Título: Cambiais têm maior ingresso de recursos em 11 meses
Autor: Luciana Monteiro
Fonte: Valor Econômico, 27/06/2006, Eu &, p. D2

A instabilidade dos mercados começa a atrair uma parte dos investidores para fundos cambiais. Apesar da tímida captação, de R$ 56 milhões no mês até o dia 22, esse é o maior volume que ingressa nas carteiras nos últimos 11 meses, quando em julho de 2005 ingressaram R$ 159 milhões na categoria. No ano, entretanto, as carteiras registram saídas de R$ 492 milhões. Após a instabilidade dos ativos verificada em maio, levando o dólar a bater R$ 2,40, em alta de 16,5% em 14 dias, a moeda americana perdeu o ímpeto e parece ter se estabilizado na casa dos R$ 2,25. No mês, até o dia 22, os cambias registram perda de 2,91%, segundo dados do do site Fortuna. No ano, a queda é de 1,86%.

Mesmo com toda a volatilidade dos ativos, os especialistas acreditam que o dólar tem pouca chance de dar grandes ganhos ao aplicador. Boletim Focus, divulgado pelo Banco Central, mostra as projeções do mercado para o dólar no fim do ano a R$ 2,25. Para dezembro de 2007, as estimativas ficaram estáveis, com a moeda americana em R$ 2,35.

Os fundos cambiais que apresentaram entradas de recursos foram principalmente os voltados para o varejo, diz Marcelo D'Agosto, sócio do Fortuna. "Aparentemente, há investidores em busca de proteção contra a oscilação do mercado, apesar de o movimento ainda ser pequeno."

A medida do Banco Central de permitir que os exportadores façam pagamentos sem transformar os dólares em reais favorece esse novo patamar da moeda americana, avalia Felipe Prata, sócio da Nest Investimentos. "Mas o termômetro do mercado será após a Copa do Mundo, quando as atenções se voltarão para as eleições", diz. Apesar de vislumbrar momentos de volatilidade, ele mantém a projeção de um dólar de R$ 2,20 a R$ 2,30 no fim do ano.

A melhora da bolsa de valores na semana passada trouxe recuperação para os fundos de ações. Entre os dias 14 e 22 de junho, os fundos de ações renderam, em média, 5,40% no período, acompanhando o principal indicador da bolsa brasileira, o Índice Bovespa, que teve alta de 4,18%. Os números ainda não levam em conta a alta do índice, de 1,01%, na sexta-feira. No mês, até o dia 22, a categoria ainda registra queda, de 5,83% para um Ibovespa com perda de 6,06%. No ano, os fundos de ações têm ganhos médios de 5,25%, frente aos 2,57% do referencial.

As carteiras compostas por papéis da Petrobras com recursos próprios - as formadas por recursos do FGTS não recebem mais aplicações -apresentam perdas de 10,04% no mês, mas retorno de 10,08% no ano, até o dia 22. Já os fundos da Vale do Rio Doce registram queda de 7,09% no mês e, no ano, ganham 3,14%.

Com relação aos multimercados, os investidores têm mantido a calma e ainda não se vê resgates na categoria, apesar da volatilidade das cotas. Dados do Fortuna mostram que, no mês, há resgates de R$ 676 milhões até o dia 22. D'Agosto, diz, no entanto, que a saída de recursos foi puxada por um fundo do Citibank voltado para investidores estrangeiros. Entre os gestores independentes (considerando casos em que o gestor e o distribuidor exclusivo não fazem parte do mesmo grupo), houve captação de R$ 14 milhões no mês. "O ingresso de recursos está estável, o que mostra que não está havendo saques, mas parou de entrar dinheiro novo", diz D'Agosto. O investidor colocou o pé no freio diante da instabilidade do mercado, diz Prata, da Nest. Segundo ele, os investidores se mostram interessados, mas têm optado por esperar para ver uma tendência mais clara do mercado antes de fazer aplicações. No mês, a categoria tem ganho médio de 0,75% abaixo dos 0,84% do CDI, até o dia 22. No ano, o retorno é de 7,23%, frente um CDI de 7,40%.

Na renda fixa, os fundos que podem comprar papéis prefixados tem rendimento de 0,84% no mês e de 7,14% no ano, superando os DIs, apesar das perdas provocadas pela turbulência em maio. Os DIs apresentam no mês ganho de 0,80% e, no ano, de 7,07%. Os curto prazo rendem 0,73% em junho, até o dia 22, e 6,41% no acumulado do ano.