Título: Retração do spread ajudou juro a cair
Autor: Mônica Izaguirre
Fonte: Valor Econômico, 27/06/2006, Finanças, p. C1

A flexibilização da política monetária, a partir de setembro de 2005, não respondeu sozinha pela queda da taxa média praticada pelos bancos nas concessões de empréstimos e financiamentos a pessoas físicas. Depois que o Banco Central deu início a sucessivos cortes da Selic, essa média caiu seis pontos percentuais até maio de 2006, mês em que situou-se em 56,1% ao ano, o menor patamar desde o início da apuração da série, em julho de 1994. Só metade dessa variação, no entanto, se explica pelo impacto que a redução da Selic causou no custo de captação das instituições financeiras. A outra metade foi redução de "spread" bancário.

Em setembro, quando a taxa básica de juros caiu pela primeira vez em 17 meses, saindo de 19,75% para 19,5% ao ano, os bancos estavam pagando em média 18% ao ano para captar recursos junto à clientela de pessoas físicas. Esse custo foi caindo paulatinamente, chegando a 15% ao ano em maio último. Além de ter repassado integralmente a queda do custo ao tomador final, o sistema financeiro reduziu sua margem. A diferença entre taxa média de aplicação e a de captação (spread) caiu de 44,1 para 41,1 pontos percentuais no mesmo período.

Os números foram divulgados ontem pelo Departamento Econômico do Banco Central (Depec). Conforme Altamir Lopes, chefe da unidade, a queda da margem dos bancos ocorreu, em parte, por causa do aumento da participação do crédito consignado - aquele cuja prestação é descontada diretamente no salário e repassada ao banco pelo empregador - no estoque de operações.

Em relação ao total de operações de crédito pessoal tomado como referência pelo BC para aferição dos juros, os empréstimos para desconto em folha representavam 44,8% em setembro de 2005. Até maio de 2006, a participação deles subiu para 48,8% (R$ 39,3 bilhões).

O BC calcula o juro médio das operações com pessoas físicas levando em conta a taxa de cada modalidade ponderada pelo volume. Por envolver menos risco, o consignado é mais barato que as outras linhas. Então, quando o volume desses empréstimos cresce em ritmo maior que o dos outros, isso se reflete na taxa média, explica Altamir Lopes.

Os juros da própria modalidade até caíram, mas não expressivamente. De setembro a maio, recuaram só 0,2 ponto percentual, para 36,8% ao ano. Já nas demais linhas de crédito pessoal, a taxa final caiu expressivamente, saindo de 86,4% para 76,8% ao ano em oito meses. A queda foi acentuada especialmente em maio, pois em abril a taxa estava em 83% ao ano.

Altamir Lopes acredita que um dos fatores que influenciou tal comportamento foi o maior interesse dos bancos, nos último meses, pelo crédito ao consumidor com interveniência de lojistas (CDCI). "Como essas carteiras são boas, com baixo risco, as instituições podem praticar taxas menores ", diz o chefe do Depec, referindo-se às carteiras adquiridas em função de parceria de instituições bancárias com grandes redes de lojas e supermercados.

O Banco Central não mede o spread bancário especificamente para crédito consignado. Mede só a taxa média final. Mas nas linhas de crédito pessoal como um todo, onde se inclui a modalidade de desconto em folha, a diferença entre taxas de captação e aplicação caiu sensivelmente. Excluindo o cheque especial, a diferença reduziu-se de 52,5 para 47,3 pontos percentuais, quando comparados números de setembro de 2005 e de maio de 2006.

O spread do cheque especial até subiu um pouco no mesmo período, saindo de 130,5 para 130,8 pontos percentuais. O spread dos financiamentos de veículo para a clientela de pessoas físicas, por sua vez, apesar de ter oscilado, chegou a maio em 18,2 pontos percentuais, o mesmo patamar de setembro.

O Banco Central constatou queda do spread médio das operações com pessoas físicas apesar do ligeiro aumento da inadimplência. A taxa de inadimplência, nesse segmento da clientela, saiu de 6,5% para 7,6%, de setembro a maio. Altamir Lopes avalia, porém, que tal variação não é motivo para maiores preocupações. Na sua opinião, isso é normal, diante da forte expansão do volume de crédito.

Tomando só operações usadas como referência para acompanhamento de taxas de juros, o estoque de crédito a pessoas físicas subiu de R$ 148,7 bilhões para R$ 175,9 bilhões no mesmo período. Só em 2006, o volume cresceu 13,3%.

Pela mesma razão, conforme Lopes, cresceu também a inadimplência entre a clientela de pessoas jurídicas. A taxa, que era de 2% em setembro de 2005, alcançou 2,4% em maio de 2006. No mesmo período, o volume de crédito concedido nesse segmento aumentou de R$ 174,7 bilhões para R$ 198 bilhões, se consideradas apenas as operações referenciais para taxas de juros.

Lopes cita ainda outro motivo para crescimento da taxa de inadimplência entre pessoas jurídicas. Segundo ele, como as grandes empresas estão partindo para outras formas de captação de recursos, como venda de ações e lançamento de debêntures, a participação relativa das médias e pequenas no estoque de operações de crédito dos bancos tem aumentado.

Essa é também, segundo Altamir, a explicação para o fato de o recuo do spread ter sido inexpressivo para essa clientela. A margem dos bancos nas operações com empresas, que era de 14,1 pontos percentuais em setembro de 2005, caiu só 0,1 ponto até maio desse ano. A taxa média final caiu mais, saindo de 33,3% para 29,7% no mesmo período. Diferente do que ocorreu para pessoas físicas, porém, no caso das pessoas jurídicas, a queda dos juros é quase toda explicada pela redução no custo de captação dos bancos.