Título: Sob estresse, 13 instituições precisariam de capitalização
Autor: Izaguirre,Mônica
Fonte: Valor Econômico, 21/09/2011, Finanças, p. C8

O nível de capitalização do sistema bancário brasileiro caiu ligeiramente no primeiro semestre deste ano, mas continua suficientemente robusto para aguentar os mais catastróficos cenários simulados pelo Banco Central.

Mesmo se a crise global comprometesse o crescimento econômico, o emprego e a renda a ponto de quase quadruplicar a taxa média de inadimplência das operações de crédito, a grande maioria das instituições ficaria dentro do mínimo prudencial exigido. Somente os acionistas de treze instituições teriam que injetar capital extra para manter o Índice de Basileia em pelo menos 11%.

O diagnóstico foi apresentado ontem pelo Banco Central, no Relatório de Estabilidade Financeira relativo a junho deste ano. A edição anterior havia mostrado que, no fim de 2010, ano de forte crescimento da economia e do crédito, o Índice de Basileia médio, indicador de alavancagem, que mede a proporção do capital próprio em relação ao valor dos ativos ponderados pelos riscos, era de 17,1%.

Já o balanço de ontem exibiu um índice menor em junho, de 16,9%, ainda assim muito acima do mínimo de 11% exigido no Brasil e mais distante ainda do piso de 8% recomendado pelo acordo internacional de Basileia.

No teste de estresse que apontou necessidade de capitalização de treze bancos, de um total de 160, o BC considerou uma elevação da taxa média de inadimplência de 3,6% para 14%. Mesmo esses não quebrariam; só ficariam desenquadrados da norma. Quebra mesmo só se o percentual chegasse a 16%. O BC não informou quantos iriam a pique, nessa hipótese.

Mas eles representariam apenas 0,05% dos ativos do sistema, menos do que representava o Matone (0,07%), banco comprado pelo JBS.

Simulando um rebaixamento generalizado, de dois degraus, na escala de classificação de risco dos tomadores de crédito, o BC chegou a um resultado parecido. Só doze bancos teriam que convocar os acionistas a coçar os bolsos. Mas a participação deles nos ativos do sistema seria maior: 13,6%.

Os testes de estresse mostraram resistência também a riscos de mercado, mesmo em situações mais extremas. Segundo o diretor de Fiscalização do BC, Anthero de Moraes Meirelles, os cenários "exagerados" incluíram juros a 1% ao ano, taxa de câmbio a R$ 4,70 por dólar e queda real de 4,7% o Produto Interno Bruto. No pior desses quadros, apenas um banco, nada representativo, quebraria e os desenquadrados das regras de capital mínimo seriam 11% dos ativos do sistema.

O sistema também está robusto sob o ponto de vista da liquidez, segundo o BC. Contribuíram muito para isso as captações em Letras Financeiras, instrumento criado em 2009 justamente para fornecer uma fonte de captação mais estável e de mais longo prazo para os bancos. Com o estímulo da isenção do recolhimento compulsório sobre esses depósitos, o saldo das Letras Financeiras subiu expressivamente no semestre e alcançou R$ 91,6 bilhões.

O índice de liquidez, indicador criado e monitorado pelo BC, permaneceu alto, segundo Anthero, e acima do que era antes da crise de 2008, que afetou justamente a liquidez mundial. Houve ainda, no primeiro semestre de 2011, melhor distribuição da liquidez do sistema nacional, com mais bancos dentro de faixas mais altas do índice, acrescentou o diretor.

Os indicadores de rentabilidade também reforçaram o diagnóstico da autoridade monetária sobre a saúde e solidez do sistema. O lucro líquido alcançou R$ 59,7 bilhões medido em doze meses, representando rentabilidade de 17,7% sobre o patrimônio líquido do sistema.

Anthero de Moraes Meirelles destacou que houve aumento da dependência dos bancos em relação a captações externas. A participação de passivos internacionais no passivo total do sistema bancário passou de 5% em março de 2010 para 7,2% neste ano, mas está abaixo do que se observou na crise de 2008, em 10%.