciado pelas autoridades para a meta fiscal deste ano, que vai ajudar a tirar pressão da política monetária."

Pelas projeções do FMI, a inflação ficará em exatos 4,5% nos 12 meses encerrados em dezembro de 2012, coincidindo com o percentual definido como centro da meta. O organismo está mais otimista que a média do mercado, que elevou a inflação projetada para o ano que vem depois que o BC fez um inesperado corte na taxa básica de juros. Hoje, o mercado projeta inflação de 5,5%.

Para este ano, a projeção do FMI é uma inflação de 6,3%, ainda dentro do intervalo de tolerância do regime de metas, que admite uma variação de até 6,5% no índice de preços ao consumidor. O PIB brasileiro deverá crescer 3,8% em 2011, abaixo dos 4,1% previstos pelo FMI há apenas três meses. Para 2012, a projeção ficou estável em 3,6%. Se confirmadas essas projeções, o Brasil irá crescer menos do que a média da economia mundial, cuja expansão é prevista em 4% pelo FMI para este e o próximo ano.

No relatório divulgado ontem, o FMI reviu sua recomendação para a política monetária dos países emergentes. Em relatório divulgado em abril, o organismo encorajava os países emergentes a apertar a política monetária para combater os riscos de superaquecimento.

Agora, diante das recentes turbulências na Europa e Estados Unidos, que podem comprometer o crescimento mundial, o FMI admite que alguns países podem suspender o aperto monetário e esperar para ver o que acontece no cenário internacional. Devem seguir com aperto monetário, afirma o FMI, apenas aos países que ainda estão sofrendo aceleração inflacionária, como o Vietnã.

"Muitos países talvez sofram uma desaceleração das exportações, uma queda na demanda externa, e por isso talvez sejam obrigadas a mudar a direção [da política monetária]", disse o economista-chefe do FMI, Olivier Blanchard. "Vai depender dos países, da situação das exportações, mas provavelmente vamos ver um movimento saindo do aperto para o afrouxamento [monetário]."

"No caso do Brasil, é muito claro que o BC colocou a ênfase nos riscos de queda no crescimento decorrentes do ambiente externo", afirmou afirmou Petya Koeva Brooks, funcionária que acompanha o Brasil no departamento de estudos econômicos mundiais do FMI. "Temos que esperar para ver quais serão os efeitos na demanda doméstica e inflação."

Ela ponderou, porém, que foi um sinal "encorajador" o fato de o Brasil ter, ao mesmo tempo, anunciado um aperto fiscal, com um aumento de R$ 10 bilhões na meta de superávit primário, "que deve ajudar a aliviar algumas dessas pressões inflacionárias". Ontem, o economista-chefe do Banco Mundial para a América Latina, Augusto de la Torre, disse que o "mix" brasileiro está na direção correta, ainda que haja dúvidas no Brasil, acrescentou, sobre a concretização da nova meta fiscal.

No relatório, o FMI indica que a economia brasileira já desacelerou. Um termômetro de crescimento mostra que, no segundo trimestre, o Brasil cresceu abaixo de seu potencial, e em desaceleração. O FMI dá três luzes amarelas e uma vermelha ao Brasil num conjunto de indicadores sobre a atividade doméstica, incluindo desemprego, hiato do produto e inflação. Em abril, eram quatro luzes vermelhas.